Roadie Metal Cronologia: Deep Purple – Machine Head (1972)

Por se tratar de um grande clássico da história do rock e já da música, considero razoável começar esta resenha salientando qual a minha relação com o Deep Purple, pra depois não dizerem que eu não avisei. E ela é praticamente nula, zero! Não foi uma banda que chegou até mim na época que devia ter chegado, e depois também não me chamou a atenção pra correr atrás. É claro que devo ter tocado uma ou duas de suas músicas na adolescência, e me lembro de ter ouvido bastante Black Night, por um vídeo que me estava disponível em DVD, na época em que o Youtube ainda não era sonhado, e Perfect Strangers, esta por conta daqueles covers fora de contexto que o Dream Theater gostou de fazer uma época na busca de algum dinheiro. Além do pouco contato, também não me foi imputado por essa banda aquele respeito inevitável, de quem afirma “sem eles, nenhuma banda que você ouve hoje existiria”. Eu acredito no acaso, e na história, nada nem ninguém é insubstituível.

Mas parece que já comecei sendo negativo, e não é isso! Essa posição de não conhecer o Deep Purple “como se devia” me oferece alguma imparcialidade na hora de olhar pra esse disco, o que raramente vou ter em outros casos.

Machine Head – sexto álbum do grupo inglês, lançado em 1972 pela Warner Bros. Records, que conta com sua formação clássica: Ian Gillan nos vocais, Ritchie Blackmore na guitarra, Roger Glover no baixo, Jon Lord no órgão e Ian Paice na bateria e percussão. Como é muito famoso pelas histórias que envolvem sua gravação – e pela canção decorrente delas –, terei de gastar aqui um tempinho com isso.

O álbum seria registrado no Montreux Casino, na Suíça, durante o inverno, período em que o estabelecimento passava fechado para reformas. Um último show antes dessa pausa (Frank Zappa) aconteceria ali após a chegada dos integrantes à cidade, antes que pusessem a trabalhar. Pois bem! Durante o concerto, um infeliz soltou um sinalizador e a casa ardeu em chamas. Ninguém se machucou, além do cassino, e as gravações da banda foram transferidas para um hotel, após longa busca por um segundo lugar razoável. O incidente foi acompanhado pelos integrantes do Deep Purple e eternizado por uma das músicas mais famosas do mundo, com o quase que certamente riff mais famoso do mundo, Smoke on the Water.

Mas cortemos a balela que todo mundo já sabe. Se você pesquisar ai, encontrará pelo menos 18 milhões de resenhas desse disco, com essa e outras milhões de histórias e curiosidades. Então, pra que esse meu texto tenha razão de ser, preciso dar a minha opinião, sincera e “isenta”, sobre o som da banda. Vamos a ela!

Um primeiro fato que eu gostaria de comentar, sobre o qual li muito por ai, é que dizem que esta gravação foi feita ao vivo e SEM A UTILIZAÇÃO DE OVERDUBS – gravações adicionais dos instrumentos, inseridas posteriormente. Bem, ao vivo eu até acredito – deixemos claro que gravar ao vivo não impossibilita o “picote” do áudio, que é possível desde o advento da fita magnética, lá pro meio do século passado –, mas a utilização de overdubs é clara pra mim. Temos dobras das vozes de Ian Gillan ao longo de todo o disco, e em Pictures of Home, por exemplo, é fácil notar que há duas guitarras gravadas no tema principal, quando este se encaminha à região aguda. Sendo que só há um guitarrista… overdub! Mas este é só um esclarecimento de uma informação mal divulgada e analisada por ai! Nada que, na minha opinião, tire o crédito da banda.

O som no geral é um rock, com clara influência progressiva na utilização de órgãos e desenvolvimento de climas psicodélicos. Eu não classificaria como rock progressivo, porém, por ser mais “malvado”, ter uma outra atitude, conferida principalmente pelo flerte com o blues e os vocais rasgados e irreverentes de Gillan.  Além de soarem muito bem juntos, com grooves bem definidos e swingados, os integrantes abusam do virtuosismo em improvisos de bastante presença. Destaque, é claro, para Lord e Blackmore, grandes utilizadores da pentatônica bluesy com influências claras da articulação e melodismo barrocos.

Highway Star abre o disco, e é um carro veloz que vem lááá de longe em nossa direção. Lord nos buzina, convidando para juntos sentirmos o vento na cara! Não que a temática do playboy dando voltas em seu carrão me interesse tanto; ou ainda menos uma comparação de muito mal gosto estabelecida entre uma mulher e um carro, o que, com alegria, não passa mais pelo crivo de nossos dias, ou não deveria passar. Mas ok, vou dar uma relevada pela época. Fato é que a música é de boa energia, belíssimos solos de vivacidade neoclássica e uma ótima articulação da temática com a sonoridade geral, que me pôs os cabelos a voar!

O blues estilizado de Maybe I’m a Leo me soa uma balada que não precisa recorrer a andamentos tão lentos pra demonstrar a dor da ausência “dela”, não sabemos quem, mas ela que, ao segurar a nossa mão, talvez, riria, talvez entenderia! Tesouro de letra! Muito interessante também é o modo como foi pensada a forma dessa canção! São três estrofes, sem refrãos, intercaladas por solos impressionantes de Lord e Blackmore – sendo este último um cara que realmente mexeu comigo aqui! É uma fluência impressionante! Se o que dizem é verdade e isso aqui tudo é improvisado, eu acho que temos um vencedor! Ah, e cogito que essa seja minha faixa preferida desse disco!

https://youtu.be/-bZ_hMvACYo

Pictures of Home é nostálgica, relembra aquele lugar que consideramos nossa casa e como é difícil se sentir completo fora dele. E apesar de este tema poder soar melancólico, não é esse o tratamento que o Deep Purple decide dar à música, de empolgante energia rock n’ roll. Aqui temos o melhor uso de bends de guitarra que ouvi nos últimos tempos! Pois quem toca sabe o quanto a técnica é cruel… difícil de afinar, quebra cordas e a vida para… é um perigo! Mas nessa faixa, tanto o tema principal apresenta guitarras dobradas realizando bends muito precisos quanto o solo tem uma sessão composta apenas com esses presentinhos de Blackmore, que faz deles o que bem entender! Esse cara é realmente impressionante!

Acho o refrão de Never Before bastante bonito, apesar de sua levada não me chamar a atenção. A letra sugere um sentimento de solidão frente a um término amoroso, o que pra soar interessante, ao meu ver, deveria ter um tratamento poético bastante mais cuidadoso do que o que foi dado aqui. A poesia é fraca, corriqueira, muito em cima de um “me ajude, estou sofrendo”. É claro que não é uma faixa impossível de se gostar, mas a análise aqui neste nível de resenha me traz algum desencanto.

Smoke on the Water… bem, já citei essa ali em cima! E por favor, não me obriguem a falar mais… ela é como Sweet Child O’Mine, The Enter Sandman ou qualquer coisa famosa do Lynyrd Skynyrd. Já tocou tanto que… tanto faz. Vou só dizer que os irmãos Warner já sabiam desde o início que essa seria a grande música desse disco, enquanto a banda apostava na faixa anterior, Never Before. Não precisamos dizer quem acertou, né?

Lazy é um outro blues de Machine Head, bastante mais típico que o primeiro, destinado a dizer que alguém está sendo… preguiçoso ou preguiçosa!? Confesso não entender qual a intenção de alguém ao fazer uma letra como essas. Outra faixa que me chama pouca atenção, tem solos demais e dura gigantescos 7 minutos e 20. Pra fazer uma música desse tamanho funcionar, acho que ela deveria se desenvolver por caminhos mais interessantes do que 5 ou mais minutos de solos sobre uma base blues. E não sei mas, tenho a impressão de que meu interesse no disco foi caindo de Pictures of Home pra cá!

Space Truckin’ encerra o set e a minha paciência, pois se tem um tema fantasioso mais ou menos interessante – um “caminhão espacial” viajando pela galáxia – mais uma vez ele é mal aproveitado pelo tratamento poético preguiçoso. Será que é sobre isso que falava a música anterior? “Come on, come on, come on, let’s go Space Truckin’”? “Yeah, Yeah, Yeah, Space Truckin’”? Esse rock n’ roll ié ié nunca foi minha onda. Parece que estão preenchendo burocraticamente com letra os espaços deixados entre os milhares de solos. Além disso, a música cheira MUITO a Smoke on the Water nos versos, o que dentro de um disco de 37 minutos não é nada atrativo.

Como dar uma nota baixa pra um grande clássico, do qual só achei interessante a metade? Assim ó: 7. E não me venham com impropérios.

 

Faixas:

01 – Highway Star

02 – Maybe I’m a Leo

03 – Pictures of Home

04 – Never Before

05 – Smoke on the Water

06 – Lazy

07 – Space Truckin’

 

Integrantes:

Ian Gillan – Vocais

Ritchie Blackmore – Guitarras

Roger Glover – Baixo

Jon Lord – Órgão

Ian Paice – Bateria

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