Como está escrito no release da banda: “Falou em Heavy Metal brasileiro, tem que falar em Harppia.” Concordo, já que está é uma banda tradicional deste país e que lançou – em 1985 – um dos EP´s mais amados e aclamados pelo público: “A Ferro e Fogo”. A banda, mesmo passando por diversas formações ao longo de sua carreira, jamais parou de produzir e fazer shows. O mais recente lançamento “3.6.9. H.A.A.R.P.”, quarto álbum de sua história mostra que eles se mantem fiéis ao seu estilo, mesmo que vez ou outra busque elementos que acrescente mais originalidade a sua música. Tivemos um longo bate-papo com o baterista Tiberio “Luthier” Correa Neto e o resultado dessa conversa você confere a seguir.
Roadie Metal: Por que o título 3.6.9 H.A.A.R.P, para o novo CD?
Tiberio Corrêa Neto: Somos grandes fãs de Nikola Tesla, que para quem não conhece, foi um dos maiores cientistas e inventores que passaram pelo nosso planeta e um dos mais injustiçados. Além de grande cientista ele foi um ser humano muito generoso e ligado nos “mistérios” do universo. Muitas das facilidades e avanços tecnológicos que temos hoje existem graças aos seus estudos e experimentos – isso no começo do século 20 – como o sistema wireless por exemplo. Para não me prolongar, recomendo que os nossos amigos leitores pesquisem sobre ele e muitas outras coisas farão sentido.
Tesla foi um grande rival de Thomas Edson, travando uma das maiores e ferozes disputas sobre qual deveria ser o sistema de distribuição da energia elétrica. Enquanto Edson visava apenas grandes lucros, Tesla queria distribuir a energia de graça para todos, através de sistemas sem fio. Esse é um resumo básico e pueril, porém as suas descobertas não se limitavam a isso, seus estudos de transmissão de ondas eletromagnéticas, entre ela a invenção do rádio, que por muito tempo a patente ficou com Marconi, mas a pouco tempo a patente e o reconhecimento foi devolvido a ele. Estes princípios que Tesla estava estudando foram a base do projeto H.A.A.R.P. que oficialmente dizem ser estações que estudam a atmosfera terrestre. Mas segundo cientistas renomados, que abandonaram seus postos de trabalho em diversos laboratórios governamentais das maiores potencias do planeta, H.A.A.R.P. é uma arma geofísica, capaz de criar catástrofes meteorológicas, e até mesmo, terremotos e maremotos. Em suma controlar o clima do planeta, através de diversas estações espalhadas pelo planeta.
Já os números 3.6.9 são considerados perfeitos por Nikola Tesla, ou melhor, números chaves para compreensão do universo. Então o título seria ao mesmo tempo uma homenagem para Tesla e um alerta sobre o que está acontecendo no mundo. É o mau uso de um conhecimento, que em princípio seria para beneficiar a humanidade, mas que está sendo usado para subjugá-la.
Roadie Metal: O que este lançamento difere dos outros em termos de sonoridade e qualidade?
Tiberio: Primeiro tentamos sempre manter a sonoridade do Harppia, como você pode constatar desde nosso primeiro álbum, nós não seguimos as tendências do mercado atual. Fazemos músicas que – em primeiro lugar – nos agrade, e que mantenha sempre aquela nossa marca registrada em respeito aos fãs, é claro que cada álbum tem sempre algum elemento diferente, pois as constantes mudanças de formação geram um novo “sotaque”, buscamos nos mantermos fiéis a nossa essência, que é saber usar as convenções, respiros e dinâmicas dentro dos nossos arranjos musicais, coisa muito rara hoje em dia entre as bandas de Metal e até mesmo Rock n´ Roll. Outro elemento diferente, foram os arranjos de cordas, órgão hammond e piano, que pode ser ouvido no novo arranjo da música “Balada” e orquestração na instrumental, 3.6.9. H.A.A.R.P. , que contrasta com o clima pesado das outras quatro faixas: Black Joe, Cavaleiro de Fogo, Harppia 2.0 e Profecia.
Roadie Metal: Vocês agora estão fazendo algumas apresentações calcadas no álbum “Sete” que está fazendo 30 anos do seu lançamento, quais são os planos para esta comemoração?
Tiberio: Queremos levar um pouco da magia do álbum “Sete” que encantou nossos velhos fãs na década de 80, para uma nova geração de fãs e para o maior número de locais possíveis.
Existem muitos pessoas pelo Brasil a fora que não tiveram o privilégio de ver um show do Harppia na época, e isso também é uma forma de aplacar um pouco do saudosismo destes velhos fãs, que podem reviver estes momentos mágicos.
Roadie Metal: “Sete” foi um álbum que não teve o seu devido reconhecimento na época que foi lançado, será que agora as pessoas entenderão a importância do álbum para a música pesada brasileira?
Tiberio: Antes, vou contar um pouco do que aconteceu. Tínhamos um contrato com a Rock Brigade, para que eles distribuíssem e divulgassem o “Sete”, porém não foi o que aconteceu. E por uma fatalidade, no dia da sessão fotográfica para a capa do LP, o nosso guitarrista, Flávio Gutok, sofreu um grave acidente automobilístico. Decidimos postergar o show de lançamento e a divulgação do álbum até sua recuperação por um ano. Para cumprirmos nosso compromisso, fizemos apenas uma apresentação no programa Boca-Livre na TV Cultura, com apresentação de Kid Vinyl e Dadá Cyrino, para o lançamento do álbum.
Com o relançamento em CD pela Metal Soldiers Records de Portugal, muitos fãs podem, hoje, ter acesso ao “Sete” e podem ouvir nas faixas bônus, um pouco do que era o Harppia ao vivo naquela época. Hoje, o “Sete” já é considerado pelos fãs do Metal brasileiro, um álbum tão importante quanto o primeiro. Pena que a gravadora portuguesa não entendeu a proposta da diagramação da arte original do LP, que foi totalmente ignorado, mesmo que nós tenhamos enviado todas as diretrizes por escrito. E, devido à falta de divulgação na época, não tivemos o devido espaço para explicar a concepção artística que cerca deste álbum, se quer houve um questionamento de porque o nosso segundo álbum se chamar “Sete”.
Roadie Metal: Essa é a curiosidade de muitos. Porque o LP se chama “Sete”?
Tiberio: Sete é um número muito especial dentro do Kaballah e de muitas escolas iniciáticas. Seu significado é muito amplo. Mas, darei a dica e ficará a cargo dos nossos leitores procurarem na capa e contracapa do disco: Cada um dos lados tem sete números sete, na contracapa o formato da diagramação dos nomes das músicas é sete; na calada da noite é uma música em 7/4/3), são sete músicas e a sétima música se chama sete e assim vai.
Roadie Metal: Após “Sete”, a banda lançou “Harppia´s Flight”, em 1996, na minha forma de ver, um álbum mais denso e pesado. Porque a banda seguiu esse caminho para este lançamento?
Tiberio: No início, “Harppia´s Flight” seria apenas uma curtição entre eu, o baixista Cláudio Cruz e o jovem guitarrista Marcos Rizzato, não tínhamos a intenção de lançar um álbum.
As músicas surgiram espontaneamente durante jams sessions, que em princípio serviram para que eu e o Cláudio voltássemos a nossa velha forma juntamente com o sangue novo de Marcos, que é o peso que ele trouxe para a banda, pois estávamos há algum tempo parados.
Mostrei este material para um amigo que imediatamente apresentou a fita para o dono da gravadora Megahard Progressive que adorou a gravação e sugeriu que colocássemos letras em inglês, pois ele queria trabalhar o Harppia no exterior. Por intermédio do Xando Zuppo (ex-guitarrista do Harppia) conhecemos o cantor Conrado Ledesma que se prontificou a escrever as letras e gravar a voz em 15 dias.
Tanto é que este é um dos álbuns menos conhecido do Harppia no Brasil, porém mais conhecido no exterior, ao ponto da gravadora portuguesa Metal Soldiers entrar em contato conosco e negociar o relançamento, o que foi feito em 2014.
Roadie Metal: Como está sendo a recepção de 3.6.9. H.A.A.R.P. até agora?
Tiberio: Está sendo muito bem recebido, apesar da pouca divulgação, pois algumas mídias impressas são feitas de panelinhas, aonde só se fazem matérias com bandas que os bajulam, e como o Harppia nunca bajulou ninguém – pois nós acreditamos que devemos ganhar méritos por nossa qualidade musical – não temos a divulgação que deveríamos ter.
Mas graças as rádios e outras mídias alternativas, tal qual a Roadie Metal e outros – aonde se preza a qualidade e não as bajulações – que têm nos dado um grande apoio e divulgado nosso novo álbum na mesma medida dos nossos álbuns antigos. E desde já agradecemos por vocês serem assim.
Roadie Metal: Por que a regravação de “Balada” para este álbum, já que originalmente ela fazia parte do “Sete”.
Tiberio: Em nossos shows, nossos fãs já vinham pedindo “Balada” pois, segundo eles, a canção toca fundo na alma. Para muitos deles, a música expressa aquilo que eles gostariam de ter dito a um falecido ente querido. Tanto é que no documentário Brasil Heavy Metal a música foi escolhida como trilha sonora para homenagear músicos já falecidos.
Em um encontro informal com o Flávio Gutok, comentamos com ele sobre como nosso público ficava emocionado com “Balada”, e ele nos confidenciou que não estava satisfeito com a gravação que ele havia feito no “Sete” e que gostaria de regravá-la e produzi-la em um álbum nosso. Pronto, juntou a fome com a vontade de comer e a regravamos com um novo arranjo para este novo álbum.
Roadie Metal: “Bem-Vindo ao Inferno” que fecha o CD é outra que acompanha a banda desde o começo, qual a razão de fechar o novo disco com uma música incidental?
Tiberio: “Bem-Vindo ao Inferno” é também uma música muito pedida pelos nossos fãs mais antigos, na década de 80, soltávamos esta música enquanto o público adentrava no local da apresentação, preparando todo um clima para o início dos shows. Isso marcou de tal forma os nossos fãs, que quando encontramos a fita, resolvemos digitaliza-la e colocar no álbum para que eles tivessem uma lembrança daquela época.
Roadie Metal: Por que a mudança do vocalista e baixista logo após o lançamento do disco 3.6.9. H.A.A.R.P.?
Tiberio: Eles resolveram sair da banda após o lançamento porque estavam achando que eu exigia muitos ensaios. Cada um já tinha sua banda paralela, então resolvemos que desta vez, iríamos trazer para a banda pessoas mais comprometidas com o propósito do Harppia e colocamos um anúncio procurando vocalista. Houveram muitos candidatos, mas a pessoa com mais características, dentro do nosso contexto foi André Luis. Quanto ao baixista, ainda estamos trabalhando com o um músico convidado, Nando Simões, atual baixista do Ajna e que já foi baixista do Harppia, gravando quatro músicas do nosso novo álbum.
Roadie Metal: Obrigado pela entrevista, o espaço é seu para deixar uma mensagem aos leitores da Roadie Metal.
Tiberio: Agradecemos novamente por vocês, pelo prazer desta entrevista. Gostaríamos também de agradecer e pedir aos nossos fãs e amigos que compareçam aos nossos shows, pois vivemos da energia e emoção que eles nos passam nas apresentações.
(NR: Lembrando que no dia 16 de março o Harppia tocará no Mineiro Rock Bar, em Osasco/SP, al lado de mais quatro bandas, comemorando os 30 anos de lançamento do álbum “Sete”. O Mineiro Rock bar está localizado na Avenida Maria Campos, 706, Centro, Osasco. Compareça!)
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