Steppenwolf: Há 50 anos nascia para ser selvagem

Aquela música ultrapassou as delimitações da arte que a criou. Gerada para ser um hino de liberdade, um testemunho de comportamento, ela tornou-se símbolo de maquinários metálicos velozes. Ela invadiu a sétima arte e sagrou-se clássica em mais de uma mídia. É um clássico reconhecível aos seus primeiros acordes e já foi coverizada pelos mais diversos artistas, mas seus autores originais possuíam muito mais surpresas em seu repertório.

A banda era a Steppenwolf. Mais uma das integrantes de um clube que se convencionou chamar de Proto Metal, embora o peso das músicas de seu disco de estreia servisse mais a extrapolação dos limites do Blues. Foi essa mesma extrapolação que fez com que o crítico brasileiro Valdir Montanari, em seu livro “Rock Progressivo” (Ed. Papirus, 2 ed., 1986) incluísse um tópico a seu respeito. Para Montanari, o Rock Progressivo não é meramente o sinônimo da fusão do Rock com a Música Clássica ou com o Jazz. Ele vai além disso: é progressista, tem que incorporar avanços, derrubar delimitações, e o autor considerou que o Steppenwolf fez isso pelo Blues, além da construção de letras com profundidade política ímpar para o período.

Tendo a maioria de seus integrantes vindos da extinta banda Sparrows, sua nova empreitada teve o nome claramente inspirado pelo romance publicado pelo escritor Herman Hesse, que saiu no Brasil como “O Lobo da Estepe”. Seu primeiro disco também foi assim intitulado, embora edições posteriores recebam o nome “Born To Be Wild” estampado em letras garrafais na capa, fazendo com que alguns pensem que este é o nome do mesmo. Não é, mas é o de sua música mais famosa, aquela mesma que nos referíamos lá no começo do texto. “Born To Be Wild” teria a longevidade que tem mesmo que não fosse a sua inclusão no filme símbolo da contracultura “Easy Rider”, produzido por Peter Fonda e dirigido por Dennis Hooper, além de ter sido roteirizado e estrelado por ambos, com o acréscimo de Jack Nicholson no elenco.

Fonda queria que a trilha sonora do filme fosse feita por Crosby, Stills & Nash, mas a canção do Steppenwolf impôs-se naturalmente como uma escolha mais acertada, pois ela praticamente exala o odor de gasolina, combinando com as viagens de motocicleta que a história narra. Veio também, de sua letra, aquela que é tida como uma das primeiras utilizações da expressão “Heavy Metal”, simbolicamente e profeticamente atrelada a palavra “Thunder”, dando a dica para nomear o ainda embrionário estilo musical.

Mas nem só de viagens de motocicleta o filme era feito, tanto quanto nem só de “Born To Be Wild” o disco era composto. Outro tipo de “viagem” era demonstrada na tela e a canção “The Pusher” também entrou para a trilha sonora da película, como fundo em uma cena de tráfico de drogas. Afastando-se de sua melhor representação visual, o disco colacionava uma série de faixas instigantes, como a abertura com a contagiante “Sookie Sookie” e a perfeita homenagem ao Criador, Chuck Berry, em “Berry Rides Again”, mas o melhor fica para a versão de “Hoochie Coochie Man”, de Willie Dixon, em um Blues carregado de vibratos e que fez com que eu me sentisse muito mal por estar escutando aquilo dentro de um carro, enquanto pensava na formatação desse texto. Parecia errado, muito errado. Não é o tipo de música feita para soar naquele ambiente. Não… Precisaria algo mais adequado: uma mesa – de madeira – no canto de um bar mal iluminado e apenas o velho Jack Daniels em cima da mesa. Nenhum maldito tira-gosto para atrapalhar… Pronto, assim “Hoochie Coochie Man”, na versão do Steppenwolf, pode explodir nos alto falantes da casa e tudo aquilo que não faz sentido continuará a não fazer, mas dane-se! Inicie por aí e volte para o começo do disco para percorrê-lo por completo como se estivesse sobre rodas em uma longa estrada.

Começo de estradas. É disso que “Steppenwolf” se trata.

 

Formação

John Kay – vocal, guitarra, harmonica

Michael Monarch – guitarra

Goldy McJohn – teclados

Rushton Moreve – baixo

Jerry Edmonton – bateria

Músicas

01.Sookie Sookie

02.Everybody’s Next One

03.Berry Rides Again

04.Hoochie Coochie Man

05.Born to Be Wild

06.Your Wall’s Too High

07.Desperation

08.The Pusher

09.A Girl I Knew

10.Take What You Need

11.The Ostrich

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