Resenha: Rotten Filthy – The Hierophant (2018)

A capa, criada pelo baterista Guilherme Machine, cumpre acertadamente o seu papel. É minimalista, mas também atrativa. Você retém alguns momentos para observá-la melhor, capturado pelo domínio do branco, maculado por figuras geométricas de traços vermelhos, indo na contramão do modelo mais comum de capas de álbuns de Thrash e Death Metal, principalmente quando levamos em consideração o nome da banda em questão. Esse seria o primeiro clichê posto de lado pelo Rotten Filthy.

Quando então tem início a primeira faixa, e os dedilhados do convidado Marcello Caminha em “Freezing Desolation” se revelam, estes são bem mais do que um mero ornamento dentro do trabalho. O ataque massivo começa, e a primeira referência que me veio à cabeça foi English Dogs, por conta do timbre puxado para o Hardcore do vocalista estreante James Pugens, que também lembra, por vezes, algo na linha John Tardy, do Obituary. O arranjo da faixa é orgânico, e não faz acréscimo de trilhas adicionais de guitarra para encorpar a base do solo.

A musicalidade do conjunto impõe-se multifacetada e não pode ser associada a padrões unidimensionais. Não estamos restritos aqui em apenas Death, Thrash ou Hardcore. Alguns riffs de Doom também irão se fazer presentes, além de andamentos que se aproximam do Metal tradicional. “Monarchy of Bliss” traz os estalos do baixo de Marcello Caminha Filho como destaque, e James mostra variações em sua interpretação, cantando de modo mais sombrio e gutural. Em várias oportunidades, veremos que a velocidade não é a vertente primordial nos arranjos, mas o empenho em criar canções com diversidade de andamentos, onde a condução dos tambores possui intensa contribuição para a obtenção desse resultado.

O mesmo efeito advém dos fraseados e solos de Alex Mentz. Melodias muito bem encaixadas, que são complexas através de sua simplicidade, aferida em faixas como “At Dephts of Your Realm”, quando a guitarra se destaca nas passagens entre uma estrofe e outra e faz com que a música cresça exponencialmente. “Anciet Pray” termina o disco de uma maneira inusitada. Bela e trabalhada, quase como um resumo da catarse gerada pelo Rotten Filthy, através das interseções entre seus integrantes. Ela evolui até o último verso cantado, quando parece haver um apagar de luzes e o holofote acende-se apenas sobre o convidado Marcello Caminha, que retorna para concluir a audição sem pressa, tragando-nos para a beleza de seu dedilhado até o… fim.

A banda gaúcha está caminhando para seus dez anos de existência e “The Hierophant” é o seu segundo álbum. Há muitos adjetivos que podemos utilizar para descrevê-lo, para dizer o que ele é, mas preferimos terminar essa resenha de forma objetiva e dizer o que ele não é. Este não é um disco óbvio. Ainda há espaço para a inserção de ideias criativas em velhas fórmulas, e o Rotten Filthy mostrou perícia nesse sentido. Ouça e confira o que digo.

 

Formação

James Pugens – Vocais

Alex Mentz – Guitarras

Marcello Caminha Filho – Baixo

Guilherme Machine – Bateria

Músicas

01 Freezing Desolation

02 Monarchy of Bliss

03 The Wise and His Servants

04 Into a Sacred Rite

05 Principle of Pain

06 Tyet

07 Lady of Sword

08 V

09 At the Depths of Your Realm

10 Ancient Pray

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