Gojira é uma daquelas bandas que é difícil categorizar como um único gênero. A banda surgiu em meados dos anos 90, época em qual chegou lançar muitas demos (Victim, Possessed, Saturate, e Wisdom Comes). Sempre focada no experimentalismo e em quebrar barreiras da música pesada, o Gojira marcou o cenário, sendo um dos precursores da onda Metalcore. Eu sei que esta muitas vezes é uma “palavra suja” entre a cena metal, mas o movimento é muito mais abrangente do que muitas pessoas sabem, e muitas bandas de peso e qualidade inquestionável surgiram do mesmo.
Hoje nós estamos aqui para falar do debut da banda francesa, que teve um início, no mínimo, ousado.
Gojira foi formado em 1996 na cidade de Bayonne, na França. A banda sempre demonstrou ambição acima da média, lançando nada menos que 4 demos antes de seu primeiro full-length. A banda originalmente era chamada Godzila, porém foi necessário uma mudança de título devido a problemas com direitos autorais. O novo nome escolhido foi “Gojira” por ser a representação do título do clássico filme japonês no alfabeto rōmaji (alfabeto japonês designado para escrever palavras ocidentais).
Este primeiro álbum da banda é o que se esperaria de um debut de qualquer banda: Cru e com influências claras de outros trabalhos, mas ao mesmo tempo já trazia consigo a ambição e a fome de inovação pela qual o Gojira viria a ser reconhecido.
Ao decorrer do álbum, é possível reconhecer influências claras de Carcass, Dying Fetus e Meshugah, mas sempre com uma camada extra de progressividade e experimentalismo. Por mais que, comparado a outros trabalhos da banda, este álbum possa ser considerado “primitivo”, é sempre interessante ver origens de bandas consagradas, principalmente aquelas que influenciaram toda uma geração e fizeram parte da criação de um novo gênero. E, para um trabalho de estréia, o Gojira desbravou muitas terras nunca antes exploradas neste trabalho.
O Death Metal Progressivo já estava longe de ser uma novidade, com bandas como Death, Atrocity, Atheist e Cynic já fazendo parte da cena por um bom tempo, o Gojira ainda assim conseguiu demonstrar um certo nível de inovação em seu debut. A verdade é que você não encontraria muito material parecido com o que a banda estava fazendo na época de seu disco de estreia.
O som é um Death Metal calcado no experimentalismo, e extremamente preocupado em quebrar tradições do Heavy Metal para fugir da mesmice. A mistura do vocal gutural com o vocal limpo, a alternação entre momentos extremos, cadenciados e melódicos e a ausência de solos em boa parte das músicas são todas provas disso, além de características que viriam a ser padrões de todo um gênero musical.
Por mais ambicioso que seja, este álbum de estreia não deixa de carregar alguns dos problemas clássicos de vários debuts do Metal. Por mais que contenha uma dose cavalar de experimentalismo, o mesmo ainda soa repetitivo em momentos. A produção ainda é crua, e muitas passagens soam semelhantes demais a outras bandas.
“Clone”, “Lizard Skin”, “Blow Me Away You(niverse)” e “Rise” são os destaques, apesar de que muitos podem argumentar que são as músicas mais “simples” do álbum. Pode ser verdade, mas eu argumentaria que a banda simplesmente não havia se encontrado em seu experimentalismo ainda, com muitas das outras passagens, em momentos, soando aleatórias e fora de lugar.
Você vai encontrar aqui muitas características que viriam a ser padrões do Metalcore: Breakdowns, passagens melódicas e uma quantidade generosa de groove nas músicas. Porém, diferente de bandas como Killswitch Engage, o Gojira apostou em uma sonoridade mais progressiva e menos comercial, mostrando que a nova onda do Metal (que viria a ser conhecida como Metalcore ou Deathcore) não viveria apenas de bandas acessíveis ao mainstream.
Em conclusão, este álbum é um debut extremamente ambicioso e ousado. A banda não teve medo de quebrar as “regras” estabelecidas do Heavy Metal, e isto é sempre respeitável. O Gojira ainda viria a evoluir muito em seus trabalhos consecutivos, mas ainda assim este é um álbum respeitável, pela ambição e pela promessa de que algo novo estava a surgir.
Tracklist:
01 – Clone
02 – Lizard Skin
03 – Satan Is A Lawyer
04 – 04
05 – Blow Me Away You(niverse)
06 – 5988 Trillions De Tonnes
07 – Deliverance
08 – Space tIME
09 – On The B.O.T.A
10 – Rise
11 – Fire Is Everything
12 – Love
13 – 1990 Quatrillions De Tonnes
14 – In The Forest
Formação:
Joe Duplantier – Vocal, guitarra base
Christien Andrau – Guitarra solo
Jean-Michel Labadie – Baixo
Mario Duplantier – Bateria