Resenha: Dee Snider – For the Love of Metal (2018)

Dia sim, dia não, estamos expressando lamentações pelo fato de que nossos heróis da música estão se aproximando do final de suas carreiras. Isso é um fato, é inevitável e não há muito o que fazer além de nos prepararmos para o encerramento de atividades de toda uma geração.

Mas de vez em quando surgem evidências de que os veteranos ainda têm cartas na manga para chutarem traseiros por um período indefinível de anos. E “chutar traseiros” é a definição precisa para o que Dee Snider fez em seu novo trabalho solo, um disco concebido literalmente pelo amor ao Metal.

“For The Love Of Metal” é um disco de intérprete. À primeira vista, soa estranho que um compositor como Snider não tenha escrito canções para seu próprio álbum, mas é bem simples de entender. A gênese do projeto surgiu de uma sugestão de Jamey Jasta, vocalista do Hatebreed, para que Dee gravasse um disco de Metal contemporâneo. O icônico cantor refletiu e abraçou a ideia de concepção do trabalho, que foi produzido pelo próprio Jasta, mas entendeu que, para compor nesse estilo, seu modo natural de produzir seria afetado, pois ele precisaria “imitar” uma maneira de compor, daí a terceirização dessa etapa de criação.

O que não significa dizer que Dee esteja descaracterizado. Não, a concepção do repertório foi acompanhada de perto por ele e o resultado não deve alienar os órfãos do Twisted Sister, pois o principal, sua voz e sua personalidade como vocalista, estão incólumes. O peso e a intensidade presentes, por outro lado, não fazem conexão muito próxima com o clima de diversão que era um dos componentes-chave do som daquela banda. Não há traços de Hard Rock ao longo das faixas e pode ser dito que a música “Become The Storm”, com seus backing vocals e melodias de guitarra, seja a que mais se coaduna ao repertório antigo.

Se a ideia era realizar Metal atual, essa foi bem sucedida. As doze faixas presentes são repletas de ganchos e melodias fortes. Os destaques se concentram nas extremidades do álbum, iniciando pelo arrasa-quarteirão da abertura “Lies Are A Business”, com toda sua aceleração. “Tomorrow’s No Concern” nos leva a acreditar que a garganta de Snider não envelheceu de acordo com sua idade cronológica, fazendo com que os versos da ótima “I Am The Hurricane”, onde ele diz “Eu sou uma força da natureza”, soem absolutamente verídicos e inquestionáveis.

Alguns convidados marcaram presença, como Mark Morton (Lamb Of God) e Joel Grind (Toxic Holocaust), mas as parcerias vocais ficaram para os momentos finais, com “The Hardest Way”, que traz o ex-vocalista do Killswitch Engage, Howard Jones, tendo melhor sorte do que a cantora do Arch Enemy, Alissa White-Gluz, cumprindo bem o seu papel na balada dark “Dead Hearts (Love Thy Enemy)”, mas sem conseguir elevar o material que recebeu para trabalhar. A música não é ruim, longe disso, mas fica aquém de corresponder ao nível de expectativa que um encontro desse tipo gera, desperdiçando o potencial da oportunidade.

No geral, o disco é uma coleção de pontos altos. Os pequenos revezes são momentos pontuais que passam longe de macular a obra. A qualidade das canções é reforçada pelo carisma de Dee, mas também possuem brilho próprio que retroalimentam o resultado. O título da faixa que nomeia o disco, deixada para o encerramento, é bem sincero e a mesma é um daqueles números que a gente sabe que vai gerar reações explosivas quando for executada ao vivo. As vozes em cima do palco e na plateia gritando juntas, bem alto, uma declaração de amor.

Faixas:
01. Lies Are A Business
02. Tomorrow’s No Concern
03. I am The Hurricane
04. American Made
05. Roll Over You
06. I’m Ready
07. Running Mazes
08. Mask
09. Become The Storm
10. The Hardest Way
11. Dead Hearts (Love Thy Enemy)
12. For The Love Of Metal

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