É por causa de bandas e discos assim que o Thrash Metal brasileiro é uma referência mundial. São os timbres, a pegada, a agressividade específica, maturados dentro de uma realidade que não consegue mais esconder a sua brutalidade por trás da falácia de país tropical bonito por natureza.
O Necrofobia já está no jogo há muito tempo e a passagem do tempo está refletida nitidamente em seus registros. A evolução e a perícia acumuladas por uma banda formada em 1994, que lançou várias demos e participou de coletâneas, tendo disponibilizado seu primeiro álbum, “Dead Soul”, em 2004. Ali, as influências de Sepultura e Pantera eram claras, e músicas como “Hospital Hall” e “Punch” ostentavam riffs pesados, precisos e bem definidos. Passados quinze anos, apenas o guitarrista/vocalista Romulo Felicio e o baterista André Faggion permanecem da antiga formação, mas o baixista João Manechini e o guitarrista Rodrigo Tarelho entraram para agregar, e a diferença é sensível!
Em poucos segundos da primeira música, a faixa título “Membership”, a qualidade sonora torna-se evidente. Está tudo perfeitamente equilibrado e audível, sem que isso afete a sujeira e a agressividade. Thrash Metal moderno, baseado na escola noventista. O timbre do vocal de Romulo ainda guarda semelhanças com Max Cavalera, mas hoje carrega mais características próprias, da mesma forma que a sonoridade da banda – como um todo – teve a influência de Sepultura reduzida, perdendo terreno para que o “modus Necrofobia” possa se impor mais.
Um favor que você deve se fazer é acompanhar esse álbum com as letras das canções na mão. Com exceção de “Worthless Live”, em parceria com Manechini, todas são de autoria exclusiva de Romulo e ele realizou um trabalho inspirado. “Silent Protest”, sobre o sacrifício do monge vietnamita Thich Quang Duc (aquele da capa do disco de estreia do Rage Against The Machine), é excelente, bem como a empatia de “Perpétua 136”, a indignação da curta e direta “Unused Right” e a crítica ácida de “Rotten Brain”. Apenas duas faixas carregam o vernáculo português, “Apatia Social”, uma violenta descarga sonora fundindo Slayer com Hardcore, e a bônus “Guzzardi”, homenagem ao ex-guitarrista Raphael Guzzardi, falecido em 2013, onde encontramos o solo mais melódico e emotivo de todo o álbum. Inclusive, ao longo das faixas, foram utilizadas gravações deixadas por Raphael, sendo dele o solo na faixa título.
O trabalho, como um todo, é bastante diversificado, mas mantém uma identidade bem definida. Entre as demais músicas, são destaques o ataque violento de “Devil´s Lap”, o andamento marcial de “Cemetery of Oblivion” e a intensidade de “Blindness”. Esta última é a de ritmo mais diferenciado entre todas, sendo mais lentona, mas evidenciando isso com peso, muito, muito peso!!! “Membership” aperfeiçoou e ampliou a proposta do Necrofobia de “Dead Soul”. O tempo não desviou a banda de sua rota. Ela se manteve determinada e direcionada para adiante, mas também aumentou a carga e pisou no acelerador, ganhando distância impulsionada pelo som da fúria. A continuar assim, em breve será difícil lhes alcançar!!!
Formação
Romulo Felicio – guitarra, vocal
André Faggion – bateria
João Manechini – baixo, backing vocal
Rodrigo Tarelho – guitarra
Músicas
01 Membership
02 Silent Protest
03 Perpétua 136
04 Blindness
05 Rotten Brain
06 Real Fiction
07 Apatia Social
08 Cemetery of Oblivion
09 Circle of Trust
10 Devil´s Lap
11 Unused Right
12 Worthless Lives
13 Guzzardi (faixa bônus)