E então haviam dois Tank’s…
Em 2007 acontecia uma nova separação da banda fundada em 1980 pelo vocalista/baixista Algy Ward. Desta vez, ao que parece, sem chances de retorno. Diferentemente do que aconteceu na primeira separação em 1996, a mesma não foi amigável, de modo que as duas entidades conflitantes, Ward de um lado e os guitarristas Mick Tucker/Cliff Evans do outro, se acharam no direito de darem continuidade ao nome e legado do Tank, de modo que duas bandas com mesmo nome passaram a existir.
Algo que não é tão incomum assim no meio Rock/Metal. Durante os anos 80 houveram dois Pink Floyd’s por um tempo, pois Roger Waters e David Gilmour se acharam no direito de carregar o nome da banda. Também já existiram dois Deep Purple’s (essa disputa foi ridiculamente conduzida por parte do ex-vocalista Rod Evans) e dois Queensrÿche’s também co-existiram por um tempo. Também existem dois Saxon’s (sendo o mais obscuro chamado oficialmente de Oliver/Dawson Saxon), dois Ratt’s e dois Rhapsody’s (neste caso, as duas versões parecem conviver amigavelmente). Existem muitos outros exemplos, os quais você, caro leitor, pode lembrar e colaborar nos comentários, para que este texto não se alongue muito além de seu escopo.
Voltando ao caso Tank, não sem antes um comentário de foro editorial: este redator em particular não defende que este Tank (doravante designado como Tucker/Evans Tank) ou o outro Tank seja o verdadeiro. O próprio site Encyclopaedia Metallum, conhecido pelo rigor em classificações de estilo e histórico de bandas, não entende que este Tank seja o mesmo dos anos 80. Em minha opinião, o álbum War Machine é o primeiro álbum do Tucker/Evans Tank, e não o sétimo álbum lançado pela banda fundada em 1980 (questões interpretativas; você, leitor, entende como quiser). De volta a história: segundo Evans, em entrevista ao site Metal Crypt, Ward não estava mostrando mais nenhum interesse em trabalhar com a banda desde 2001 e a deixou em 2007. Devido ao bem-sucedido lançamento do box The Filth Hounds of Hades – Dogs of War 1981-2002, lançado em 2007, os guitarristas se sentiram motivados em continuar com a banda. Após este anúncio, Ward resolveu também por em prática seus novos projetos também sob o nome Tank, que ele defende com unhas e dentes que se trata do verdadeiro Tank, com aquela linguagem polida e educada do qual ele sempre lançou mão.
O fato é que o Tank mais consistente e bem-sucedido desde então é o que está sendo comandado pelos guitarristas. Para fechar o line-up desta reformulada banda, os músicos arrendaram ninguém menos que o vocalista Doogie White, que dispensa apresentações. Para a bateria foi trazido Dave “Grav” Cavill e, para o contrabaixo, Chris Dale, que tocou o instrumento no pavoroso e horrendo álbum Skunkworks (1996), de Bruce Dickinson. Foi com esta formação que a banda começou a trabalhar em novíssimas composições que vieram a integrar o primeiro álbum do novo Tank, War Machine.
Lançado em 2010, o mesmo foi gravado no Pedrock Studio, sob a batuta do produtor Pedro Ferreira, a menos da bateria, que foi gravada no Barnyard Studios sob a supervisão de Tony Newton. O que se vê neste álbum é um Tank bem mais melódico e sem as influências Punk que tanto destacaram a banda original nos anos 80. Tais constatações fizeram os fãs antigos da banda original torcerem o nariz para este trabalho, como o próprio Evans afirmou na mesma entrevista ao Metal Crypt.
Por outro lado, o guitarrista afirma que a maioria dos fãs que passaram a acompanhar a banda ao vivo adoraram as novas composições e que pouca gente sequer lembra de Algy Ward (?!). Pois bem. A abertura com Judgement Day mostra que o novo Tank veio com tudo em se tratando de peso e cadência, elemento este que também se faz presente em Feast Of The Devil e na faixa-título, de modo que estas duas últimas lembram bastante a fase oitentista do Black Sabath devido ao ritmo lento, os novos tons adotados pela banda e os vocais monstruosos e cirurgicamente encaixados por Doogie White.
Algo do Tank oitentista emerge nas mais cruas e enérgicas Great Expectations e The Last Laugh. Uma forte veia NWOBHM dá as caras em Phoenix Rising, bem antes que a balada After All chegue para esfriar os ânimos em cinco minutos que não empolgam; só valem a pena pela voz de Doogie. World Without Pity é mais uma tentativa (muito boa, por sinal), em soar cadenciado com o fim de enaltecer o grandessíssimo trabalho de guitarras de Tucker/Evans. My Insanity encerra os trabalhos de forma belíssima e tocante, perpassando por todos os estágios apresentados pela banda ao longo de todo o álbum numa faixa só.
É lógico que os fãs mais antigos sentem a falta de Ward neste Tank mais polido e melódico (podem encontrá-lo no outro Tank, se conseguirem suportar as péssimas produções que o mesmo tem conseguido injetar em suas ótimas ideias). O fato é que este renovado Tank mostra ousadia em seu primeiro álbum, sem obrigatoriamente se prender à encarnação oitentista da banda, mas também sem deixar de olhá-lo para não perder de vez a sua essência. Agora temos dois Tank’s (ou três, contando com o original!): o sujo e encardido comandado pelo fundador Algy Ward e este mais refinado liderado pela dupla Tucker/Evans. Não escolha somente um deles; vá com os dois, e a vitória estará garantida nesta guerra.
War Machine – Tank (Tucker/Evans) (Metal Mind, 2010)
Tracklist:
01. Judgement Day
02. Feast Of The Devil
03. Phoenix Rising
04. War Machine
05. Great Expectations
06. After All
07. The Last Laugh
08. World Without Pity
09. My Insanity
Line-up:
Mick Tucker – guitarras
Cliff Evans – guitarras
Doogie White – vocais
Chris Dale – contrabaixo
Dave “Grav” Cavill – bateria