Resenha: Judas Priest – Hell Bent For Leather (1978)

Novamente se trata daquela condição, de possuir um catálogo tão privilegiado, que qualquer pessoa tem que refletir um pouco antes de nomear qual é o disco mais clássico entre os outros clássicos. Ter um acervo onde até os trabalhos menos inspirados, ou mais polêmicos, são essenciais e relevantes. “Hell Bent For Leather”, juntamente com “Stained Class”, me passam a impressão de serem meio como pérolas perdidas dentre a discografia da banda, pelo menos entre as manifestações do público brasileiro. Qual o melhor disco do Judas Priest? Rapidamente alguém vai citar “British Steel”, “Screaming for Vengeance”, “Painkiller”, “Sin After Sin” ou algum outro, mas aqueles dois são pouco lembrados no momento de uma resposta mais imediata. O fato de ambos os álbuns terem sido lançados tardiamente por aqui pode ter influência sobre essa perspectiva.

“Hell Bent for Leather” é o disco que fecha o ciclo dos cinco trabalhos registrados antes do ao vivo “Unleashed in the East”, que antecede o lançamento de “British Steel” e faz a divisória entre o Judas dos anos 70 e o dos anos 80. Eu sempre considerei a obra do Judas Priest como algo muito coeso. Não existem oscilações extremas de identidade. Do “Turbo” ao “Painkiller”, de “Sad Wings of Destiny” ao “Defenders of the Faith”, tudo soa como Judas Priest. A presença de Rob Halford, vocalista-mor do Heavy Metal, e o trabalho siamês desenvolvido por Glen Tipton e K. K. Downing são estampas que revelam não apenas a personalidade da banda, mas as bases que fundamentam todo o estilo. Se o Judas passeou com desenvoltura do Hard quase Glam de “Turbo” até o Thrash de “Painkiller”, é porque os artistas mais emblemáticos desses subestilos já utilizavam elementos da banda inglesa em suas composições. O Judas não foi atrás das ondas; eles apenas evidenciaram o quanto cada uma dessas ondas era proveito de sua criação.

“Hell Bent for Leather” foi lançado em 1978, mas é o disco menos setentista de seu período. Em termos de desempenho, o álbum antecede, quase como um prólogo, o que seria apresentado em “British Steel”, com faixas mais concisas e diretas, além da variedade intrínseca. A formação era a que continha o praticamente inalterado quarteto, com o acréscimo do baterista Les Binks, cuja passagem pela banda desenvolveu-se justamente no período dos três discos entre “Stained Class” e “Unleashed in the East”.

A faixa título é a grande sobrevivente do repertório do álbum, nos setlists dos shows, seguida esporadicamente por “The Green Manalishi”, mas como seria prazeroso se eles ainda pudessem encontrar espaço para executar clássicos como “Running Wild” ou “Delivering the Goods”. Há um forte gancho na melodia de faixas como “Evening Star”, “Take On the World”, “Rock Forever” e da balada “Before the Dawn”, colaborando para o potencial de vendas do disco, sem que o mesmo descambe para o mero comercialismo, e balanceando com o clima mais Hard setentista de músicas como “Killing Machine”, “Burnin Up” e “Evil Fantasies”.

Quando eu comecei a escutar heavy metal, o Judas já era uma lenda. Do ano de sua estreia até o “British Steel”, passaram-se seis anos, que totalizaram seis discos de estúdio. Fica-se imaginando como deve ter sido a experiência de quem acompanhou o conjunto em sua época, comprando os discos no momento de seu lançamento e vibrando com o fato de que cada um era melhor do que o outro. Não seria diferente da experiência que as gerações seguintes tiveram com Metallica ou Slayer. Mas esses últimos, embora inaugurassem a linguagem Thrash, nasceram sob a égide de uma cultura Heavy Metal já estabelecida.

Na época do Judas, eles estavam moldando essa cultura.

 

Formação

Rob Halford – vocal

K.K. Downing – guitarra

Glenn Tipton – guitarra

Ian Hill – baixo

Les Binks – bateria

Músicas

01.Delivering the Goods

02.Rock Forever

03.Evening Star

04.Hell Bent for Leather

05.Take on the World

06.Burnin’ Up

07.The Green Manalishi (With the Two-Pronged Crown)

08.Killing Machine

09.Running Wild

10.Before the Dawn

11.Evil Fantasies

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