Um gênio, sem dúvida! Um músico acima da média, com talento incomparável, que idealizou e perpetuou a história de uma banda única e antológica, cujo legado jamais poderá ser dissociado de sua visão e contribuição.
John Forgety é mais um na lista de artistas abençoados pelas musas da inspiração. Excelente cantor, excelente guitarrista e compositor mais do que extraordinário, John era, sem dúvida nenhuma, a força propulsora do Creedence Clearwater Revival. Sem querer entrar nos méritos da existência da banda que atua nos tempos presentes, e cujo nome trocou o Revival pelo Revisited, é muito difícil imaginar o Creedence sem John e, ironicamente, a história mostrou que a recíproca também era verdadeira. A carreira solo do cantor possui a sua indiscutível relevância, mas nunca teve o mesmo brilho da época do quarteto californiano que marcou a transição entre as décadas de 60 e 70.
Analisar a trajetória do Creedence, sob a perspectiva atual, passa uma enorme sensação de surrealidade. Em nossos dias, artistas demoram, às vezes, até oito anos para lançar um disco novo no mercado. O Creedence, em cinco anos de existência, lançou sete discos, e todos excelentes! Apenas no ano de 1969 foram três álbuns, sendo esse “Willy and the Poor Boys” o último da trinca.
Sob certos aspectos, o grupo era uma espécie de peixe fora d´água em seu estado natal, a Califórnia. Não era comum ver californianos investindo em Country Music, gênero que tinha mais força em outras regiões do país. O Rock´n´Roll, originalmente, é cria tanto do Blues quanto do Country, e fazer a mistura entre estas partes acaba por gerar um resultado bastante natural, fluido na audição. Chuck Berry e Hank Williams se encontram, portanto, ao longo das canções do quarteto. “Down on the Corner” já lhe diz tudo o que você precisa saber sobre o Creedence. É aquilo, a banda é assim e não há para onde evoluir, pois essa atitude seria tão desnecessária quanto supérflua. É música de bar, música de estrada, música para marcar com o pé. O Creedence fazia música pela música, sem querer soar grandioso ou experimental. Pelo contrário, soavam como uma pequena banda, de pretensões simples, e ao seguirem essa direção, tornavam-se grandes.
Tirando a instrumental “Poorboy Shuffle”, cujo título e arranjo poderiam até sugerir que foi tocada durante a sessão de fotos da capa do disco, o restante são canções que navegam entre os gêneros que já foram mencionados, fazendo com que o Creedence se revele como uma banda americana até o âmago, e, ao dizer isso, tenho que ressaltar que essa postura passa longe do ufanismo exagerado que alguns artistas podem carregar. Tanto assim, que uma das canções de protesto mais famosas dos anos sessenta está aqui: “Fortunate Son”, que narrava como os filhos de alguns políticos da época tinham o privilégio de não serem convocados para lutar no Vietnã. “Cotton Fields” e “Midnight Special” são as únicas faixas que não saíram das mãos de John Forgety. O restante tem a sua assinatura exclusiva, como foi durante a maior parte da carreira da banda. É por isso que não dá para comprar a ideia de um Creedence sem a sua presença. Tudo bem, é válido e legítimo que os outros músicos desejem manter uma carreira, mas algumas coisas possuem tanta pureza que são maculadas não por algo que se acrescente, mas pelo que se retira delas.
Formação
John Fogerty – vocal, guitarra, piano, harmônica
Tom Fogerty – guitarra
Stu Cook – baixo
Doug Clifford – bateria
Músicas
01 Down on the Corner
02 It Came Out of the Sky
03 Cotton Fields
04 Poorboy Shuffle
05 Feelin’ Blue
06 Fortunate Son
07 Don’t Look Now (It Ain’t You or Me)
08 The Midnight Special
09 Side o’ the Road
10 Effigy