Independente do que qualquer um possa pensar sobre predestinação ou coisas do tipo, vamos, apenas por um momento, fazer um exercício de imaginação. Mesmo que a ideia possa parecer absurda, vamos contextualizar que o conceito de que a morte é um evento pré-definido, cujo dia e hora de acontecer esteja de alguma maneira “escrito”, seja algo fático. Se assim fosse, então todos os eventos que levaram Ozzy Osbourne a sair do Black Sabbath e iniciar uma carreira solo foram manipulados pelo destino. E tinham que ocorrer o mais rápido possível, porque Randy Rhoads teria pouco tempo na Terra e seu talento precisava ser escancarado para o mundo.
O que poderia ser mais expositivo, para o guitarrista em começo de carreira, do que ser o parceiro de um artista que já era uma lenda? Não obstante o Quiet Riot ser uma banda promissora, eles não eram uma vitrine ampla o suficiente para Randy. A mão do destino foi hábil e fez com que Ozzy não apenas encontrasse Randy, mas também se unisse ao talento do baixista Bob Daisley para juntos comporem as canções de um disco que – levando em conta que iria colidir de frente com a estreia do Sabbath com seu novo vocalista – não poderia ser menos do que espetacular.
Licks de guitarra, arpejos e quetais são coisas que me escapam a compreensão técnica, então não poderia falar apropriadamente sobre isso. O que eu posso apenas falar é sobre a emoção de ser um garoto de 15 anos de idade e ouvir, pela primeira vez, aquele som monstruoso de guitarra, aquele riff de “Crazy Train”, semelhante ao som de uma locomotiva que começa a se mover. Randy já surgiu no cenário ocupando um assento junto aos maiorais da época, gente do quilate de Glenn Tipton e Michael Schenker.
Mas se o assunto é riff monstruoso, esses já se fazem presentes logo aos primeiros segundos do disco, em “I Don´t Know”. Também nessa abertura já dá para perceber que Ozzy estava em ótima fase, sem qualquer resquício de abalo por conta da mudança na carreira, muito pelo contrário. Todo o disco denota a sua personalidade já bem conhecida, emoldurada pelo aproach oitentista que caracterizaria o seu modo de fazer música daí em diante. Tão oitentista que, por exemplo, a melancólica balada “Goodbye to Romance” não caberia em nenhum disco do Black Sabbath, mas soa perfeitamente bem inserida aqui. Esse momento de breve calmaria é seguido por outro riff forte, quando “Suicide Solution” começa e, logo após, dá passagem para mais um grande clássico atemporal do disco, junto com “Crazy Train”, que é “Mr. Crowley”. É impressionante como o solo dessa faixa soa tão coeso com a canção, tão uno com a melodia. Depois da boa canção “No Bone Moves” vem uma das minha preferidas, “Revelation (Mother Earth)”, com sua excelente sequência final instrumental.
As demais músicas seguem esse equilíbrio. Ozzy não é, e nunca foi, um grande cantor, mas tem um timbre de voz peculiar e, de certa forma, criou uma escola. No entanto, o que ele tem de sobra é um carisma incomparável, capaz de causar inveja a muitos frontmans. Ozzy tem um controle tão grande sobre a platéia que ele não precisa fazer muito. Se ele levantar um braço, instantaneamente a multidão responde com o mesmo movimento. O mesmo destino que fez com que Randy tivesse o seu momento de brilhar antes de partir para a imortalidade, foi o que fez de Ozzy, um sujeito sem muitas perspectivas de vida, se tornasse o artista que é. A união dos dois não poderia jamais ter sido obra do acaso.
Formação
Ozzy Osbourne – vocal
Randy Rhoads – guitarra
Bob Daisley – baixo
Lee Kerslake – bateria
Don Airey – teclado
Músicas
1 I Don’t Know
2 Crazy Train
3 Goodbye to Romance
4 Dee
5 Suicide Solution
6 Mr Crowley
7 No Bone Movies
8 Revelation (Mother Earth)
9 Steal Away (The Night)