O Thrash Metal nasceu de uma apaixonada necessidade de jovens dos anos 80 que amavam a música Metal, mas queriam transformar este som em algo muito mais pesado, nervoso, cheio de testosterona e energia. Era mesmo uma invocação ao “masculino” em doses de guitarras quentes, mas que se manifestasse principalmente em shows, ainda que os discos fossem grandes instrumentos.
Foi também nesse movimento que surgiram os primeiros “MOSHES”, pois nesse momento é minimamente esperado que o “jogo”, que mais se parece uma luta corporal, tenha sido criado por homens um tanto quanto fortes para suportarem cotovelões, socos, pancada nos ombros e o impacto de pisadelas no pé. Dali também se estabeleceram os movimentos típicos de batida de cabelo, as pessoas se jogarem do palco à plateia e o vestuário típico de calças justas e colete Jeans, com patches, bottons e tênis branco.
Thrash Metal nos remete à velocidade, intensidade e todo aspecto envolvido nas letras, sons e comportamento dos shows de Metal. Um som SUJO que acontece em seu maior desenvolvimento na Costa Leste dos EUA, na Califórnia; especialmente em Los Angeles e San Francisco.
Começou com a procura nas lojas de discos por algo realmente perturbador (como em Belo Horizonte ritualmente e concomitante fazíamos na Cogumelo Records, e de onde surgiu uma dos mais expressivos nomes do Metal: o Sepultura). E assim como aqui, a distribuição das fitas demo e as colagens em cartazes sobre pequenos shows, que era a melhor propaganda que existia num mundo totalmente sem internet.
Daí também surgiu o fenômeno Metallica, que hoje é tão mais popular e incrivelmente adaptado aos novos tempos. Também se destacam Megadeth e Anthrax. A diferença com as outras “Thrash Metal Bands” no mundo provavelmente é que nos Estados Unidos a cena era bem mais forte e poderosa, e os acessos e disponibilidades de expansão em turnês, bem como as gravadoras, tornaram mais acessíveis o desenvolvimento e ascensão de bandas de lá.
É inevitável, portanto, falar de bandas que se destacaram, entre elas as que buscavam sons e letras tão pesadas, buscando as obscuridades do próprio ser humano: Slayer e toda sua destruição, por exemplo. Curiosamente, o contraste entre o cristianismo da família de Araya e sua influência no que poderia se considerar satânico era latente! Mas tudo se tratava de peso. Simplesmente um bom Metal pesado, sujo e agressivo. E que era bem mais iminente nas apresentações.
Com o Exodus a interpretação alternava com a sujeira das guitarras, o que dominava a cena porque eles simplesmente existiam como parte de uma grande influência, através de um movimento juvenil de rapazes de L.A., que se encontravam em suas casas para beber, se drogar, pegar mulheres. Mas que tinham sangue nas veias!
O Thrash Metal foi um rebentar da rebeldia juvenil norte americana, que de alguma forma se distanciava da juventude europeia da Inglaterra da década de 80. Enquanto a juventude britânica pós-guerra herdou de seus pais ânsia pela liberdade de expressão oprimida pela Segunda Guerra, os Estados Unidos, país aliado, era envolvido mais num sentido de nação de poderio militar intervencionista. Obviamente que os temas de terror da guerra e a destruição da própria raça humana, tão desenvolvidos e difundidos nas letras dessas bandas, beiravam muito mais em serem verdadeiramente pesados do que abordar as consequências de viver na pele o rastro de dor e violência que alastrou a Europa. Podemos ver isso claramente no clássico “Angel of Death”.
Mas de alguma forma bandas como Exodus trariam à flor da pele até mesmo a personificação não do terror real, mas a melhor definição da criação do mosh mais agressivo onde o empurra-empurra de quem ouvia o som Thrash se tornaria de alguma forma “sanguinário” porque alguém certamente ia se machucar em seus shows.
Veja este clipe da banda SODOM:
Isso era o ápice do contraste do jovem com a expressão de uma violência que era mais lúdica e masculinizada do que do sofrimento em si. Em famílias menos controladas esses jovens podiam ser levados aos extremos como alusões ao suicídio ou à própria postura da manifestação de um ódio por qualquer coisa que os aprisionasse a viver plenamente. Também a “destruição” de qualquer coisa, especialmente ambientes e objetos, e o tremendo choque com os “posers” do Glam Rock formariam a personalidade desse tipo de música. Álcool, peso, drogas e Heavy Metal.
No inicio dos anos 90, a cena foi abduzida pelo Hardcore, que começou a mexer na personalidade e nos aspectos estruturais do Metal. Daí surgiria, portanto, o despedaçamento de suas origens e a formação de novas vertentes e estilos. Também de forma inesperada, o grunge se introduziu na cena e fatalmente o Thrash se dissolveu, pulverizando-se pelas bandas no mundo. Mas nada será mais importante que considerar que tudo que vemos hoje lapidado pela mídia e o grande show business um dia foi uma pedra bruta, visceral e que levará para sempre seu legado por todo grande show onde houver um mosh e uma boa batida de cabeça headbanger.