O Guess Who é uma banda pertencente ao panteão de artistas clássicos, que se encontra em atividade desde a década de 60. Infelizmente, sua formação passou por inúmeras metamorfoses e, hoje, apenas o baterista Garry Peterson faz o link entre o primeiro disco e este último registro.
O decorrer do tempo, bem como o inevitável fluxo das mudanças pelas quais a música popular passou, em todo esse interregno, não parece ter afetado a forma como sua musicalidade soa. O fato da primeira faixa ser nomeada “When We Were Young” deixa claro que esse resgate não é gratuito. È natural, é o prosseguimento lógico de algo que foi iniciado naquele ponto do tempo e se desenvolveu. O que se encontra ao longo de todas as faixas de “The Future Is What It Used To Be” é um tipo de música que soa cada vez mais rara, apesar de ser extremamente familiar, pois bandas antigas se distanciam dela em busca de atualização ou modernidade e bandas atuais a replicam em forma de revival. Artistas da época, permanecendo íntegros ao gênero, são poucos e é por isso que esse álbum flui tão agradável ao nosso deleite.
O reforço para a concepção do disco veio com a escalação do baixista Rudy Sarzo, um sujeito cujo currículo acumula mais páginas do que algumas enciclopédias por aí. Ao seu lado, uma formação de músicos que transmuta feeling e preciosismo a cada instante de música e na qual se destaca o vocalista Derek Sharp, também conhecido simplesmente como D#. Dono de um timbre privilegiado e de personalidade suficiente para impor seu carisma sem copiar ninguém.
Para as gerações mais recentes é fácil encontrar familiaridade com a música do Guess Who através de bandas por eles influenciadas. Black Crowes é o nome que lhe surgirá em diversos momentos como “In America”, por exemplo. Já o single “Playin On The Radio” caberia como uma luva no repertório do Cheap Trick. “Runnin’ Blind” inicia com um riff que lembra parcialmente o de “Rebel Rebel” de David Bowie, para depois mergulhar numa deliciosa canção que cruza Slade com The Faces.
A grande magia deste álbum está no fato de que as músicas evocam no ouvinte as sensações de décadas passada, mas em nenhum momento parecem ser algo antigo ou reciclado. “Talks All The Time” transmite esse sentimento, mas resulta como uma composição cheia de frescor e vitalidade. É um equilíbrio único e delicado que só pode ser percebido a partir do entrosamento entre os músicos e do prazer genuíno que nasce do carisma das composições e as retroalimenta.
Leonard Shaw, o tecladista, é o segundo mais antigo nas fileiras do Guess Who, e é quem dá início à belíssima balada soft “Haunted”. Notar o papel de cada instrumento, durante o curto solo de guitarra desta faixa, é uma daquelas pequenas lições de arranjo que apenas a sensibilidade pode ajudar a perceber. A sensação de bem estar produzida por “Give It A Try” e a languidez de “Long Day” são destaques que somos forçados a destacar dentre um repertório repleto deles. Não existe urgência em “The Future Is What It Used To Be”. Existe apenas emoção. Concentrada, suave e latente como a música contemporânea parece por vezes ter perdido.
Mas não se engane, o Guess Who que nos surge aqui é tão contemporâneo quanto seus pares, diferenciando-se apenas por demandar uma presença obrigatória entre os melhores discos deste ano, fazendo que a sua continuidade no cenário musical não seja apenas a de um nome a mais, mas de referência e significado.
Formação
D# – vocal
Will Evankovich – guitarra
Rudy Sarzo – baixo
Garry Peterson – bateria
Leonard Shaw – teclado
Músicas
01 When We Were Young
02 Runnin’ Blind
03 Talks All the Time
04 Baby’s Come Around
05 Haunted
06 In America
07 Playin’ on the Radio
08 Give It a Try
09 Good Girl
10 Long Day