Já imaginou Scorpions com os vocais de Don Dokken? Isso chegou a acontecer em estúdio, bem na época que a banda alemã finalmente alcançava com força o almejado mercado norte-americano. Após a primeira bem-sucedida investida comercial com Animal Magnetism, o vocalista Klaus Meine precisou em 1982 operar suas cordas vocais, que na época estavam à beira de serem perdidas, cheias de nódulos e com um pólipo. Com um agravante: bem durante as gravações de Blackout:
“Eu não podia cantar. Simples assim”. Relatou Meine em entrevista ao site Noisecreep em 2012. “Então nosso bom amigo Don Dokken veio até a Alemanha e trabalhou com restante da banda no estúdio. Ele gravou algumas músicas com eles. De qualquer forma, eu fiz algumas cirurgias e descansei minha voz por mais ou menos seis meses. Quando finalmente eu voltei, eu estava realmente em uma boa forma. Eu até mesmo voltei a fazer vocais bem agudos como eu fazia nos álbuns mais antigos”, relata um contente Klaus Meine.
Até mesmo com um forte poder de imaginação, é difícil conceber o Scorpions com outra voz que não seja a de Klaus. Não à toa, o cantor alemão é considerado uma das grandes vozes da história do Rock, tanto por seu timbre único e característico quanto pelo seu dom de interpretação. Até mesmo aquela senhora aposentada que mora em Irecê na Bahia já ouviu sua voz e, muito provavelmente, deve se se sentir muito bem ao fazer isso.
Pois muito bem. Com sua voz restaurada, Klaus Meine se junta novamente ao restante da banda, na época formada pelo guitarrista fundador Rudolf Schenker, pela cozinha baixo/bateria Francis Buchholz/Herman Rarebell e pelo guitarrista Matthias Jabs, que cada vez mais se firmava como ocupante definitivo do posto. Com este time, o Scorpions grava seu oitavo álbum de estúdio, Blackout, um dos mais bem-sucedidos da carreira da banda.
Sob a batuta do lendário produtor Dieter Dierks (você pode conferir um pouco da história deste produtor na coluna “Produtores”, escrita por este que vos fala, clicando aqui) a banda forjou clássicos como a pesada faixa-título e a balada When The Smoke Is Going Down (mais uma prova de que o Scorpions é a banda que cria as melhores baladas do Rock). Músicas mais pesadas e rápidas como as que formam o combo Now!/Dynamite dividem espaço com as “Hardonas” Can’t Live Without You e Arizona. As semi-baladas com a assinatura e identidade do Scorpions mostram sua força em No One Like You e You Give All I Need. Além destas, o Scorpions ainda preparou para este álbum uma de suas composições mais legais, a “Zeppeliana” China White. Uma curiosidade sobre esta música em particular é que o solo de Schenker que consta na versão europeia do álbum é diferente do solo que foi registrado na versão americana, lançada pela Mercury.
Blackout sacramenta a sonoridade do Scorpions oitentista. Mais comercial e com mínimos resquícios das influências psicodélicas que se faziam presentes nos álbuns setentistas da banda. Resultado: posição de número 10 nas paradas norte-americanas, mesma posição alcançada em sua terra-natal. Mas o grande desempenho de Blackout foi mesmo na vizinha França, onde o álbum alcançou o topo das paradas. O single No One Like You também alcançou o primeiro posto da parada norte-americana Mainstream Rock.
Mal sabiam Schenker e Cia. que o Scorpions ainda estava no início da decolagem rumo a consagração no Rock, que viria a ser realidade no álbum seguinte, Love At First Sting (1984). Mas isto é assunto para amanhã aqui no Roadie Metal Cronologia.
Ah, o Don Dokken? Ele não foi completamente descartado de Blackout não. Ele registrou alguns backing-vocals no álbum.
BLACKOUT – SCORPIONS (HARVEST/EMI, 1982)
Tracklist:
01. Blackout
02. Can’t Live Without You
03. No One Like You
04. You Give Me All I Need
05. Now!
06. Dynamite
07. Arizona
08. China White
09. When The Smoke Is Going Down
Line-up:
Klaus Meine – vocais
Rudolf Schenker – guitarras
Mathias Jabs – guitarras
Francis Buchholz – contrabaixo
Herman Rarebell – bateria