Roadie Metal Cronologia: Lamb of God – Ashes of the Wake (2004)

Antes de começar a escrever sobre o álbum de hoje do nosso ROADIE METAL CRONOLOGIA, gostaria de expressar ao caro leitor a minha satisfação em ter a oportunidade de escrever sobre o disco favorito da minha banda favorita dentre as que estão em atividade. E é com enorme orgulho, que eu cito aqui, fora minha a sugestão, quando solicitado, de qual banda deveria entrar neste quadro do nosso site. O editor que organiza a escala de quem irá escrever, não fazia a menor ideia de que o “Ashes of Wake” é o disco que eu escuto todos os dias. Se muitas vezes é bom escrever aqui sobre bandas que não conheço/não gosto, é muito mais interessante escrever sobre as que eu gosto. Zona de conforto de vez em quando faz bem.

Mas vamos ao que interessa, estamos no ano de 2004 e o LAMB OF GOD lançou o seu terceiro full-lenght (quarto, se levarmos em consideração o primeiro disco, ainda sob o nome de BURN THE PRIEST). Se a banda já havia mostrado evolução no disco anterior, “As The Palaces Burn“, aqui em “Ashes of The Wake“, a evolução se mostra ainda mais nítida. É um álbum tão raivoso quanto o anterior, porém, muito, mas muito mais técnico. E não estou falando mal do disco que antecedeu, pois ele foi por muito tempo, o meu favorito da discografia dos caras.

Então a banda se juntou ao produtor Machine e as gravações se dividiram em dois estúdios: “Water Music Studios“, em Hoboken, New jersey e no “Sound of Music“, em Richmond, “fucking Virginia”, como costuma bradar Randy Blythe nas apresentações ao vivo da banda. E em 31 de agosto de 2004, o disco foi lançado pela Epic Records.

E a bolacha começa arrasadora, nas primeiras seis músicas. Sim, é petardo atrás de petardo, sem piedade. Os caras seguem raivosos em suas composições. Algumas letras tratavam de temas atuais à época: a faixa título, “Now You’ve Got Something to Die For“, “One gun“, “The Faded Line“, tratam da guerra do Iraque, um pretexto arranjado pelo ex-presidente dos EUA, o lunático George Walker Bush, para invadir o território alheio em busca de petróleo. E se pensarmos bem, elas seguem atuais até hoje.

A abertura sensacional, com a raivosa e ao mesmo tempo soando como tema de filme de suspense, “Laid to Rest”, que tem riffs de guitarras sensacionais, Randy Blythe recitando a primeira estrofe para depois soltar a sua raiva, e no refrão deixando seu recado: “Console-se, você é melhor sozinho/ Destrua-se e veja quem se importará”. A raiva desta canção, aliada aos versos dela, resultam em um casamento perfeito. E eu posso dizer, eu tive a honra de vê-los ao vivo em 2017, eles abriram o show com esta música e no palco, ela soa ainda mais poderosa. Gosto tanto desta música que ela é o tom de chamada do meu telefone.

Hourglass” é mais densa, pesada, técnica, absurda de ótima, mantendo o pique o álbum, como eu comentei mais acima, as seis primeiras músicas são de deixar as terras arrasadas e este som colabora de forma impiedosa para tal. Aqui eu destaco a pegada grooveada desse monstro chamado Chris Adler, o melhor baterista atualmente na cena.

Em “Now You’ve Got Something to Die For“, a banda aborda a guerra do Iraque como tema e aqui temos na parte musical uma mescla com partes mais grooveadas e partes rápidas onde isso causa seríssimos danos ao “candango” que ousar a entrar no mosh. Eu adoro o título dessa música, que para mim soa como sarcástico. Perfeita!

A guerra do Iraque segue sendo tratada em “The Faded Line“, que aqui é densa, desesperadora, aterrorizante, em que tudo aqui se destaca: a cozinha, a dupla de guitarras, os vocais de Blythe… Sensacional.

Ai chega a faixa que de vez em quando, eu a escuto primeiro: “Omerta“. Esta é a minha favorita de toda a carreira da banda. Ela é diferente de todas que foram apresentadas até então, tem um andamento mais arrastado, mas é muito raivosa, chega a ser cavalar o ódio que os caras impõem neste som, principalmente a bateria. A letra, trata de traição e Omerta é uma espécie de código utilizado pela máfia do sul da Itália, em que os integrantes juram fidelidade entre sí. Blythe cita na letra a parte em que a Bíblia narra o fato de Judas Iscariotes ter traído Jesus Cristo por 30 moedas de prata. Gosto de escutar esse som quando estou irritado, é perfeito o clima dessa música. Bateria e guitarras são os destaques dessa lindeza de música, que ao vivo fica ainda mais brutal, como o leitor poderá conferir no vídeo abaixo.

Heavy Metal no estado mais bruto é representado aqui em Omerta, tocada ao vivo no ano de 2013.

One Gun” é mais grooveada, com uma sutil mudança no meio onde a música fica um pouco mais rápida, porém, por um breve momento. A letra é bem ácida e critica o cidadão estadunidense que apoia a guerra, o genocídio. Mas se pararmos para analisar, ela soa atual a um certo país da América do Sul, onde o discurso patriota, para não dizer ufanista, aliado ao discurso de armamento andam em voga. Qualquer semelhança é mera coincidência. Mas voltando a parte musical, a faixa é boa! Não tanto quanto as anteriores, mas nada que desmereça o álbum ou que coloque o trabalho a perder.

Break You” tem excelentes riffs de guitarra, e é estruturada no Groove, com um breve aumento na velocidade no refrão. Boa música, enquanto que “What I’ve Become” é o oposto, uma música mais rápida com algumas quebradas mais grooveadas. E aqui, uma coisa rara na carreira do LAMB OF GOD: solo de guitarra, Ele se faz presente e é um bom solo. O interessante é que a banda pouco faz uso deste recurso em suas músicas. E honestamente, nem faz falta. Mesmo.

A faixa título é a mais crítica à covardia que fora praticada pelos Estados Unidos na tal guerra do Iraque. A música que tem boa parte de sua extensão sendo instrumental e conta com as participações de Alex Skolnick (TESTAMENT) e Chris Poland (ex-MEGADETH) nos solos. Porém, as partes que entra o vocal de Randy Blythe, e ele recita a letra ao invés de cantar, mostra toda a raiva da banda em relação aos crimes cometidos pelos “Marines”. Ah, o instrumental é algo mais que fantástico.

Fechando a bolacha, temos uma introdução calma, em que parece que nada vai acontecer: ledo engano, pois “Remorse is for the Dead” sofre uma reviravolta tão logo os vocais de Randy Blythe entram, a música cresce, as guitarras com seus riffs impressionantes aliadas a bateria nervosa de Chris Adler. A parte final ganha em brutalidade, o peso aqui é cavalar. Não havia música mais perfeita para o fechamento desta obra, que também beira a perfeição. Duvido o ouvinte terminar esta audição sem o desejo de voltar à faixa um e escutar tudo de novo.

Inevitáveis algumas comparações com o PANTERA, a banda que popularizou o Groove Metal. Lembro-me que recentemente, um primo (que curte Metal influenciado por mim e isso me enche de orgulho) me perguntou sobre o LOG ser nada mais do que uma cópia do quarteto do Texas. Eu disse que não, que há muitas coisas similares no som de ambos, porém, o quinteto de Richmond não faz muito uso dos solos em suas músicas. E por vezes soa mais brutal, pelo fato de ter dois guitarristas e um baterista que é sensacional (não tirando os méritos dos irmãos Abott, uma vez que sou fã mais que incondicional do PANTERA e do trabalho de ambos).

Algumas conquistas de “Ashes of the Wake” foram, alcançar o 27º lugar da parada da “Billboard“, vendendo 35 mil cópias somente na primeira semana de lançamento; além disso, o disco foi eleito o 49º melhor trabalho de guitarra de todos os tempos pela revista “Guitar World” (N. do R: Há controvérsias, eu o coloco certamente entre os dez melhores, mas isso é uma opinião de fã). E foi na turnê deste álbum que a banda acabou lançando seu vídeo oficial, chamado “Killadelphia“.

E assim chegamos ao final desta obra prima, considerada por mim como o ponto alto da carreira dos “Cordeirinhos de Deus”, uma banda que eu passei a admirar desde que eu tive o prazer de estar com eles, quando no Rock in Rio 2015, em que eles se hospedaram justamente no hotel em que eu trabalhava, hotel este que fica onde era a “Cidade do Rock”. Mas isso é uma outra história que eu prometo contar aqui na ROADIE METAL – A VOZ DO ROCK, em breve. “Ashes of the Wake” é um disco que eu sinto a obrigação atualmente de escutar todos os dias. Já foi assim com o “Sacrament“, com o “As the Palaces Burn“, com o “Wrath“, e os demais trabalhos da banda, mas aqui o trampo dos caras beira a perfeição. Indispensável na coleção do fã que curte um trampo pesado, brutal e ao mesmo tempo bem trabalhado e sem guitarristas fritando.

Lineup:
Randy Blythe – vocal
Willie Adler – Guitarra
Mark Morton – Guitarra
John Campbell – Baixo
Chris Adler – Bateria

Foto: divulgação

Tracklisting:
01 – Laid to Rest
02 – Hourglass
03 – Now You’ve Got Something to Die For
04 – The Faded Line
05 – Omerta
06 – One Gun
07 – Blood of the Scribe
08 – Break You
09 – What I’ve Become
10 – Ashes of the Wake
11 – Remorse is For The Dead

Nota: 9,5

Encontre sua banda favorita