Há quem defenda que as massas consumidoras de música adoram seguir novas tendências. Em parte procede, e a sobrevida dessas tendências depende, por vezes, mais da qualidade da música do que da sazonalidade dos seguidores de ocasião.
Lá no começo dos anos 90, a tendência era o Rock de Seattle, e é desnecessário dizer que nem todas as bandas que foram reveladas pela onda sobreviveram. Foram fatores tão diversos quanto são diversos os status das que permaneceram, mas é indiscutível que havia qualidade – e muita – mesmo que ainda haja aqueles que torcem o nariz na direção apontada para seus radicalismos.
Consideremos, então, o Alice In Chains. Ao conhecer o som da banda, o ouvinte mais atento poderá aferir que, colocá-los em um balaio comum com as demais bandas, apenas pelo fato de serem da mesma região, é no mínimo uma demonstração de preguiça cultural. Se o clima na cidade favorecia a ocorrência de chuvas, o Alice In Chains era a banda mais inclinada a coincidir sua sonoridade com o tom de cinza que o céu de Seattle ostentava.
Sombrio, lento, obscuro e trazendo no bolso uma coleção de letras que falavam de drogas, depressão e morte. O intuito original não era bem esse. Tanto o guitarrista Jerry Cantrell, quanto o vocalista Layne Staley, estavam envolvidos com o Glam Metal, embora a ideia de Staley tivesse alguma originalidade, pois envolvia fazer Thrash Metal, apresentando-se com visual glam. Quando a banda de Jerry acabou, ele conheceu o baterista Sean Kinney e mostrou-lhe algumas demos. O baixista Mike Starr veio na sequência e o trio convidou Staley, que já era conhecido de Cantrell, para o vocal.
Esses fatos remontam à 1987. Até a gravação de “Facelift”, que saiu no dia 21 de agosto de 1990, véspera do aniversário de 23 anos de Layne, a banda pôde moldar sua sonoridade e aperfeiçoar aquela que é uma de suas características mais marcantes: os duos de vocal entre Staley e Cantrell, com seus timbres combinando-se de uma forma quase siamesa. A sensibilidade de um, intercalada com a criatividade do outro (faça você mesmo a alusão de cada qual), complementadas pela mão pesada de Kinney e o senso melódico de Starr, geraram esse álbum que teve quatro singles, chegou aos pontos altos das paradas e é influente até os dias atuais.
Abrindo com a levada massiva de “We Die Young”, seguida do megassucesso “Man In The Box”, o disco passeia por climas incômodos e, por um breve momento, ameaça transmitir alguma alegria, como nas notas introdutórias de “I Know Somethin (Bout You)”. Seu ponto culminante, porém, está nos seis minutos e meio de “Love, Hate, Love”, com um final tão escuro e claustrofóbico quanto o fundo de um poço.
Talvez a vida não precisasse seguir, tão à risca, a regra de ter que imitar a arte, e a história do Alice In Chains poderia ter sido outra, mas apesar dos revezes, a carreira do quarteto foi – e permanece – como um exemplo de fidelidade às suas propostas. O Alice In Chains de hoje mantém o legado que foi criado em seus primeiros anos. A palavra “facelift” pode ser traduzida como algo do tipo “mudança de face”. Contraditoriamente, é algo pelo qual a banda não passou desde seu primeiro disco.
Facelift – Alice In Chains
Data de Lançamento: 21/08/1990
Gravadora: Columbia
Tracklist:
01 We Die Young
02 Man in the Box
03 Sea of Sorrow
04 Bleed the Freak
05 I Can’t Remember
06 Love, Hate, Love
07 It Ain’t Like That
08 Sunshine
09 Put You Down
10 Confusion
11 I Know Somethin (Bout You)
12 Real Thing
Formação:
Layne Staley – vocal
Jerry Cantrell – guitarra, backing vocals
Mike Starr – baixo
Sean Kinney – bateria