Carcass: os 26 anos de “Heartwork”

Em 18 de outubro de 1993, o CARCASS lançava o seu quarto e mais bem-sucedido disco: era “Heartwork” chegando e trazendo uma sonoridade mais acessível, bastante diferente da podridão que a banda apresentou nos seus três álbum anteriores.

Então o quarteto se juntou novamente ao produtor Colin Richardson, que já havia trabalhado em “Necroticism – Descanting the Insalubrious” e todos foram ao “Parr Street Studios”, onde as sessões de gravações ocorreram entre os dias 18 de maio e 21 de junho de 1993.

E a mudança não se dava apenas na sonoridade, mas também na temática das letras: aquela temática mais sangrenta dos primeiros discos dava agora lugar a visões de uma sociedade decadente. E a produção foi mais caprichada, muito embora, neste quesito, a banda só tenha acertado realmente a partir de “Swansong”.

Vamos botar a bolacha para tocar e destrinchar as dez músicas que compõem este belo play: e a abertura se dá com a densa e maravilhosa “Buried Dreams“, em que já nota-se a diferença do som que a banda passaria a propôr a partir daquele momento. Arrastadona, com riffs incríveis, uma música bastante complexa e com as primeiras inclusões de melodia nos solos. 

https://www.youtube.com/watch?v=_GG7dDjIgEg

Carnal Forge” já chega mostrando que, embora alguma coisa do Death Metal pútrido do CARCASS ainda estava vivo, outros elementos haveriam de fazer parte da música da banda a partir dali. E aqui temos um pouco de Thrash Metal, mudanças de andamento e até guitarras mais melódicas. Uma verdadeira salada musical aqui e que se faz muito interessante.

A faixa seguinte é digamos, o maior sucesso da banda: “No Love Lost“, um som mais arrastadão, mais puxado para o Doom Metal. Uma das primeiras músicas da banda que eu conheci e que se faz necessária na carreira dos caras, de tão boa que ela é. E obrigatória nas apresentações.

A faixa título nós brinda com o que de melhor pode existir em termos de mistura de som extremo com melodia. Não é nenhum absurdo dizer que aqui era lançada a semente do que hoje é o ARCH ENEMY, através de um tal de Michael Amott. Uma das melhores e mais completas músicas da carreira da banda.

Embodiment” é a minha faixa favorita do disco, com a intro arrastadona e riffs maravilhosos, a música cresce conforme se desenvolve, ficando perfeita no seu refrão.

This Mortal Coil“ainda traz em seus riffs algo do antigo CARCASS, somados aos elementos novos que a banda nos brindava naquele momento. Excelente som.

Arbeit Match Fleish“, cujo título é uma paródia com a expressão “Arbeit Macht Fleisch”, usada pelos nazistas nas entradas de alguns campos de concentração durante a Segunda Guerra e que significa em tradução livre “O Trabalho Liberta”, nos brinda com uns riffs arrastados nas estrofes, tornando-se mais rápida no refrão, um verdadeiro convite ao moshpit. E com direito a uns blast-beat’s e mais melodia nos solos.

Blind Bleeding the Blind” começa rápida como uma faixa Thrash Metal, mas é só a introdução. Logo logo ela se torna uma música com um andamento bem cadenciado, com ótimos riffs e no refrão a música ganha um pouco mais de violência e velocidade. Excelente som.

Doctrinal Expletives” dá sequência a fase de músicas menos rápidas, mas nem por isso ruins. Essa é outra faixa em que os riffs se destacam e os solos melódicos fazem intervenções muito boas. Esse som é um esboço do que a banda iria fazer em “Swansong“, seu disco posterior.

Death Certificate” fecha com chave de ouro esse disco que pode causar estranheza em um fã mais old-school do CARCASS, mas que com certeza angariou outros, como este que vos escreve. Temos aqui uma variedade de riffs em que podemos identificar o Thrash e o Death Metal trabalhando conjuntamente e com a técnica apurada dos caras, trazendo um produto de extrema qualidade. E tome mais melodia nos solos. Ficou lindo.

E em 41 minutos temos essa obra prima do Death Metal, ou como alguns chamam e eu discordo muito deste termo, Death Metal Melódico. Um disco que fez com que a banda fosse acusada de adaptar seu som para que esta pudesse expandir o seu mercado e mesmo que essa tenha sido a intenção do CARCASS, ponto para eles. Evoluíram sem deixar o peso de lado e ainda incorporaram alguns elementos que só fizeram com que o som ficasse mais maduro e robusto. “Heartwork” alcançou a posição de número 67 das paradas britânicas naquele ano de 1993 e tornou-se o maior disco da banda.

A minha relação com este álbum é de muito carinho, embora eu respeite o passado dos caras e, inclusive a minha música favorita do CARCASS seja do “Necroticism“, mas foi aqui em “Heartwork” que eu tive acesso ao som dos caras. E tive a oportunidade de ver a banda ao vivo, recentemente, quando eles tocaram no Rio de Janeiro sendo a banda de abertura do LAMB OF GOD, em 2017. Mesmo sem o gênio Michael Amott e posso vos dizer: o CARCASS é mortal ao vivo e por isso, além de celebrar a data de hoje para este lindo álbum, vamos desejar longa vida ao quarteto britânico.

Lineup:
Jeff Walker – Vocal/Baixo
Bill Steer – Guitarra
Michael Amott – Guitarra
Ken Owen – Bateria

Tracklisting:
01 – Buried Dreams
02 – Carnal Forge
03 – No Love Lost
04 – Heartwork
05 – Embodiment
06 – This Mortal Coil
07 – Arbeit Macht Fleisch
08 – Blind Bleeding the Blind
09 – Doctrinal Expletives
10 – Death Certificate

Encontre sua banda favorita