Pouco mais de seis meses, após o lançamento de “Highway to Hell”, Bon Scott morreria.

O ápice e o fundo do poço separados por uma parcela de tempo quase instantânea. Impossível não retornar para o inevitável exercício de imaginação que nos leva a conjecturar: E se Jimi Hendrix não tivesse morrido? E se Randy Rhoads não tivesse morrido?  E se Cliff Burton não tivesse morrido?

E se Bon Scott não tivesse morrido?

Artistas jovens, que deixam o mundo em momentos cruciais de suas carreiras, nos levam a pensar como soariam suas bandas caso ainda estivessem presentes. Os discos seguintes soariam diferentes do que efetivamente aconteceu – não há dúvidas – mas essa diferença seria tênue ou substancial?

É o que nós ficamos imaginando sobre como seria o AC/DC, pós-“Highway To Hell”, caso os eventos tivessem sido diferentes. A banda necessitou de apenas mais seis meses para fazer a construção de um novo clássico, mas – mesmo não levando em consideração as teorias de que canções do “Back In Black” já estavam pré-concebidas – o certo é que “Highway To Hell” foi o primeiro grande ponto fora da curva do grupo australiano. Foi produzido com o objetivo específico de criar um sucesso e, nesse processo, a entrada em cena do produtor sul-africano Robert John “Mutt” Lange foi fundamental.

Tendo sido chamado para substituir Eddie Kramer – cujo curto período de convivência com o AC/DC foi um caleidoscópio de brigas e desentendimentos – Lange trabalhou em proximidade com a banda, tirando o foco exclusivo das guitarras e inserindo os elementos de groove dentro das levadas. “Highway To Hell” – a música – é alta, tem um riff clássico e pausado, mas tem também uma batida forte e com balanço. O conhecimento musical do produtor lhe credenciava para fazer sugestões com propriedade, chegando ao nível de acompanhar a gravação do solo da faixa título indicando as partes do braço da guitarra nas quais Angus Young deveria tirar as notas. Tornou-se uma música icônica, reconhecível imediatamente e replicada em diversas mídias, como cinema e publicidade.

“Girls Got Rhythm”, com contagiante vibração, e “Shot Down In Flames”, mais baseada em ritmo, são canções que nasceram com o selo de hit encravado em seus DNAs. “Walk All Over You” é um dínamo, certamente a faixa mais pesada do disco e, se avançarmos para o final, teremos uma dobradinha entre a simplicidade cativante de “Love Hungry Man” e o Blues insidioso de “Night Prowler”, que alguns anos mais tarde iria ressurgir na mídia através daquelas infelizes associações que as autoridades tendem a montar entre Rock e violência, desta vez por conta dos assassinatos cometidos pelo serial killer Richard Ramirez, conhecido como “Night Stalker”.

Olhando em retrospecto, é curioso a diferença de perspectiva que eu tinha no tempo em que conheci o disco. Foi em 1983, e o álbum possuia apenas cerca de quatro anos, mas – provavelmente pelo fato de já haver três discos na sequência – me parecia ser algo mais antigo. E isso reforçava a aura de clássico que ele ostentava. Com quatro anos, “Highway To Hell” já era mítico; com quarenta, já transcendeu os conceitos de bem e mal. Naquela época, eu estava ingressando na autoestrada. Trinta e seis anos depois, ainda continuo. Vejamos até onde ela me leva…

Formação

Bon Scott – vocal

Angus Young – guitarra

Malcolm Young – guitarra

Cliff Williams – baixo

Phil Rudd – bateria

Músicas

01 Highway to Hell

02 Girls Got Rhythm

03 Walk All Over You

04 Touch Too Much

05 Beating Around the Bush

06 Shot Down in Flames

07 Get It Hot

08 If You Want Blood (You’ve Got It)

09 Love Hungry Man

10 Night Prowler

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