Nesta ultima semana do anuncio da morte inesperada de Andre Matos, nos deparamos com uma avalanche de mensagens cheias de luto e tristeza e a manifestação de fãs em todo Brasil e fora dele. André Matos foi um tipo de artista que realmente fez muito por um grande número de pessoas que amam metal no Brasil.
A verdade é que ele era tão naturalmente competente, que não fazia sentido meter a cara nas redes sociais por aquilo que ele fez sozinho (ou em grupo) e com seu trabalho, nem mesmo as vezes, usava as mídias tradicionais. Tampouco, sua vida era tão anormal como um Reallity Show, cheio de “câmaras” cruéis de admiradores e haters.
Com um estilo de vida absolutamente comum, obviamente ele se destacava por não ser uma pessoa como as outras, embora fosse. Pelo menos era assim que seu irmão descreveu.
Andre foi marcado pela sorte, pelo talento, pela oportunidade, condições “financeiras” e estar no lugar certo e na hora certa. Tinha bom gosto e visão ampla e percebeu de forma rápida que a música erudita abraçava o Metal em totalidade, e ali podiam ser fundidos de forma genial.
Começou jovem, na escola, com aquela coisa que fazemos quando exprimimos nossa juventude entre os colegas: A IRREVERENCIA e entrar com tochas de fogo no show para os alunos, deixou claro que ele era DESTEMIDO.
Ter uma banda em São Paulo não devia ser algo de outro mundo, nem entrar numa universidade de música e se encantar com o erudito. Mas através da DEDICAÇÃO e a SORTE, trabalhou determinado e sem nada a perder. Isso tem muito a ver com o conceito de MindFullness que conhecemos como “FOCO”.
Andre através do seu meio e condições apropriadas, atingiu a oportunidade ainda muito jovem, de atingir o mercado internacional, e bem antes de todo nós, chegou à Europa. Seu sonho juvenil estava ali disponivel para viver de sua arte ou não. A facilidade para o aprendizado de linguas estrangeiras é também um fomento admirável ao sucesso, favorecendo sua comunicação na música em inglês.
Nisso a banda foi toda beneficiada, para além de serem todos talentosos e dedicados ao projeto: Angra.
André abraçou a vida da música e seu canto ecoou tao profundo e amplo, que seu trabalho estava cheio de popularidade. Onde há popularidade, há fama, onde há fama há vaidade. E há o estreitamento entre a arte que dá prazer e a arte que paga as contas.
Entram empresários, produtores, entram sonhos individuais, existem nao concordâncias e brigas estúpidas sobre aceitar o outro, ou aceitar sua propria opinião. Não é muito diferente nos outros meios artísticos. Ou mesmo, na competição do dia a dia para exprimir seu talento.
Estive mais de 20 anos no meio como profissional de dança e parte desses anos como produtora de bandas e eventos. Vi coisas lindas nos backstages de artistas…. e tambem vi muito orgulho, inveja, competição e vaidade. Mas a maturidade e as decepções alinham as pessoas e um dia, mudamos o olhar para tudo isso.
Nós não sabemos muito sobre os bastidores das bandas que o André participou, mas basta ver os videos do Kiko, ex-Angra, ou mesmo da familia para termos idéia de que o André era. Um homem com um fervilhar mental, intelectual, exigente para si e para os outros. Um talento criador, um gênio brasileiro.
Mas na história de todos os grandes artistas da música nacionais e internacionais, vemos de tudo. Morrem muito jovens, seja por cansaço mental e depressão, o que acarreta suicídios (Como Chris Cornell ou Chester Bennignton), seja por drogas, noites mal dormidas, alcoolismo, remédios e uma tremenda “canseira” que a vida se torna por ser popular e não conseguir ter uma vida normal.
Imagina os artistas mais populares, que não podem ir na padaria sem ser atacados por fãs, e a exigência de que devem ser cordiais. Não sabem se vão ser atacados por loucos (como o que matou John Lennon) ou se vão sair com alguém para namorar e ser ameaçados de assédio sexual, ter sua vida presa numa câmera secreta, serem monitorados. Preço da fama?
Não vamos abordar a morte do André e suas causas. Realmente não interessa. Interessa que o espírito dele já precisa ir embora. Vamos honrar sua obra e acreditar que novos artistas venham nos trazer novas trilhas sonoras magnificas para a vida.
Quero encerrar este texto, com um video (dentre tantos) da avalanche de informações que saíram na internet, após seu falecimento.
Andre Matos – Piano e Voz
Aqui vemos um André sedento por desabafar. Seus estudos sobre BACH e outros artistas eruditos. Suas obras e seus feitios. Os assuntos que ele devia ter consigo mesmo, sobre composições ou sobre coisas da vida. A conversa com o piano no silêncio da madrugada. Ele sozinho no quarto,sem muita paciência para outras opiniões. Ou até as ouviria. Mas sua mente cabia tanta coisa. Tanta coisa. Será que estão me ouvindo? Ao mesmo tempo, seus verdadeiros amigos estavam ali na platéia.
E essa é a imagem de alguém que poderia amar estar aqui. Mas talvez esse mundinho ficou chato demais para viver.
Descanse em Paz.