Tá certo! Se é para fazer revival, vamos fazer do jeito correto! Vamos abastecer nosso DeLorean e buscar alguém da época, trazendo-o para o nosso tempo. Chegando aqui, ele fará o que já lhe é natural, tocando a música que conhece tão bem, mas pelo menos terá indubitável legitimidade para tanto.
Apesar do exagero acima, devo dizer que é essa a impressão que Brian Setzer me passa: um verdadeiro viajante temporal. Nada em Brian parece remeter a montagem de algum personagem. Tudo nele parece legítimo: sua postura, sua aparência, sua música. O líder da Stray Cats, a mais bem sucedida banda de Rockabilly, nasceu em 1959, ano em que vários de seus heróis, como Buddy Holly, Duane Eddy e Eddie Cochran dominavam as paradas. Setzer utilizou, em sua carreira, tudo que aprendeu com esses mestres e foi o grande representante desse tipo de música na atualidade, mas ainda havia espaço para retroceder nos anos…
Não obstante tudo de fenomenal que nomes como Miles Davis, John Coltrane e Charlie Parker fizeram, meu primeiro conceito de Jazz sempre passa pelas big bands. Duke Ellington, Glenn Miller, Tommy Dorsey e Benny Goodman foram os grandes maestros que fizeram a trilha sonora da América na época da Segunda Guerra Mundial. Era um formato que funcionou naquele período, mas que caiu um pouco em desuso com as mudanças que a música popular sofreu. Difícil imaginar que, durante os anos noventa, alguém se aventurasse a trazer isso de volta. Bem, ninguém melhor que Brian para essa tarefa!
O virtuoso guitarrista e compositor foi na contramão de todos os conselhos que recebeu – de que iria arruinar a sua carreira – e formou a Brian Setzer Ochestra, abrangendo, no seu repertório, algumas de suas composições próprias, músicas de seu tempo de Stray Cats e standards dos band leaders acima, entre outros. Tudo executado por um combo contendo um baterista/percursionista, dois contrabaixistas e treze músicos na seção de metais, tendo logicamente a guitarra de Brian à frente.
O sucesso não poderia ter sido maior.
A BSO já lançou nove álbuns, além de diversas coletâneas, discos ao vivo e DVDs, permanecendo ativa até hoje sem se desviar de sua proposta. Nesse presente disco, temos, por exemplo, a releitura de clássicos como “Americano”, “Gettin in the Mood”, de Glen Miller, “Caravan”, de Duke Ellington, e “Mack the Knife”, que ficou famosa na interpretação de Louis Armstrong e cuja versão aqui é extremamente contagiante. Entre as faixas compostas por Setzer, duas se destacam, não apenas pela qualidade como também pelos títulos sensacionais: “That´s the Kind of Sugar Papa Likes”, bem balançada, e a instigante “Drive Like Lightning, Crash Like Thunder”, com uma pegada mais roqueira. Em outras faixas, com menos intervenção da orquestra, o resultado acaba soando semelhante ao estilo do Stray Cats e, nesses momentos, tal qual na sequência “49 Mercury Blues” e “Jukebox”, dá para apreciar melhor as linhas de walking bass executadas.
Ao investir na formação da Orchestra, Brian conseguiu a proeza de se reinventar sem se desviar de suas características como artista. As big bands eram o rock´n´roll antes do rock´n´roll ter sido criado e nenhum outro artista atual teria autenticidade para ressucitar esse gênero de fazer música, modernizando-o sem descaracterizá-lo, trazendo-os para os dias atuais sem soar como reciclagem barata e oportunista. Uma tarefa tênue e delicada, mas fácil de ser feita por quem não constrói um teatro em torno de si, mas realmente vive e respira a música que faz.