O guitarrista Sergey Mavrin seguia seu caminho dando início a sua banda solo Mavrick enquanto o Aria assinava um novo contrato com a gravadora Moroz Records, que tratou logo de relançar os cinco primeiros full-lengths, inclusive os dois primeiros que haviam saído de forma independente. As buscas por um novo vocalista se encerraram quando chegaram em Alexey Bulgakov, vocalista da banda pioneira do Metal russo Legion. Ele ainda gravou duas demos do que viria a ser o novo álbum de estúdio do Aria, “Noch’ Koroche Dnya” (A Noite É Mais Curta Que O Dia), quando uma ação da gravadora Moroz Records causou uma reviravolta no cargo do microfone do Aria.

A gravadora convenceu a banda de que o próximo álbum de estúdio não seria bem sucedido sem a presença de Kipelov nos vocais. Assim, Bulgakov foi dispensado, enquanto banda e gravadora usaram de suas armas para trazer de volta o pródigo vocalista. A Moroz Records notificou o cantor, ameaçando mover sanções contra ele por quebra de contrato. Kipelov concordou então em gravar o álbum “Noch’ Koroche Dnya”. Em estúdio, a relação entre o cantor e os demais músicos pareceu voltar aos bons tempos. Após uma reunião entre Kipelov e Holstinin, onde este ofereceu uma nova proposta financeira, Kipelov voltou oficialmente ao posto que o consagrou.

 

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Kipelov: bons momentos e dinheiro era o que ele queria

Mais tarde, Kipelov declarou que não havia se tornado oficialmente o vocalista do Master, e que suas participações na banda de Alik Granovsky foram puramente por necessidades financeiras. Neste período fora do Aria, ele e Sergey Mavrin chegaram a fundar uma banda cover para tocar, dentre outros atos, Black Sabbath e Slade.

Falando em Sergey Mavrin, o seu substituto passou ser o guitarrista Sergey Terentiev, que inicialmente fora contratado para gravar guitarras em “Noch Koroche Dnya”, sendo depois efetivado como guitarrista oficial ao lado do fundador Holstinin. “Noch Koroche Dnya” foi lançado finalmente em 1995 pela Moroz Records. Um grande álbum, com um porém. É praticamente uma cópia de “Fear Of The Dark”, do Iron Maiden.

Infelizmente tenho que citar isto, mas a timbragens dos instrumentos e a estrutura das músicas é idêntica. Cagado e cuspido, como se diz no Ceará. Avalie a performance do baterista Alexsander Manyakin e tente não lembrar dos timbres de Nicko McBrain. Tente ouvir a faixa dois, “Paranoia”, sem lembrar de “Afraid To Shoot Strangers”. A faixa três, “Angelskaya Pyl”, é uma cópia bastante melhorada de “Wasting Love”, onde Kipelov entrega uma das melhores performances de sua carreira. Proponho um desafio: relacione cada música deste álbum ao seu correspondente em “Fear Of The Dark”. A faixa-título é o grande destaque do álbum, uma música que se tornou clássico instantâneo.

 

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Da turnê de apoio a “Noch Koroche Dnya”, saiu o primeiro álbum ao vivo do Aria, “Sdelano V Rossii” (Feito Na Rússia), onde a banda mostra que mais uma vez as dificuldades foram superadas e que ela estava em plena forma. O trabalho ao vivo imediatamente saltou para o primeiro lugar das paradas russas.

 

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Terentiev: a difícil missão de substituir Sergey Mavrin

O ano de 1997 foi um ano sabático para o Aria. Férias e Heavy Metal, então temos projetos paralelos. O irrequieto Kipelov uniu forças com dois ex-Aria, o guitarista Sergey Mavrin e o baixista Alik Granovsky e deram o pontapé para o projeto Kipelov/Mavrin, lançando o mediano “Smutnoye Vremya” (Tempo De Problemas, um nome bastante sugestivo). Já Dubinin e Holstinin criaram o projeto “AvAria”, onde os dois regravaram músicas do Aria em versões acústicas, com Dubinin fazendo os vocais. Curiosamente, os dois projetos foram gravados quase que simultaneamente, com Kipelov e Dubinin compartilhando o mesmo estúdio. Coisas que acontecem na Rússia.

Em 1998 o Aria volta a se reunir para compor e gravar o sétimo full-length da banda, “Generator Zla” (Criador Do Mal). Neste álbum a banda aposta em uma abordagem um pouco mais crua e direta, diferentemente dos álbuns antecessores cheios de passagens mais complexas e progressivas. Destaques vão para “Gryaz” (Sujeira, composição de Sergey Terentiev) e “Obman” (Decepção). A turnê que se seguiu teve o desfalque do baterista Alexsander Manyakin, que machucou a mão fortemente com um martelo. No seu lugar foi o velho conhecido Maxim Udalov, o baterista do álbum “Geroy Asfalta”.

 

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Seguindo o bom ritmo de lançamentos, em 1999 a banda lança de forma independente um trabalho diferente: o EP “Tribute To Harley-Davidson”, o primeiro registro da banda com título em inglês. Mas, como rege a tradição, as letras aparecem em russo. Neste álbum a banda regrava o clássico do Manowar “Return Of The Warlord” e também deram a sua versão para a música “Going To The Run”, da banda de Rock holandesa Golden Earring. Além disso, regravaram a música “Geroy Asfalta”. No mesmo ano lançam a coletânea “2000 i odna noch” (2000 E Uma Noites), que apresenta regravações de várias músicas da carreira da banda, a maioria delas baladas.

 

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Em pé: Terentiev, Manyakin e Holstinin. Agachados: Kipelov e Dubinin

Passado o esperado e tétrico “Bug do Milênio”, o Aria lança seu oitavo full-length, “Chimera”. Um grande trabalho e bastante variado, superando e muito o antecessor “Generator Zla”. O álbum larga com a veloz faixa-título, passa pelo Hard Rock de “Nebo Tebya Naydot” (O Céu Te Encontrará, com direito a talk-box de Holstinin), faz uma curva no gótico (!) de “Vampir”, acelera na maideniana “Goryashchaya Strela” (Seta Ardente) e chega na mais bela balada já composta por Vitaly Dubinin para o Aria, “Oskolok Lda” (Pedaço De Gelo). Realmente emocionante. Outro destaque vai para a faixa “Shtil” (Silêncio), que possui uma versão com a participação do vocalista Udo Dirkschneider.

 

https://www.youtube.com/watch?v=nqturvMu8DY

A turnê que se seguiu contou com algumas datas especiais, como por exemplo, quando foram headliners no festival NASHEstvie, um dos maiores festivais de música da Rússia, contando com a participação de uma orquestra sinfônica. Foram gravados vários shows com esta estrutura, que seriam lançados em um álbum ao vivo, projeto esse que nunca saiu da gaveta. Pois uma das maiores hecatombes da história do Aria estava para acontecer.

 

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Na turnê de “Chimera”

Valery Kipelov estava novamente insatisfeito com o modo que a banda estava sendo gerida, e se recusou a gravar o próximo álbum de estúdio, já todo composto por Dubinin e Holstinin. Em seguida, anunciou publicamente suas intenções de deixar o Aria de uma vez por todas e dar início a sua carreira solo. Mas, assim como aconteceu quando Alik Granovsky deixou o Aria em 1986 levando dois terços da banda junto, Kipelov levaria consigo a maior parte da banda.

O guitarrista Sergey Terentiev e o baterista de longa data Alexsander Manyakin também anunciaram suas satisfações e seus apoios a Kipelov, deixando sozinhos os amigos de faculdade de Engenharia Elétrica e chefões do Aria. O concerto do dia 31 de agosto de 2002, na mítica arena Luzhniki, em Moscou foi o último com esta formação, e ficou conhecido como “Dia do Julgamento”. No dia subsequente, Kipelov, Terentiev e Manyakin anunciaram oficialmente a debandada do Aria e a fundação de uma nova banda, batizada simplesmente de Kipelov.

Vendo o mesmo desastre de 1986 se repetir em seu projeto de vida, Holstinin tinha agora o amigo Dubinin ao seu lado para ajudar a, mais uma vez, reerguer a fênix. Os dois recorreram a velhos conhecidos para esta tão difícil missão.

 

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Dubinin e Holstinin tinham que ressuscitar a fênix