Entrevista – Cirith Ungol: banda fala sobre a primeira vinda ao Brasil, Senhor dos Anéis e planos futuros

Cirith Ungol está com chegada marcada para o Brasil. A lendária banda vem pela primeira vez ao país para participar do Setembro Negro Fest 2019, em São Paulo, no dia 08 de setembro. Em entrevista para a Roadie Metal, o baterista Robert Garven falou sobre a banda, a vinda ao Brasil, as capas trocadas na década de 80, Senhor dos Anéis e possíveis planos futuros. As perguntas foram feitas pelos redatores Anderson Frota e Daniela Farah.

Robert Garven na bateria. Fotografia: Albert Munoz

Cirith Ungol começou em 1972. Quando vocês decidiram: agora nós somos uma banda? O que inspirou nesse processo?

Robert Garven: Greg, Jerry e eu estávamos na escola juntos e em outra banda, o Titanic. Nós queríamos continuar com músicas mais pesadas e sair para formar o “Cirith Ungol”. Nosso objetivo era tocar o metal mais pesado conhecido pelo homem! Estávamos ouvindo toda a música pesada da época, e nós realmente queríamos tocar música nesse estilo.

A banda terminou oficialmente em 1992, mas vocês retornaram em 2015. O que motivou esse retorno? Quando vocês decidiram que era hora de voltar aos palcos e quem começou a conversa?

Rob: Jarvis Leatherby, o baixista do “Night Demon”, morou em nossa cidade natal, Ventura, Califórnia. Ele me contatou há vários anos e compartilhou que quando eles viajaram para a Europa em turnê com “Night Demon”, eles viram muitos fãs com camisetas “Cirith Ungol”, e muitos sabiam da nossa banda e nossa música, mesmo que muitos não eram nascidos quando nos separamos! Eu tinha feito um juramento que nunca mais tocaria em uma baqueta, então eu sempre disse a ele muito educadamente que não estava interessado. Tudo mudou no festival “Frost & Fire” em 2015. Oliver Weinsheimer do exclusivo “Keep it True Festival” na Alemanha veio para o show, onde fizemos um meet and greet prolongado, embora não estivéssemos tocando. Oliver estava me contatando há provavelmente 10 anos ou mais, com interesse em ter a banda tocando em seu festival. Eu sempre disse a ele que não, mas mantive contato com ele, pois ele era responsável por manter viva a chama do Metal verdadeiro na Europa! Jarvis disse que se voltássemos juntos, ele seria nosso empresário e nos ofereceria o lugar principal em seu próximo Festival “Frost & Fire” em 2016. Oliver convidou Tim e eu para o “Keep it True Festival IX”, para conferir e ver o que pensávamos, e se estivéssemos interessados nos ofereceriam a headline em seu show de aniversário de 20 anos. Nós viajamos para lá e fomos tratados como a realeza, todos pareciam saber quem éramos e era um evento de primeira classe. Nós ficamos tão impressionados que não havia nenhuma dúvida em nossa mente que queríamos fazer parte desse novo despertar do Metal! Se não fosse por esses dois senhores, a banda nunca teria se reformado. A banda e nossos fãs devem a ambos uma dívida de gratidão. Quando as estrelas antigas se alinharam, “Cirith Ungol” rastejou para fora de seu antigo sono, para causar estragos em um mundo desavisado! No fim das contas, nosso baixista veterano Michael Vujea “Flint” não podia tocar, então perguntamos a Jarvis se ele iria assumir as funções de baixo. Fez sentido perfeito porque nós estaríamos viajando com nossos amigos do “Night Demon” fazendo muitos shows juntos, e funcionou muito bem.

Tirando Greg Lindstrom que tocou no Falcon, não existem muitas informações sobre o que os demais integrantes andaram fazendo durante os anos em que a banda esteve parada. Vocês se afastaram do meio musical?

Rob: A maioria de nós estava sobrevivendo. Eu ainda ouvia música, mas, fiel ao meu juramento, nunca toquei uma baqueta naqueles dias! Eu não posso falar por todos os membros, mas não tocar estava me matando lentamente. Eu sonhava frequentemente com a banda voltando, gravando mais músicas, e sempre sonhando com baterias e pratos. Eu tentava ir ver bandas musicais que não eram Hard Rock ou Metal, porque isso era muito deprimente para mim, e eu sempre desejei estar no palco.

Cirith Ungol. Fotografia: © PETER-BESTE

Em 2018 foi lançado o single “Witch’s Game” que é uma verdadeira viagem no tempo, preservando as características que fazem com que o Cirith Ungol seja único. Por que apenas essa canção?

Rob: Em 2017, nós descobrimos um filme de animação em andamento, “Planet of Doom”, um filme sobre as façanhas de um herói “Havlar the Brave”, que busca vingança a bordo de um helicóptero bruxa, viajando por uma paisagem psicodélica, em uma missão para derrotar a besta mortal Mördvél pelo assassinato de sua amada noiva. O filme tem um grupo de artistas talentosos trabalhando com um grupo de bandas pesadas, trabalhando juntos em cada segmento do filme. Ficamos intrigados com tudo isso por causa da nossa música carregada de Doom, “Doomed Planet”, em nosso terceiro álbum “One Foot in Hell”. Entramos em contato com os produtores e eles estavam interessados em usar “Doomed Planet” para os créditos finais do filme. Por sorte, uma das bandas originais desistiu e os produtores perguntaram se poderíamos compor uma música para uma parte do filme. Nós nunca havíamos trabalhado em uma trilha sonora antes e parecia não apenas um desafio, mas um projeto bem na nossa área. A banda trabalhou de perto com os produtores para se certificar de que a música se encaixaria no enredo e no momento da animação. Todo mundo está feliz com a forma como a música ficou, e mal podemos esperar para ver o filme finalizado. Com a exceção de “Servants of Chaos”, tivemos a sorte de poder usar as inacreditáveis ilustrações da série Elric de Michael Whelan como capa em todos os nossos álbuns de estúdio, e planejamos continuar essa tradição! Para este single nós queríamos algo que levaria à música e ao filme. Michael tinha uma pintura muito louca de bruxa, que vimos e amamos imediatamente. Ele modificou o original um pouco para combinar com a música, alterando alguns detalhes, como adicionar cartas de tarô à sua mão.

Quais os planos para o lançamento de material novo? Podemos esperar mais novidades vindas do Cirith Ungol por aí?

Rob: Estamos trabalhando no novo álbum enquanto falamos. Se você gosta de “Witch’s Game”, será mais do mesmo Metal escaldante forjado no fogo do UNGOL!

Quais são as suas influências e o que vocês escutam atualmente?

Rob: A banda cresceu ouvindo todas as bandas pesadas dos EUA e da Europa. Mountain, Black Sabbath, Gran Funk Railroad, Deep Purple, Thin Lizzy, Budgie, Dust, Sir Lord Baltimore, Lucifers’s Friend e muitos outros! Nós todos ouvimos música pesada ainda e uma das nossas novas bandas favoritas é o Night Demon! Estamos muito animados que uma nova geração de bandas que tocam Metal épico está pegando fogo!

Parte da mídia e dos fãs costuma atualmente categorizar o som da banda como Doom Metal, sendo que na época esse termo sequer existia. Vocês concordam com essa classificação de seu som?

Rob: Eu sempre considerei nosso som como Hard Rock / Heavy Metal, mas nós definitivamente tínhamos imagens do Doom desde o começo da nossa composição, com músicas como: “Death of the Sun”, “Doomed Planet” e “War Eternal”. O mundo está indo para um ciclo definitivo de Doom e pudemos ver isso logo no começo!

O Cirith Ungol tornou-se conhecido no Brasil logo na primeira metade da década de 80 com o lançamento dos álbuns “Frost and Fire” e “King Of The Dead”, mas eles saíram com as capas invertidas. Vocês tinham conhecimento disso? O que acham?

Rob: Sim, nós vimos isso e não sabíamos o que fazer com isso na época! Ficamos felizes por algumas de nossas músicas terem chegado aos nossos amigos no Brasil e na América do Sul. Nós nunca pensamos em nossos sonhos mais loucos que poderíamos tocar lá e esse será outro sonho que se tornará realidade para a banda!

Vocês vão vir para o Brasil em setembro, participar do Setembro Negro Fest 2019. Como aconteceu esse convite?

Rob: Eu não tenho certeza como isso aconteceu, estamos muito felizes que fomos convidados. Eu gostaria que pudéssemos ficar mais tempo para difundir a palavra! Espero que, se formos bem recebidos, nos chamem de volta…

Cirith Ungol vem ao Brasil em setembro.

Esse é o primeiro show no Brasil, qual a expectativa de tocar no país? Vocês têm contato com os fãs brasileiros?

Rob: Ao longo dos anos, tivemos contato com ouvintes do Brasil, mas, infelizmente, eles não são tão extensos quanto os da Europa. Estamos muito empolgados em trazer nosso estilo único de Metal para o Brasil, expondo-o a uma nova geração de aficionados por Metal e esperamos recrutar novos membros para nossas “Legions of Chaos”!

Ainda em relação ao show, quais músicas não podem faltar no show do Cirith Ungol?

Rob: Como temos um grande catálogo de material, vamos tentar tocar o máximo possível. Sempre há músicas que serão deixadas de fora, mas vamos tocar todas as clássicas, com certeza! Nenhum fã da banda ficará desapontado!

Nesses quase 50 na estrada, qual você considera que foi o ponto alto da sua carreira? Por quê?

Rob: O destaque da nossa carreira está acontecendo agora e com cada novo show sendo capaz de tocar para tantos novos amigos ao redor do mundo. Nós trabalhamos tanto, por tanto tempo, e nunca pudemos tocar para aqueles que realmente poderiam apreciar a nossa música, até o nosso reencontro. Há toda uma nova geração de metalheads iluminados que eu acho que realmente entendem o que éramos e estamos tentando dizer, e estamos orgulhosos de trazer a mensagem de Ungol! Viajar para o Brasil será mais um capítulo desta histórica e épica cruzada!

O nome “Cirith Ungol” ganhou projeção mundial com a trilogia de filmes “O Senhor dos Anéis”. Vocês assistiram o filme? Qual foi a sensação de ver a Torre do Cirith Ungol retratada na tela? Correspondeu a imaginação de vocês?

Rob: Foi uma série maravilhosa de filmes, baseada nos livros, e captou a imaginação do mundo. Foi uma experiência incrível e superou a minha imaginação mais louca. Nós adotamos o nome Cirith Ungol, pois para nós era um símbolo de um lugar escuro que era proibido e possuidor de mau presságio!

Cirith Ungol retornou aos palcos após 20 anos sem tocar.

No dia 10 de outubro de 2016, a cidade de Ventura, CA, anunciou oficialmente o Cirith´s Ungol Day, em comemoração a sua contribuição para a cena musical local. Como foi receber essa homenagem?

Rob: Jarvis teve seu festival “Frost & Fire” em nossa pequena cidade litorânea por vários anos e atraiu muitos visitantes de todo o mundo, e eu acho que as autoridades locais apreciaram isso. Foi uma honra para a banda e todos esperamos que seu festival retorne após um breve recesso!

Obrigado pelo seu tempo! Alguma palavra final para os fãs?

Rob: Eu só espero que todos possam sair e nos ver tocar quando formos para o Brasil. Nós não somos tão jovens como costumávamos ser, e muitos de nossos heróis musicais caíram recentemente. Somos membros dessa mesma geração e devemos viver cada dia como se fosse o nosso último! Então ouça nossos gritos tristes e as batidas primitivas do tambor! Nossa mensagem é de perdição iminente e sofrimento, que nos espera a todos no final dos tempos! Pois certamente traremos “A Churning Maelstrom of Metal Chaos Descending!”

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