Esta passagem de Roger Waters pelo Brasil certamente deixará marcas profundas. O artista, que é conhecido pelo cunho político em seus shows, tem dividido opiniões, sobretudo em um atual cenário de polarização política das mais severas que estamos atravessando. Após exibir no telão em seus shows em São Paulo e Brasília a #elenão e o nome do presidenciável Jair Bolsonaro como um dos neofascistas, ao lado de outros políticos como Donald Trump, Vladimir Putin e Marine Le Pen, os músicos que acompanham o ex-baixista do PINK FLOYD falaram sobre as reações da plateia.
De acordo com matéria assinada pelo jornalista Leonardo Rodrigues, do portal UOL, os músicos definiram as reações do público como “louca”, “triste” e “inesquecível”. Eles afirmaram que a mistura de susto e surpresa pelos protestos se espalhou pelos bastidores, se tornando o assunto do momento por onde quer que eles passassem, seja nos corredores de hotel ou nas passagens de som.
Ao exibir no telão a hashtag e também os nomes dos neofacistas, a reação do público foi de se dividir entre aplausos e vaias, além de diversos relatos de brigas entre pessoas por discordâncias políticas. O guitarrista Johnatan Wilson falou ao UOL que a banda não percebeu de imediato o que estava acontecendo: “Definitivamente não esperávamos por aquela reação. A banda usa retorno nos ouvidos, temos fones que atenuam o som ao redor, então eu não ouvi nada na hora. Somente no dia seguinte eu tomei conhecimento do ocorrido e de toda a questão política do Brasil.”
Jess Wolfe, uma das backing vocals também falou: “No momento foi um pouco confuso, porque fazemos shows em estádios de futebol na Inglaterra e às vezes os barulho de aplausos se parecem com os de vaias. Foi insano. Pensamos: O que está acontecendo aqui? E depois as pessoas estavam brigando. Foi algo lamentável e triste. Não foi nossa intenção causar isso aqui, a mensagem do espetáculo é a de união.”
Jess e Johnatan, naturalmente não têm profundos conhecimentos sobre a política brasileira, porém, endossam as críticas feitas durante as apresentações. E ambos concluíram que a situação aqui é a mesma vivida nos EUA, onde se tem apoiadores e críticos do presidente. O guitarrista afirmou ainda que “Todos estamos abertos a entender o que se passa no Brasil, mas que é preciso entender que a política faz parte do conceito do show e é normal que algumas pessoas não entendam o que é dito, apesar de gostarem do som. Faz parte do negócio (discordar) e temos de lidar com isso.”
Wilson ainda afirmou que no Brasil a polarização ainda é mais complexa do que nos EUA, onda a banda também fora vaiada pela mesma postura adotada por Roger Waters.
E se em São Paulo e em Brasília houve esse misto de vaias e aplausos, em Salvador, na última quarta-feira, a banda foi ovacionada, tudo em virtude da homenagem feita ao mestre de capoeira Moa do Katendê, assassinado com 12 facadas, supostamente por discordância política.
“Conversamos depois do primeiro show e estamos conversando todos os dias sobre isso (a polarização). Para além das posições políticas, o que estamos tentando simpatizar é com o sentimento de desesperança das pessoas aqui. A campanha do #elenão não tem a ver com apoiar um candidato, mas em rejeitar um deles. Isso é muito triste. Estamos discutindo o que é possível fazer para mudar isso e não fazer parte de nenhum discurso de ódio”, afirmou Jess.
Os músicos, apesar de manterem um pensamento positivo, admitem o clima estranho no palco e que essa estranheza deve ser mantida até o final da turnê “Us + Them“, prevista para terminar no próximo dia 30, em Porto Alegre, já com o novo presidente eleito. “A parte boa é que as pessoas estão tentando de alguma forma fazer a diferença, mas é muito triste a necessidade de extremismo. Eu não leio mais o Facebook, é sempre uma decepção. Queremos mostrar que acreditamos no amor e na união e queremos fazer as pessoas se sentirem bem nos shows, com amor e alegria”, concluiu ela.
Fonte: UOL