Baixistas: Ian Hill (Judas Priest)

Não traduza ao pé da letra tudo aquilo que você vê em cima do palco. A postura de um ou outro músico não tem, necessariamente, vínculo literal com o que ele faz nos bastidores. Veja, por exemplo, o Judas Priest: Rob Halford, KK Downing e Glenn Tipton sempre foram as figuras de frente, ao vivo ou mesmo em clipes, enquanto que o baixista Ian Hill mantinha-se alguns passos atrás, encostado próximo às caixas de som, sem se afastar muito de sua posição.

Mas, descendo do palco, Ian tem participação ativa nos negócios e nas decisões da banda, sendo inclusive um dos integrantes que mais dá entrevistas. Não poderia ser de outra forma, afinal foi ele que, junto com KK Downing, formou o conjunto, sendo hoje, após a saída do guitarrista, o único integrante da formação original.

Este inglês, nascido em 20 de janeiro de 1951, traz a função de baixista em sua herança genética, pois foi com o pai, contrabaixista de algumas bandas da região em que moravam, que ele aprendeu o ofício das quatro cordas. Hill perdeu o pai quando tinha quinze anos de idade, mas o legado já havia sido transmitido. Dono de linhas sólidas e seguras, o músico atua para conceder um terreno firme onde a comissão de frente possa realizar a parte performática. Fazer muitas variações poderia afetar essa solidez, e deixar o resultado mais leve, afastando-se das intenções gerais da música que o Priest prega.

Essa postura reflete-se também nas composições, pois apesar dele co-assinar apenas três músicas do catálogo da banda: “Winter” e “Caviar and Meths”, do disco “Rocka Rolla”, e “Invader”, do álbum “Stained Class”, admite que, dentro do trabalho de criação, as linhas de baixo que cria podem mudar algo nas canções, mas não o suficiente para gerar um crédito para si. Se a composição está funcionando bem dessa forma, porque interferir, pensa Hill. Ele recebe um esboço do que está sendo feito e trabalha em cima disso junto com o baterista Scott Travis, mantendo as fórmulas que os trouxeram até aqui.

Não se deslocar no palco, porém, não significa uma atuação fria. Assistir o baixista é uma atração à parte dentro dos shows do Priest, pois ele agita incessantemente, batendo a cabeça e fazendo movimentos bruscos de alavanca com o seu baixo, buscando a mesma agressividade que fez com que ele mudasse sua técnica de pizzicato para o uso da palheta. Tendo utilizado os Fender JazzBass no passado, hoje ele é adepto dos modelos Spector, adotando-os desde a década de 80 e possuindo sua própria linha signature. O modelo de Hill é o mais adequado para o que ele necessita, com o padrão de 24 trastes e uma afinação opcional em BEAD, sendo que, durante a fase dos discos “Jugulator” e “Demolition”, ele recorreu a alguns modelos de cinco cordas para acompanhar a afinação grave que os guitarristas utilizaram naquele período.

Hill é um defensor da variedade que caracteriza o Judas Priest, que transita entre o peso absoluto e os momentos mais comerciais ou as baladas. Essas seriam formas da banda ter um maior alcance e trazer mais pessoas para o Heavy Metal, não havendo necessidade de manter-se no limite da intensidade por todo o tempo. São pensamentos coerentes para alguém que mantém uma atitude de tranquilidade e acessibilidade e que já declarou que, caso entendesse chegado o momento de deixar a banda, jamais se oporia a continuidade da mesma com outro músico no lugar, se fosse desejo dos demais prosseguir sem ele.

Torçamos para que Ian Hill continue prorrogando a sua aposentadoria.

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