Resenha: GoatPenis – Anesthetic Vapor [2017]

Dentre outras bandas que emergem e caem dentro do cenário escasso e altamente competitivo do metal nacional, existe uma lenda dentro underground catarinense que veio emergindo nos último vinte anos, carregando 6 fulls nas costas e um bagageiro de experiências internacionais, trazendo em seu tanque de guerra um emblema profano anti-humanitário, vivendo em prol da extinção da raça humana. A GoatPenis, que já possuiu o brasão de outros anteriores projetos que vieram a transformar-se na atual banda, como Suppurated Fetus, By Disgrace Of GodSeven Deadly Sins, tem ganhado imenso território nacional e necessariamente internacional, uma vez que trouxeram na época um som cru porém inovador. Uma identidade prensada em ferro e sofrendo leves modificações ao longo dos anos, nunca alterando a essência de composição mas reaproveitando o caos em suas músicas e tornando essa arma nuclear cada vez mais potente.

Anesthetic Vapor, último álbum lançado pela banda é a sua sexta medalha de guerra, dessa vez ganhando o reconhecimento por trazer um novo soldado para o seu pelotão: o baterista MGM.666 (Gilson Lange), ex baterista da Luciferiano, atual baterista de outra banda catarinense de Death Metal Sodamned. Este armamento de aniquilação em massa foi gravado no Sonority Studio, em Indaial – SC, por José Fernando Metzger (cebola), ex Necrophilian, que recentemente gravou o último EP e um single da Viletale.

E o que há de tão alarmante nessa banda?

  • A banda é precursora do gênero War Metal, trazendo várias influências sonoras caóticas e extremas para suas músicas, abrangendo uma temática de guerra que se inspira em fatos reais e interpretações cinematográficas de grandes feitos que emanam pólvora e carniça desde o século passado.
  • O grupo emerge com suporte de dentro e fora do país, esmagando a desunião de bandas locais.
  • Além do árduo trabalho de levar sua extremidade musical a tona, o grupo sofre por falsas acusações de apoio a ideologias políticas de guerra em suas músicas, o que foi recentemente negado pelos músicos que unicamente propagam o medo e a exterminação total no campo de batalha. Em meio a tal tormenta popular feita comentários irrelevantes, a banda ainda não para e continua a se erguer.

A banda encabeçou e se firmou numa única proposta: criar e fortalecer uma besta de guerra, em prol da aniquilação humana.  Em seu último álbum, Apocalypse War, a banda evoluiu monstruosamente em seu nível de composição, pegando um agregado de riffs semelhantes mas explorando eles com profissionalismo e buscando em suas principais influências a essência para transformar um som com uma identidade bem característica. Você pode escutar o álbum por streaming digital através do BANDCAMP, o link estará logo abaixo. Vamos para a resenha.

https://nuclearwarnowproductions.bandcamp.com/album/anesthetic-vapor

1. Intro – Tambours Géants

Uma percussão rufante, como uma marcha para o fim. Synths orquestrais, trompetas, uma voz  grave dizendo “Nuclear Devastation”e enquanto uma segunda transmite mensagens quase inteligíveis, como se captadas de um rádio ou falante. Misseis sendo disparados e explosões. Simplesmente, uma interpretação bem abstrata do término da terra. Como já mencionei numa outra resenha, isso soa muito com o caos nuclear de Azathoth, onde existe as trompetas que soam notas quase iguais ao som de uma percussão incessante que mantem adormecido o gigante espacial e cósmico, que ao acordar, criará o seu espasmo e dará início ao caos nuclear, consumindo, sugando e expelindo novamente o começo de um novo ciclo cósmico. Uma viagem, mas que, se parar para pensar, tem a ver.

2. Anesthetic Vapors

A banda marcha para seu primeiro campo de batalha. A caixa rufando e a guitarras sombrias, com a sujeira clássica que o GoatPenis traz em seus discos. Em comparação com o álbum anterior, o trabalho de polimento e gravação ficou descaradamente superior, deixando a bateria mais obesa e densa, sem deixar os agudos sangrarem demais e dando o ganho necessário que garante o proveito de apreciar o trabalho e entender a proposta da banda. A música em si é uma mistura do death metal bem grotesco, repleto de blasts em sextina, com riffs melódicos e sombrios clássicos de um TRVE Black Metal europeu. Existe também uma raiva e presença mais intensa dos vocais comparado ao álbum anterior. Guturais repulsivos e abertos sempre procedendo uma voz maquiavélica e grave que ressoa como uma máquina de guerra. A musica em  tenta investir sempre no mesmo campo harmônico, reaproveitando algumas escalas e acordes menores. Ela termina, deixando seu primeiro rastro de destruição e garantindo um hype de que o restante do álbum ainda trará novas composições desiguais.

3. Humanatomy Grinder Chatter Studies 

GoatPenis nesse álbum tem investido muito nessa mescla de riffs clássicos de um Death Old School com passagens de um Black Metal Épico. A música começa frenética, e sem chamadas, com riffs dignos de um brutal death metal. O decorrer da música faz muito proveito da progressão épica de acordes dando essa aparência black metal para a música. Em seu refrão, a composição se torna bem grandiosa pela bela escolha de acordes que trazem uma harmonia de Bathory na sua época de Nordlands, porém com esse vocal totalmente vomitado clássico de GoatPenis. Apesar de 3 minutos e pouco, ela passa rápida por ser bem trabalhada e reaproveitada com uma quantidade pequena de riffs, terminando com sua passagem que precedeu os versos da música.

4. Machiavelli Reputation – Chapter XVII

A música é investe em outra tonalidade, clássica da escola velha do Thrash e Death Metal profano. Sua introdução remete muito a um dos hinos da banda Bellvm Contra Humanitatem. Os cânticos de batalha correm mais rápidas que balas durante o proceder da música. Existe ainda mais ódio e repugnância nos vocais dessa faixa. A composição ingira muito em torno de uma composição veloz de black metal, que lembra muito algo como Grave Desecrator. O andamento da música muda, trazendo uma referência como Marduk ou Dark Funeral em sua linha. A progressão maquiavélica de acordes menores dando a clássica e nebulosa aparência fantasmagórica nos riffs cavernais. A música acaba passando muito rápido, relembrando o riff inicial e terminando ela seca como um tiro fatal.

5. Excrementory Genocide 

O início dessa música é possível perceber o trabalho feito pelo produtor em polir uma bateria aguçada e grave, dando uma presença intensa na caixa e nos pedais, com pratos soando límpidos e agressivos. A música gir em torno de um black metal mais pagão e sujo, algo na linha do Armaggedon (França). A banda crava sua bandeira e prepara sua bomba sempre nesse mesmo solo de composição, sujo, e pútrido, depois indo para uma vertente mais Death Metal com pedais duplos incessantes. Após a bomba explodir, a banda invade de forma cadenciosa os seus ouvidos com riffs lentos e progressões agonizantes, vocais maquiavélicos que recitam o fim da humanidade e o sofrível processo tóxico da morte. A música no fim se torna mais grave, trazendo suas últimas palavras vomitadas, e pedais que vão diminuindo, como últimos disparos de um fuzil num campo de batalha conquistado. Ainda há uma frequência bem densa por traz que parece remeter a uma tempestade, mas não sei se é coisa da minha cabeça.

6. Carnivorous Ability 

A música começa com um lick mais melódico em caixa rufante, assim como algumas músicas do mesmo álbum. O verso da música com pedais velozes num andamento mais lento traz uma sensação escura e sombria, quase como trágica. No decorrer de toda a música, eles se apropriam com ferocidade das mesmas tonalidade para se recompor em licks e riffs semelhantes. A mistura do grave e agudo acaba dando uma impressão muito mais diabólica pro vocal. Seguindo a mesma ideia de composição das outras, ela faz referência a seus arranjos iniciais e termina, ganhando título de música bem consolidada e de excelente execução.

7. Krieg Und Frieden

A música em frenesi total, vindo com uma destruição desigual, com blasts retilíneos e incessantes, harmonia sempre crescente e grotesca, mas que investe numa troca de andamentos intensa. Possui um vocal mais profundo e visceral comparada com outras faixas. Existem momentos mais intensos, mais grooveados, repletos de acordes oitavados e escalas harmônicas menores que levam ao impacto final da banda. A música tem uma acentuação muito interessante nas suas estrofes, combinando com mais acidez as notas de destaque a frenética linha da bateria. Ela engana por alguns momentos dando a impressão que acaba repentinamente. mas termina de forma majestosa e única, sendo um destaque entre demais faixas do álbum.

8. Front Toward Enemy 

A sonoridade inicial da música remete muito a um black metal dos primórdios, na linha de Emperor ou Behemoth do Sventevith. Os famosos blastbeats KVLTS que são alternados dando devastante ambiência musical, um ar ritualístico e berrante. A progressão de acordes e licks durante a música, que ainda gira em torno da épica vertente do Black Metal, remete com muita frequência a música Humanatomy Grinder Chatter Studies. Na verdade essa linha de crescente de tonalidades está sendo usada e abusada com profissionalismo no decorrer do disco de maneira que não cansa. Ela é uma faixa rápida, que se apropria de pouquíssimos riffs, mas deixa objetiva a principal proposta do grupo.

9. Hallucinatory Sirens

Novamente, um tanque avassalador e uma artilharia pesada invadem os fones, trazendo uma grave aparência musical. A música tem direito a riffs bem pedalados que remetem a faixa anterior Machiavelli Reputation – Chapter XVII. Apesar de se aproveitar de vários trechos bem utilizados em demais músicas, a faixa tem direito ainda a efeitos sonoros de sirenes que traz com mais eficiência a essência do War Metal. Ainda há um breve sinal de um harmônico crescente em wammy bar que é clássico em muitas de suas músicas em outros álbuns. Existe, um pouco depois de um riff bem grooveado, um tanto depois do meio da música, um blast bem intercalado e agressivo que rouba holofotes para a música. Ela termina sem muitas delongas, caminhando para as duas últimas batalhas do álbum.

10. Oppressive Ferric Noise

Esta música em especial tem um detalhe no seu andamento por saber trabalhar com um pouco mais de profissionalismo nos blasts, segurando os mesmos em momentos que o pedal continua metralhando, como pausas sufocantes durantes os estrofes. Os riffs dessa faixa voltam para as terras do Blackned Death metal, com um andamento melódico icônico dos vocais, a forte memorização devido a frequente repetição de riffs principais torna a música bem massiva. Existe momentos bem excêntricos que tentam abusar de tonalidades agudas criando um tipo de dissonância na linha da guitarra. Mas infelizmente, esses raros momentos são poucos, que se concentram mais pro final da música. A banda só tem uma missão por música e ela sempre é bem cumprida em cada faixa. Nos segundos finais, uma progressão crescente que casa entre as guitarras e vocais que atormenta os ouvintes e os leva para o fuzilamento final. A faixa é frenética de início a fim, sendo devastadora como o resto do álbum.

11. Pleasant Atrocities March

Após destruir, aniquilar, profanar tudo e todos, a banda marcha por mais um território conquistado, levando riffs bem cavalgados, trazendo a música como um Black Metal épico, quase uma balada de guerra, um cântico final de soldados que ganharam mais uma guerra. A progressão maior de acordes sempre frequente, normalmente intercalada com a caixa e bateria brutal que traz a ambiência de uma marca de um pelotão. Após todas as 11 faixas, é possível perceber que o MGM. 666 fez um bom trabalho como fuzileiro nas percussões, trazendo a violência e a tenebrosidade quando necessário para as músicas. Essa arma de blasfêmia aparenta acabar por um certo instante, mas volta a tona com o ritmo cavalgado e os berros da atrocidade de guerra faminta por guerra. Apesar de ter um brilho ou outro por certo instante que cria destaque, ela não foge de sua ideia principal. O álbum caminha para o fim com as últimas notas de baixo que levam a essência da composição por mais um breve instante. O álbum fecha deixando você, cabo ou veterano, em profundo espanto diante desta tragédia nuclear.

E chegamos ao fim do grandioso álbum da GoatPenis, uma banda que tem alcançado conquistas cada vez mais gloriosas, tendo alçar seu objetivo de se tornar uma titânica ferramenta de batalha para explodir o mundo. Quanto a abordagem lírica desse álbum, acaba sendo um tanto óbvio. Experiências de guerra e campos de batalha, aniquilação e exposição humana a radiações de alta intensidade, a tortura tóxica do gás, a mutilação por fuzilamento, a agonia de derrota, os auges da vitória e, ainda por cima, alguns breves momentos de canibalismo. Segundo o encarte, existe como gust session nos back vocals a presença de Nocturnal, Grave Desecrator e Black Winds, mas não mencionado em que momentos exatos eles participaram nas músicas. Há também um detalhe ou outro que faz você se perder na leitura das letras: em certos instantes parece que cantam frases que não estão escritas e acaba gerando aquele momento de desencontro. Mas nada que impede a experiência de dizimar tropas nesse tanque de guerra.

GoatPenis é:

Sabbaoth: Baixo e Vocais

Virrugus Apocalli: Guitarras e Vocais

MGM. 666: Bateria

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