O álbum é iniciado de uma forma marcante. Não que seja impulsivo, dramático ou violento, mas o andamento rítmico efetuado pela bateria, ainda que amaciado, traz consigo uma sujeira proeminente do reverberar do som de seu chimbal bem aberto. É esse detalhe que permite, ao restante instrumental, seu brilho. A partir daí, a guitarra solo invade o cenário por entre uivos agonizantes e o baixo, por sua vez, domina a base melódica com pulsos precisos e graves. Embebida em distorção, de forma a criar um ecossistema de textura ácida, Watch The World consegue ser, ao mesmo tempo, uma faixa sombria, sensual e provocativa.
Explorando um contexto interessantemente mais melódico, a guitarra promove um vislumbre hard rock em meio à sua estrutura. Fluindo para uma segunda etapa introdutória ritmicamente pulsante e melodicamente ondulante, a faixa acaba conquistando um contágio que lhe confere uma postura mais comercial. Quando o enredo lírico se inicia e o ouvinte, uma vez mais, tem acesso ao timbre suave e fresco do vocalista, Downward acaba se deleitando por uma paisagem sônica mais intimista e levemente soturna que, curiosamente, rememora o estilo sonoro do Nirvana.
Desde seu início imediato, a composição propõe uma mistura equilibrada entre delicadeza, introspecção e melancolia. Serena em certos aspectos diante da desenvoltura solitária da guitarra, Fading Grey destaca a existência de brisas melancólicas capazes de se tornarem amplamente pungentes e pegajosas. Oferecendo uma familiaridade estético-estrutural para com a paisagem sônica de One, single do Metallica, a presente composição tem total capacidade de manter o ouvinte em um estado latente de torpor durante toda a sua execução.
Reencontrando o bruto, o áspero e o impulsivo, a canção que se inicia tem, novamente na guitarra, o elemento que carrega a alma de sua experiência sensorial. Raivosa, cínica e provocante no sentido de rebeldia, ela se mostra por entre cenhos tão sisudos que são capazes de evidenciar diversas rugas pela sua face. Ritmicamente pulsante e explosiva, a faixa se mantém na zona de conforto relacionada às texturas da aspereza e do impulso intenso. Depositando bons destaques às frases do baixo de forma a evidenciar a consistência e a precisão de sua sonoridade, Losing Insight alcança patamares tão soturnos quanto aqueles de Downward.
É chegada aquela canção com caráter de balada. Com uma melodia unilateral introspectiva e delicada, a guitarra sugere lapsos de uma melancolia que, aqui, é percebida de maneira tocante e não mais apenas pelo seu lado triste. Delicada e dramática em sua máxima essência, a faixa acaba explorando nuances de suspense conforme a bateria vai se apropriando do ritmo e a própria guitarra passa a adotar uma sonoridade mais azeda. Densamente sombria, Mistaken mantém o ouvinte sedado em morfina até o momento em que explode em seu refrão. Nele, a faixa exorta texturas rascantes que se adequam à paisagem sônica muito bem adaptada pelo Alice In Chains.

Como um álbum de estreia, Everything, Eventually é um produto cheio de atitude. Uma atitude construída de forma equilibrada em sonoridade e intensa em emoção. Afinal, durante toda a execução do material o ouvinte lida com uma potência envolta em aspereza, intensidade, agressividade e, também, com boas doses de melancolia e drama.
Uma coisa que chama a atenção no material é que ele dá bastante destaque às linhas de baixo, favorecendo a percepção de densidade e consistência sonora. É também nesse aspecto que o Ruination, muito sabiamente, pontuou os nomes que influenciaram na construção de sua sonoridade. Citando Metallica, Nirvana e Alice In Chains, o disco mistura bem o ríspido com o soturno, detalhes bem observados especialmente durante as cinco primeiras obras da track list.
Ainda assim, Everything Eventually apresenta a sintetização dessas influências na criação de um som próprio que combina a intensidade e o torpor de maneira bastante equilibrada. Não é à toa que o ouvinte sente o sangue ferver e o suor escorrer ao mesmo tempo em que é capturado por uma introspecção latente e pegajosa. Aqui, portanto, é onde dois mundos se encontram: o dramático e o agressivo.
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