Heavy Metal Portugal – O documentário.
Um pouco da história dos Metaleiros Lusitanos.
Ontem (6 de outubro) foi a pré – estréia do lançamento de um DVD que muitos esperavam em Portugal: “Heavy Metal Portugal – o documentário” , produzido por João Mendes. A obra videográfica, realizada em aproximadamente 5 anos, contou com 135 entrevistas com artistas, produtores, donos de casas de show, pessoas do gênero. Durante a “Ante Estréia” como eles dizem, pudemos assistir ao filme, desfrutar de um meeting e ainda quem pudesse estar até mais tarde em Santo Tirso,(cidade onde foi realizado o evento), aproveitar uma noite de shows.
A apresentação começa com músicos da atualidade falando de suas primeiras experiências com o metal. Sabemos que quem tem na faixa de 30 anos fatalmente suas origens são bem permeadas com os anos 90, e quem tem mais de 40, os idos anos 80; quando a coisa toda acontecia. E foi assim que começou: Falaram de suas influências e de uma certa forma se apresentaram.
Em seguida, os artistas que fizeram história nos anos 80 iniciaram suas opiniões. Muitos músicos, alguns de mais de uma banda, puderam descrever seus pensamentos, suas histórias e opiniões sobre o desenrolar do metal em Portugal. Como em todos os lugares (que estão fora dos Estados Unidos e da Inglaterra), acredito que as dificuldades iniciais tenham sido as mesmas. Histórias hilariantes de concertos improvisados, equipamentos precários e uma tremenda “raça” para fazer tudo acontecer, nos faz pensar que a veia que corre na veia de um headbanger ou metaleiro, fatalmente tem o mesmo fulgor em qualquer lugar do mundo.
Basta ouvir as histórias do começo de um brasileiro, de um espanhol ou de um português, que as coisas meio que se misturam e se convergem para as mesmas alegrias e dificuldades. Essa universalidade, que hoje conhecemos como algo comum através da internet, nos anos 80 não era copiada, comparada ou medida. Era natural. E cada um mesmo em países e culturas diferentes, agiam da mesma forma, diante do poderoso desejo de fazer música!
Com historias sobre pirotecnias improvisadas, que acabavam por se tornar acidentes, situações sobre cantar em português ou inglês e a precariedade muitas vezes de fazer registros duráveis dessas épocas, até porque as gravações eram mais complicadas, muitas situações foram narradas enchendo nossos olhos com a curiosidade do passado. Um passado onde as coisas eram feitas sem dinheiro, carregando instrumentos nas costas, pagando estúdios caros e praticamente “vivendo” daquilo. No intuito de se parecerem cada vez mais com o que se consumia da Inglaterra, por exemplo, a vontade de fazer e acontecer ia indubitavelmente pela força de vontade e a união dos integrantes, que embora jovens, que teciam suas determinações em conjunto; sem competição e sem egocentrismos.
É interessante por exemplo, ver como o fim das políticas de ditadura (Estado Novo) português com o 25 de abril, na década de 70 e o fim da Ditadura Militar com as diretas já em 84 no Brasil, foram determinantes para a liberdade de expressão.
Houve quem dissesse que as apresentações no Rock Rendez Vous (uma sala de espetáculos) em Lisboa, trouxeram uma nova fase de ambientes para o metal e sim, com mais estrutura e mais organização. Atentos às necessidades dos músicos e seu público. E obviamente, todas as casas começaram a determinar os seus níveis de segurança, mediante as consequências de coisas que não deram certo. Portanto é tão importante a relação – público x músicos x casa de shows (ou bares).
Os anos 90 chegaram para mudar toda aquela insanidade benéfica dos anos 80. Mudaram a maneira abrir o “leque de opções” de se fazer e para se divulgar o metal, e uma mudança de paradigma que resultou num novo mercado do Death e Black Metal que se perpetua até hoje.
Junto com os anos 90, e não por acaso ocorreu a evolução das tecnologias de som, e seus técnicos. Os produtores ou Managers surgiram para organizar e representar os artistas. As coisas pareciam que estavam ficando mais sérias, e aquela coisa escrachada dos anos 80, parecia ter tomado um rumo mais brutal na música, mas mais refinado no tratamento das gravações de discos, nos ensaios aos estúdios, nos concertos (shows) ou nas digressões (tours).
O fato é que sem sombra de dúvidas, o aparente respaldo da tecnologia e a evolução do pensamento “empresarial” de uma banda deparou-se com o preço material das coisas. As coisas eram caras, e não obstante por acaso, uma vez que o avanço das tecnologias analógicas para as digitais fatalmente gerariam um investimento absurdo em algo novo. Tal como o surgimento do CD e do DVD, dando lugar ao Vinil; os novos equipamentos de som, amplificadores, mesas, e as tecnologias que os estúdios tiveram que se adaptar. Muitas coisas modernas vieram qualificar o Metal, mas não quantificar. A adesão diminuiu.
A Recital Records, a Raising Legends e outras editoras ou gravadoras, não desistiram da ideia de valorizar esses artistas e muitos portugueses foram abraçados com a ideia de que ainda se podia fazer metal e acreditar verdadeiramente numa expansão internacional. Locais como Metal Point, Festivais como Swrbarroselos metal fest; vieram agregar a essa luta pela continuidade do metal português. E particularmente, também adicionaria o Vagos, que obviamente surgiu algum tempo depois. E sem dúvida, destacar a Polygram e o apoio jornalístico da Rádio Comercial.
Com o investimento caro das novas tecnologias digitais, com a diminuição da adesão aos concertos, os artistas de música pesada começaram a tirar o dinheiro do próprio bolso, porque obviamente era impossível ganhar dinheiro com vida artística. O investimento do bolso parecia de fato pesado, a não ser que se tivesse um emprego em paralelo. Por causas óbvias, não tem como investir massivamente numa coisa que não paga as contas ao fim do mês. Também, aqueles jovens dos anos 80 constituíram família, ou dedicaram-se a empregos paralelos.
É natural as coisas mudarem de figura. As pessoas crescem, mudam de interesse, mudam de foco ou realmente a coisa de ter filhos, e um lar; fica como a escolha de prioridades da vida.
O som hoje produzido por artistas jovens que tem um emprego para se sustentar, ainda é cheio de sonho e consideração. Vejo pessoas altamente empenhadas em sustentar o apoio ao Metal em Portugal, em dimensões menores se comparado a outros países do mundo, mas com um público que vai aos concertos, festivais e a aposta é frequente. Vale um destaque aqui também a Bunker Store e outras lojas que apoiam ao movimento. Vale a pena entender, que sempre haverá esse nicho, e quanto mais produções há no mundo, mais importante isso será. Obviamente sem comparar aos países nórdicos, que o Metal é patrimônio dos países, e recebe subsídios e apoios para manterem-se.
Futuro.
Gosto de analisar o que se tornou os anos 2000 em diante. Mas parece que houve um hiato até 2010. Este intervalo não se deixou de fazer as coisas. Mas o movimento meio que alastrou de forma a atingir apenas seus nichos. O metal estava em festivais, estava na casa das pessoas (com os discos) e até nos bares. Mas foi em 2000 em diante também que começaram os chats, as redes sociais como o HI5 na Europa e o Orkut no Brasil. O estreitamento da comunicação se alastrou, mas foi em 2010 pra cá que o BOOM das redes sociais determinou complemente a vida das pessoas. Se a nova era do século XXI é nomeadamente da TECNOLOGIA, podemos afirmar que nunca mais nos livramos ou nos livraremos dela. De forma gradativa e brutal, nossos dedos pararam de apertar (carregar) teclas, para deslizar. E cada vez mais é tão fácil consumir. Um consumo particular, velado e imenso; sem precedentes, dos Streamings e das plataformas de vídeo.
Facilitou o acesso. Mas diminui ainda mais a ida aos concertos, a compra dos discos. Acredito firmemente que ainda há gente para colecionar Vinis, CDs e DVDs. Mas não tem a mesma rapidez que um MP3 ou um som que sai do próprio dispositivo móvel é capaz de permitir. Nem nunca será tão maravilhoso quanto ter uma fita cassete nos anos 80. O consumo de música pela internet hoje é discutível. Pois ampara vantagens e desvantagens consideráveis.
Mas voltando ao assunto do futuro dos artistas de música pesada em Portugal, sinceramente fiquei convencida de que há muita gente que ainda faz e faz muito bem feito o seu som e será incansável no seu trabalho e fomento pelo metal. O que falta talvez seja, alguns fatores abordados em conversas com pessoas do meio… Competições entre bandas, brigas por causa de “mulher” ou outros fatores em que o orgulho e o machismo sobrepõe a amizade de palco. Até mesmo a rivalidade do Norte e do Sul, prejudicando consideravelmente que todos possam ser unidos e felizes.
O mais importante afinal, conforme alguns artistas definiram, é a resiliência.
Passar pelos momentos difíceis juntos e com paciência, tentando resolver as coisas. Isso serve para tudo na nossa vida. Resistir aos tempos de “vacas magras” ou de “celeiro vazio” com determinação. E unidos para tudo que vier, alcançar o sucesso e a perpetuação de seu trabalho, como o Moonspell ; por exemplo, que dispensa justificações sobre seu sucesso. Fernando Ribeiro deixou claramente que a união deles foi determinante para o sucesso. O mesmo disse Steve Harris sobre o Iron Maiden. Acho que é um bom ensinamento.