O Autoclismo é um trio instrumental formado em Teresina no ano de 2018 com influência de rock alternativo, hardcore e nuances experimentais.
O trio piauiense lançou recentemente o single “Page” em todas as plataformas de streaming via Electric Funeral Records. Apostando em um som pesado, a nova faixa apresenta riffs marcantes de guitarra e baixo, é uma bateria muito bem executada, com quebras de dinâmica no momento exato.
Lucas Barbosa, guitarrista do power-trio, aposta em um som pesado e cheio de riffs marcantes, agregando qualidade e originalidade ao som da banda.
Conversamos com o músico sobre sua trajetória na banda, backline, influências musicais, entre outras curiosidades. Confira!
Você e o Autoclismo apresentam uma sintonia e criatividade fora do comum. Como que funciona a parceria de vocês como músico e amigos dentro do projeto? Como começou essa parceria?
Então, a banda começou em 2018, quando a Vulgo Garbus, projeto instrumental de stoner que o Fernando (baixo) tocava acabou. Eu também estava sem banda e fiz o convite pra começarmos um novo projeto. Ele aceitou, recrutamos o Jarrel e estamos aí. Conheço ambos há pelo menos 8 anos. Na época, Fernando tocava no Deguella (banda de metal daqui), até onde lembro, e o Jarrel tocava em uma banda punk chamada Vermes Inuteiz. Por conta da amizade, a sintonia na banda é muito forte, e a nossa principal regra é não seguir regra nenhuma. A experimentação é nosso carro chefe.
Dentro do cenário do rock alternativo brasileiro você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção ultimamente?
Sim, eu tô sempre acompanhando o underground nacional, garimpando coisas novas. Minha mais nova descoberta é o power trio Maddiba, lá de Santo André-SP. É um som meio Beastie Boys com Biohazard, passando por Suicidal Tendencies. Muito bom. De banda gringa, tenho ouvido muito o SLIFT, um power trio de rock instrumental e bastante experimental lá da França. Muito noise, delay, influências claras de stoner. Enfim, é um negócio incrível. É uma banda que já tem uma certa estrada, mas pra mim é novidade. Até dois meses atrás eu não conhecia.
Que dica você daria a músicos brasileiros da cena, que tem medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
A minha dica é a mesma pra qualquer músico, seja ele amador ou profissional: ouça muita música, de diferentes estilos, e seja curioso. A curiosidade já me fez criar muita coisa legal. Sempre observo outros músicos tocando e tento entender o que eles estão fazendo, como estão fazendo, justamente pra ter mais bagagem e influências pra aplicar nas minhas músicas. A música não é uma fórmula. Obviamente tem a ver com técnica também, mas curiosidade e experimentação são o principal chamariz, pelo menos pra mim.
Qual modelo e marca de guitarra, cordas e amplificador você usa? Conta pra gente a relação de amor com seu instrumento.
Então, minha guitarra é uma Ibanez S470, de fabricação japonesa e tal. Se não me engano, o Herman Li do Dragonforce usa uma dessas. É uma guitarra bem metal. Cordas eu gostomuito das D’Addario e principalmente as da Elixir. Uso 011 pra garantir um timbre mais pesado e durabilidade, o que é importante, já que toco com força (risos). Então ter cordas que aguentem o tranco é fundamental. Amplificador eu não tenho e no momento estou usando plugins e simulações. Gosto muito dos Mesa Boogie por conta dos timbres mais quentes e pesados. São amplificadores incríveis. Ligou, o timbre tá praticamente pronto. Gravei “Page” em um Dual Rectifier que consegui emprestado e me apaixonei mais ainda. Pra shows, como não tenho amplificador e nunca fui adepto de exigir nada, eu toco com o que a casa oferece. Até porque no meu set de pedais eu tenho um distortion handmade que simula o Peavey 5150. Ele me garante um timbre sempre excelente e pesado. Estou sempre experimentando timbres, efeitos, etc. É uma relação de extrema curiosidade com o instrumento, de sempre procurar aprender uma coisa nova.
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior guitarrista e frontman de todos os tempos?
Eu tenho muitas influências, é até difícil falar qual a maior delas. Minha escola é o hardcore/punk. Bad Brains, Pennywise, Black Flag, Minor Threat, Dead Kennedys, Bad Religion, etc. Se eu não tivesse ouvido essas bandas, nem tocaria guitarra hoje em dia. Mas tem muito mais coisa fora disso, tipo Black Sabbath, Fu Manchu, Anthrax, Toe, enfim. É muita coisa.
Quanto ao maior guitarrista e frontman de todos os tempos, é covardia ter que escolher só um (risos), mas vamos lá: Jimi Hendrix. O cara foi um divisor de águas na música em geral. Era um gênio. Criou muita coisa que se usa até hoje. Explorou dissonâncias, desafinação, microfonia, tudo a favor da música dele. Então…Hendrix.
Suas linhas de guitarra demonstram um combinação de técnica e criatividade. VocêVocê sempre compõe e cria as músicas pensando de forma analítica ou elas acabam saindo naturalmente desse jeito?
Minhas composições saem muito naturalmente. Sempre pego a guitarra e fico tocando algumas ideias e quando sai algo que me agrade, trabalho em cima daquilo. Muitas vezes crio uma parte, envio pro Fernando e pro Jarrel e eles desenvolvem o resto. A gente compõe muito em conjunto, raramente alguém chega com uma música toda pronta. É tudo discutido e extremamente colaborativo. Nossas músicas têm a cara dos três.
Como a música surgiu em sua vida?
Eu sempre fui muito interessado por música. Nasci numa cidade do sertão maranhense chamada Buriti Bravo, e na infância eu via meu pai tocando. Teve banda de reggae, de forró, tocou MPB, enfim…tocou de tudo. E isso despertou meu interesse pra música, mesmo que por outras vertentes. Aos 14 anos ganhei meu primeiro violão, fiz duas semanas de aula e parei. O resto aprendi sozinho, completamente autodidata. Minha primeira guitarra era um verdadeiro berimbau, nem afinava direito (risos). Uma strato destra que eu inverti as cordas porque sou canhoto. Ali aprendi muito do que sei hoje.
Qual foi o melhor momento dentro da sua trajetória com a banda? Conta pra gente.
A gente já fez muita coisa legal nesses dois anos, mas um dos meus momentos preferidos foi o show que fizemos com o Rakta, de São Paulo. Foi um show muito legal, num festival daqui, o Marthe. De alguma forma, aquele show ficou marcado pra mim. Também gosto muito de gravar, então estar nos estúdio com os caras gravando, dando forma às nossas ideias, é algo extremamente divertido. Não tem estresse.
Qual é a sua faixa favorita da banda?
Plastic Free Ocean, sem dúvida nenhuma. Gosto da forma como ela foi feita: o Fernando chegou com o riff principal e trabalhamos o resto. Ela é meio stoner com uns riffs de black metal e um solão meio rock n’ roll e tal, bem cru. Acho essa música extremamente visceral.
Quais os planos para 2020? Alguma previsão de lançar material inédito?
Então, a gente tá em pré-produção de um novo EP. Estamos fazendo de casa por enquanto, já que a pandemia ainda nos impede de estar em estúdio gravando. Mas queremos lançar algo ainda esse ano, zerar umas composições que temos desde o começo da banda, mas que nunca foram gravadas. É um material bem massa, com uma sonoridade bastante variada. Indo do punk ao metal, passando por stoner e várias outras vertentes.
Confira ‘Page’: https://www.youtube.com/watch?v=iyMrPF1AQfM