A NED’s é uma banda de vários gêneros, fazendo uma lavagem sonora contemporânea e atual, letras cuspidas e gritadas, preocupadas com a lírica e mensagens sublimes, desenvolvendo um som mais alternativo com letras mais intensas e harmonias distintas.
O nome da banda surgiu de um dos personagens do filme “Número 23”, de Joel Schumacher, significando Neurótico e Destruidor.
Tocando pelo cenário underground de Fortaleza e Região Metropolitana conseguiram atingir a massa alternativa.
A banda acabou dando uma parada em outubro de 2013 para a gravação do disco “Alicerce do Caos”, voltando às atividades no final de 2016 para terminar a gravação do álbum. A banda é formada por Fábio Macieira (vocal e guitarra), Igor Atila (vocal e baixo), Marcilio Mendonça (guitarra solo) e Francisco Jander (bateria).
Temos em mãos o disco de uma das bandas mais representativas do nordeste brasileiro, NED’s. Antes mesmo de ouvir, a arte visual já chama a atenção, tanto pelas cores que contrastam o material. O Grunge com som visceral é praticado com muita elegância por poucas bandas e ao mesmo tempo a NED’s apresenta pequenas lapidações de outras vertentes dentro do disco. Algumas pitadas do Thrash e, subindo um pouco a escala da sonoridade extrema, muita coisa de Hardcore está enraizado nas influências da banda.
Vamos à Ficha Técnica:
Todas as faixas de bateria foram regravadas. O álbum “Alicerce do Caos” foi todo gravado no estúdio Ruído 111, teve uma duração de 4 a 5 anos, e na reta final todas as linhas de bateria foram regravadas novamente dando mais trabalho a obra prima do produtor Paulo Eduardo, exceto a música “Silêncio a Dois”, gravada com o antigo baterista Paulo Henrique (Paulin).
Artwork da capa: “essa foto foi tirada por Isabelle Moraris @Isabellemoraris e Tatiane Amorim, a modelo”. Fabio Macieira fala sobre o trampo: “queríamos algo mais simples e chocante ao mesmo tempo, sem pudor, sem medo e tão real que os olhos se apaixonam à primeira vista, toda a beleza e suas fases. Por isso o encarte tem duas cores, justamente para representar o humor!”, e complementa: “A arte foi escolhida por mim e modelada pelo Attilizo, baixista, e produzido fisicamente pela Proaudio”. A capa é em papel couchê, com encarte super bem produzido para acompanhar as letras e ficha técnica. Por dentro da capa tem um vinco lindo, um corte em formato de onda que faz toda a diferença no design do invólucro que protege o CD.
Em “A Realeza”, música de abertura do CD, encontramos um peso inesperado, que surpreende e empolga já nos primeiros riffs com uma distorção bem peculiar, e a precisão de um coração batendo acelerado num pulso firme e contínuo, e quando abre a latinha para o Macieira cantar é ainda maior a surpresa.
Do solo da guitarra, já parte para um groove onde o baixo e a bateria seguram a base e a música tem um breve momento de calmaria, para logo em seguida retomar o ponto de partida do peso inicial. Na letra existe algo de protesto e amor quando nosso interlocutor diz: “Você tem medo, medo de mim”, deixando a livre interpretação para quem acredita que a burguesia teme a nossa revolta.
Já em “Estilo Suicida” temos uma abertura inicial não menos pesada que a música anterior, porém com muito mais quebradas, onde mergulhamos num som com muito peso e distorção. Também fica perceptível e nítido o uso do pedal duplo na abertura da música. As interferências planejadas e ruídos também tem um efeito especial para quem ouve.
Na verdade o NED’s tem aquilo que eu procuro em qualquer banda: a originalidade, a centelha única, um DNA sonoro impresso em suas músicas que as distingue de qualquer outra banda ou projeto, personalidade, aquela sonoridade que se reconhece já nos primeiros acordes de suas composições, que fica fácil de identificar quem é que está tocando.
“Infectados Pela Sujeira”: “Arranho os meus olhos, Arranho a minha pele e não dou a mínima, Fui infectado pela Sujeira”. Com certeza essa é minha música preferida por ela ter uma levada completamente Hardcore e uma temática de protesto subliminar onde pesquei do Fábio Macieira que a sujeira que infecta aqui são as sujeiras do sistema, onde há um grito de revolta, desespero e um urro de dor.
Veja no YouTube imagens de performance da banda nos palcos de Fortaleza, juntamente com a reação da galera num mosh pit nervoso e um pogo muito perigoso. Assista e tire suas próprias conclusões se não confia na minha opinião:
“Perdendo Minha Alma”: Aqui mostra uma claríssima influência do grunge na música, pois a intro começa sem muita distorção e consigo sentir e identificar quase que uma homenagem a Kurt Cobain.
“É assim que Destrói”: Ela pode até enganar na abertura. Você pensa que vai ouvir uma música estilo Grunge clássico, mas ela me atropelou com um Hardcore esmagador que foi um punkada na minha orelha e ocupou a posição de favorita já nos primeiros acordes.
E o refrão pega e não desgruda mais: “Fique longe de mim!!!”.
A música trata de um tema interessante: afastar as pessoas para não sofrer rejeição.
“Guarde Suas Crenças”: Porque tudo que você conhece vai cair por terra com essa música e mais uma vez o destaque vai para o baixo, que trabalha como se estivesse flutuando sobre a música, e também sobre os outros instrumentos, em destaque e marcando a música o tempo inteiro é um groove de peso, que mantém um tenso equilíbrio sonoro entre todos elementos envolvidos neste elaborado sonoro sem igual.
Em “Inflama” temos um momento de mais calmaria, não menos denso, onde o baixo e bateria têm um breve diálogo mais intenso na introdução, utilizando as guitarras como pano de fundo para essa conversa. Quando o vocal do Macieira entra podemos entender toda a dor e aquele sentimento de perda, aquele sentimento de derrota. No decorrer da sonata as guitarras passam a deixar simplesmente de ser pano de fundo para ter um destaque, onde fica clara aquela sensação de quem foi desprezado e se sente desprezível.
Com “Anjos Caídos” a bateria chega a ser tribal em alguns momentos, mas o baixo não fica por menos e a guitarra solo também tem seu devido destaque nessa música, que tem um início suave, mas numa nuance, num piscar de olhos, ela ganha um peso e uma distorção, que na mesma nuance volta retornando para a leveza, fazendo assim um jogo, como uma luta, tentando se equilibrar entre a suavidade e a distorção, um duelo entre o bem e o mal.
Pronto, chegamos na música “L.S.D.” e aí está a o brilhantismo da guitarra num galope frenético, cavalgando lado a lado da bateria, com um riff agudo e pesado, que é complementado pelo baixo. A guitarra se sobressai lindamente durante todo o percurso percorrido pela música, a bateria também mantém o pulso firme, quando entra a voz solicitando “sufoque-me”, questionando “o que é belo o que é justo”. Acho que é um momento lindo em que a toda banda mostra sua genialidade, restando uma monstruosa desconstrução sonora no final deste ato e finalizando com um efeito similar de uma sirene que acredito que seja reproduzido por uma das guitarras.
Em “Sonho de Vidro” temos uma introdução limpa e suave, uma melodia de canção de ninar através das voz de Fabio Macieira, um dueto limpo e lindo entre a guitarra e o vocal, com uma temática delicada “Você contempla o meu suicídio e não implora o meu perdão eu vivo e morro todos os dias, venha para o meu leito superficial….”. Essa música me atinge em cheio pois o ponto alto aqui é a poesia lírica da letra me fazendo voltar exatamente naquele ponto da minha existência, onde já me senti derrotado e desprezado, e não minto pra vocês: Aqui nesta introdução eu sinto as lágrimas brotarem em meus olhos. Se não acreditam, ouçam! Mas ouçam com atenção, não no sentido auditivo e sim do sentido de sentir, de captar a emoção que essa música transmite.
Essa música me faz lembrar todos os fundos de poços que já tive, porém, no segundo ato, ela revigora, cresce, distorce, como se fosse impulsionada pela raiva, fio condutor da salvação de quem foi desprezado ou se sentiu assim em algum dia da sua vida ou vários dias, tirando forças de algum lugar jamais imaginado ou alcançado.
“Viverei em sonhos, morrerei em seu colo, me enterrarei em seu medos por que sou uma dádiva que ninguém pode sentir” .
Essa música é a mais marcante e mais profunda do álbum. Espero que você sobreviva a essa audição pois ela é como olhar para dentro de si, ver as cicatrizes internas e lembrar o quanto já nos machucamos ou nos sentimos machucados por alguém em que nos sentimos apaixonados e não somos retribuídos.
“A beleza é relativa e está nos olhos de quem vê”. “Silêncio a Dois” fecha a obra sem me deixar muitas opções do que possa ser dito, pois é mantida a excelência sonora que foi demonstrada na primeira faixa e percorreu todas as músicas no decorrer de todo o álbum. O flerte entre a suavidade e o peso, a dor do mundo, o desespero, as letras introspectivas e autobiográficas. A identificação é imediata, não tem como ser de outro jeito.
Até o final desta resenha assim estava o ranking de audições no palco M3:
https://www.palcomp3.com/neuroticoedestruidores/
Faixas:
01. A Realeza
02. Estilo Suicida
03. Infectados Pela Sujeira
04. Perdendo Minha Alma
05. É assim que Destrói
06. Guarde suas crenças
07. Inflama
08. Afogue-me
09. Anjos Caidos
10. L.S.D
11. Sonho de Vidro
12. Silêncio a Dois