O álbum Kiss of Death do Motorhead, lançado em 2006 pela Sanctuary Records é uma obra que possui duas características principais, latentes e digamos…Divergentes: O tradicional e fulgurante vocal de Lemmy Kilmister no seu conhecido estilo rasgado e a pegada inusitada do “Blues”e “Hard Core” presente em algumas composições.

Ainda atuando com seu potencial de homem hedonista e irrepetível, Lemmy tenta ainda fazer acontecer o som de seu baixo trazer a tona a identidade de tantos anos de carreira, embora quase não se ouve. O diferencial é o tempero de novas escolhas que fariam deste e do trabalho anterior “Inferno” de 2004, um complemento “hors concour” ao conjunto de suas composições. O punk, o metal e o blues se confundem na atitude, nas nuances e nas composições conceituais, com os assuntos que sempre foram a cara da banda: Sexo e Poder “Masculino”.

Sucker inicia o álbum e poderia ser qualquer um de seus outros discos em mais de 30 anos de carreira, pois parece que ainda estamos ouvindo Ace of Spades. E claro, joga na sua cara que você é mesmo um “otário”, ainda tentando reconhecer alguma coisa realmente diferente neles. Na verdade trata-se de uma espécie de personagem que acompanha um desenvolvimento ao longo do disco. Ligam-se os motores.yyo

“Nobody cares if you’ re in or you’ re out,
Were gonna give you a smack in the mouth,
Whether you go or whether you stay,
I guess it just ain’ t your day,
Sucker”

Ainda nos sons dos anos 80, Lemmy vem nos dizer alguma coisa. O mesmo homem espertalhão que adora “pegar” umas mulheres na estrada e mostrar como que é ter um momento de prazer, chega na sua primeira paragem.  O imaginário do poder “masculino” ou potente machão pegador sempre fez parte da identidade das letras e deste polêmico senhor do metal. No entanto, há sempre uma boa guitarra e um ritmo Rock n Roll, que faz ele ser quem é…

“Love, at first sight, love with a travelling man,
I been a slut all my life,
Wish every night was a one-night stand.”

Não surpreendente,  Devil I Know, tem o mesmo sentido apresentado. Dessa vez ele despreza a “garota”. As guitarras estão melhores, e o riff é mais empolgante. Em termos de melodia,  é melhor que a anterior. Mas a letra é a mesma ladainha machista.

“Ain’t gonna change a thing,
Ain’t gonna change my ways,
I don’t care where you’ve been,
I don’t care where you go,
Going back to the devil I know.”

Trigger é mesma coisa. Aqui os solos de guitarra ganham mais “corpo” e são mais empolgantes… e a frase

“You know I’m weird, I know I’m weird,
I’m crazy!”

demonstra claramente o que o personagem se pretende a ser. Vê-se a evolução musical e o “conceito” por trás das letras.

Under the Gun é a tal chamada para o Blues. A letra e a composição sonora determina que a banda queria enriquecer o trabalho, com um diálogo mais elaborado entre a guitarra e o charme do Blues. Mas claro…nada podia ser tão diferente de uma letra insistentemente voltada para o desejo incessante de mostrar o quanto ele é o “deus do sexo”

“…Just one more chance, the horizontal dance.”

Feche os olhos. É a vez de God Was Never On Your Side. A voz de Lemmy é tão doce! Phil Campbell dedilha uma balada que parece nos levar para um outro patamar do disco, pois afinal mais se parece uma trilha sonora… Vamos subir na moto e seguir um caminho qualquer ouvindo que “Deus não está do seu lado.” Mas curiosamente o “Bad Boy” desta letra está nos ensinando a seguir nosso próprio caminho sem ilusões, e encontrar os próprios meios de uma busca da própria verdade. Um respiro harmonioso entre as canções tão  curtas como as “rapidinhas” no banheiro da estrada.

“Let right or wrong, alone decide

A voz suja e rasgada de Lemmy volta possante, mas dessa vez ele parece preferir reconhecer-se de fato “saudosista” ou “arrependido” voltando ao passado para relembrar como era bom ter amado alguém alguma vez e ter perdido isso para sempre. A canção que considero mais interessante para ser tocada ao vivo, e tem um bom ritmo! É a Living In The Past.

So now we are the lost,
And now we are the last,
Living in a nightmare,
Broken dreams, love turned mean,
Living in the past”

Cristine deve ter sido a garota mais interessante para encontrar na estrada da sua vida. Ela não era só uma “bitch”, ela tinha qualquer coisa a mais e ele está mais animado em reencontrá-la e o som é mesmo bom!

“She moves like a rattlesnake made out of razorblades,
That girl can’t help it, just the way she’s made,
I would run all around the world, just to see that girl,
She sure loves playing with the ace of spades”

A moto está mais acelerada pela rota dos sons metálicos do Motorhead. Agora o ritmo é mais acelerado e tem energia. Depois de estar mais feliz, o convite é conhecer o futuro de um guerreiro. A espada da glória – Sword Of Glory é para os guerreiros e a harmonia convence, e a letra salva as almas perdidas na luxúria.

” Soldier, soldier, see where we were,
You have to know the story,
Older or colder, life ain’t fair,
Got to grab the sword of glory”

De volta à alto estima, o Dr. Sexo está agora mais animado do que nunca e quer para si uma dose de loucura e aventura para poder continuar fazer jus à sua alcunha. No ritmo de energias sentidas em 4 paredes,  Be my Baby é um convite para a dança do acasalamento com “agulhas” à mostra.

“Be my baby, I ain’t gonna cry
Shut your mouth, wanna do the dog
Sex with needles, gonna get you off
Outlaw, outlaw, no ma’am, no way”

No auge da sua pegada mais hardcore, a influência Punk de Kingdom of the Worm parece dizer qualquer coisa nesta canção com ritmos descompassados, convidando ao retumbar de baterias bem mais enérgicas e algo que nos leve a um ritmo mais agridoce, para não dizer salgado com limão… Algo como Marguerita quente depois do jantar.

“Can I remember, I remember you, no
Can I remember gold, I remember silver eyes
I remember silver skies, I remember awesome pain
I can hear the horse in darkness, Only he dreams of glory”

É hora de ir para casa ou desaparecer na fumaça dos canos de descarga de motos em alta velocidade com machões barbudos, cabeludos e mal encarados que gostam de uma confusão, porque confiam muito bem em si mesmos. O som é Going Down. Sim, fechamos este álbum com um solo de guitarra linear mas que representa bem o final desta história.

Um álbum que fala mesmo de qualquer aventura que esteja no imaginário dos rapazes sem medo de viver livremente sua loucura hedonista, e mandar  para a “pqp” quem não está à sua altura. Não há espaço para caras fracos quando o assunto é o vigor agressivo e determinado de Lemmy Kilmister. E não falta gente para admirá-lo!

Há duas faixas adicionais: Whiplash – Cover do Metallica, que foi bem executada e  R.A.M.O.N.E.S. que ele homenageia Joey Ramone.

https://www.youtube.com/playlist?list=PLA2F45A3570ABDD69

Formação:
Lemmy Kilmister (vocal e baixo);
Phil Campbell (guitarra);
Mikkey Dee (bateria).