Em 3 de novembro de 1993, o ANGRA lançava seu debut: e mais do que uma simples estreia, emergia aquela que é considerada a segunda maior banda brasileira de Heavy Metal da história, atrás apenas do SEPULTURA.
O disco marcava o retorno da lenda Andre Matos à cena. Ele que sairia do VIPER anos antes para se dedicar à faculdade, voltou muitíssimo bem acompanhado dos guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, além do baixista Luis Mariutti.
A banda viajou até a Alemanha, onde entre julho e agosto de 1993, gravou o homenageado de hoje em dois estúdios: “Kai Hansen Studios” e “Horus Sound Studio“, ambos localizados na cidade de Hamburgo a produção ficou a cargo de Charlie Bauerfeind e Sascha Paeth. A bolacha saiu pela gravadora JVC.
O baterista alemão Alex Howlzarth gravou o álbum, à exceção da música “Huthering Heights“, que foi gravada por Thomas Nack. Aliás, a bateria foi uma das controvérsias do álbum: o produtor Charlie Bauerfeind exigiu a demissão do baterista original, Marcos Antunes. As opções que o produtor deu à banda eram: demitir Marcos e contratar Alex para gravar o álbum; demitir Marcos e usar bateria eletrônica; não demitir Marcos e Charlie se retiraria do projeto. Tudo isso porque o produtor não confiava nas capacidades do rapaz atrás do seu kit de bateria. Após a gravação, Ricardo Confessori entraria para a banda.
Resolvido o problema, “Angels Cry” foi concebido e vamos destrinchar faixa por faixa deste álbum que nasceu clássico: “Unfinished Allegro” é uma intro que serve de ponte para o maior clássico da história do Angra, “Carry On“, uma música em que mostra que o ANGRA chegou chegando, com peso e melodia. Essa música é perfeita e mostra Andre Matos em grande forma. Talvez essa seja a música em que o vocalista alcançou seu tom mais alto em seu agudo. Maravilhosa.
“Time” é um som com uma pegada mais Hard, embora ela comece como se fosse uma balada. É uma das minhas favoritas deste play.
Temos a faixa título em que temos um pouco de tudo: Speed Metal, melodia, riffs mais pesados e até mesmo uma parte em que a banda apresenta um breve arranjo de “Caprice no. 24“, de Paganini. Excelente.
“Stand Away” é uma balada muito bem composta, em que temos uma bela orquestração que começam a partir do seu refrão. Sem falar nos agudos maravilhosos de um Andre Matos, em ótima fase.
“Never Understand” começa com o baião de Luiz Gonzaga, mostrando que a banda não seria apenas mais uma a tocar Heavy Metal Melódico. O forrozeiro cearense é homenageado com um pedaço da música “Asa Branca” sendo tocado em uma bela introdução no violão. A música se desenvolve com muita melodia. Excelente combinação.
“Wuthering Heights” é um improvável cover, da cantora Kate Bush e a versão ficou ótima. Com Andre Matos interpretando de forma esplêndida uma música um tanto quanto melancólica.
“Streets of Tomorrow” mantém a pegada melódica em uma música que se destaca por bons riffs, enquanto que “Evil Warning” tem os dois pés no Speed Metal, com direito a uma breve passagem de “Winter“, de Vivaldi. Duas músicas muito boas .
A bolacha se encerra com a lenta e até certo ponto com boa dose de melancolia: “Last Child“, que é dividida em duas partes: “The Parting Words” e “Renaisssance“, que contam com excelentes linhas orquestrais.
Dez músicas em uma hora de play que nos presenteou com uma banda que trilharia os caminhos que o SEPULTURA fez e mesmo com uma sonoridade completamente diferente dos pioneiros, uma coisa em comum entre elas: ambas inseririam elementos da música brasileira, muito embora os músicos do ANGRA fossem mais técnicos do que os do mineiros. Era uma banda nova surgindo e até hoje os caras mantém vivo esse legado maravilhoso.
A minha relação com este álbum: eu não gostava de Metal, muito menos de Metal Melódico quando este álbum foi concebido, então eu via com olhos tortos na época. Somente anos depois, sob a influência de um grande amigo, eu fui me libertando de certos preconceitos e comecei a curtir o ANGRA a partir do álbum “Fireworks” e fui descendo até chegar em “Angels Cry“. Hoje eu acho este álbum um marco e a minha única objeção a ele é sua produção, que poderia ser infinitamente melhor, como prova o disco posterior, o também excelente “Holy Land“.
Hoje é dia de celebrar esta estreia, que colocava de fato, o Brasil como um dos expoentes da música pesada. E mesmo que hoje em dia só reste o guitarrista Rafael Bittencourt da formação original, desejamos longa vida ao ANGRA.
Lineup:
Andre Matos – Vocal/Teclado
Kiko Koureiro – Guitarra
Rafael Bittencourt – Guitarra
Luis Mariutti – Baixo
Alex Holzwarth – Bateria (exceto faixa 7)
Thomas Nack – Bateria (faixa 7)
Tracklisting:
01 – Unfinished Allegro
02 – Carry On
03 – Time
04 – Angels Cry
05 – Stand Away
06 – Never Understand
07 – Wuthering Heights
08 – Streets of Tomorrow
09 – Evil Warning
10 – Last Child
I – The Parting Words
II – Renaissance