Opinião: Rock in Rio e a miscelânea que afasta o Rock

Acabou o Rock in Rio 2017 e podemos acompanhar tanto as bizarrices do atual elenco que mistura Axé, Funk e Pop com Rock, tanto quanto os veteranos e inesperadas contratações do Festival como The Who e Def Leppard, que carregam legados dos anos 70 e 80, já com aquela cara de aposentadoria.

Portanto, passamos pelas obviedades tanto das insistentes manias de inserir regionalismo não ligado ao Rock, como simplesmente baladas que vendem e movimentam fãs no mundo; tanto quanto, velhas bandas desconhecidas ao gosto popular, que estão praticamente guardados na gaveta.

O fato é que certamente o Roberto Medina, dono do Rock in Rio, visionário criador deste festival de música brasileiro e sul americano, ou se perdeu completamente do compromisso de criar um evento para ROQUEIROS e assumiu deliberadamente a condição de “oba-oba” da música nacional e internacional, ou não acredita que o Rock tenha elementos suficientes para encher seus espaços com mais de 200 mil pessoas.

O Rock in Rio se tornou um celeiro de gritarias de todos os estilos, onde se vê o talento raso do performático Pablo Vittar misturado à raiz intensa de gente como Tears for Fears, Guns N’ Roses e Red Hot Chilli Peppers.

Primeiramente, eu acredito que o festival devia mudar seu nome para FIM: Festival Internacional de Música, e não mais carregar a alcunha de Festival de Rock. Também acredito que ao invés de pulverizar o Rock, ao manterem seus propósitos, deviam trazer mais sentido na organização do dia das apresentações, ainda que exista uma sutil seleção de quem se apresenta no mesmo dia.

Mas a questão latente é que o Rock ainda sofre preconceitos. Para boa parte da população, o Rock é sujo, barulhento e cheio de gente doida, que usa drogas e é promiscuo. No entanto, o Rock não é mesmo “casa de lugar comum”; o Rock é manifestação indispensável da transgressão, com direito a loucuras, exageros e música bem estridente; e quem não quer ouvir, que monte seu evento de música tradicional brasileira ou Pop chiclete. Mas o ROCK é feito para romper barreiras, sair da “matrix” de controle e manifestar aquilo que ninguém quer ouvir. É manifestação artística para virar o sujeito do avesso e marcar para sempre. Não é modinha.

Mas o Rock in Rio não é mais um evento do Rock. É evento do “vamos fazer algo grande para arrecadar dinheiro e manter o legado” e misturar todo mundo. Então, alguma coisa falta aí. Falta criar um festival bacana como Wacken, como Rock am Ring e tantos outros que integram Rock ‘n’ Roll e Heavy Metal pesado e, sim, reunir muita gente de preto, cabeludos e chifrinhos. Autênticos roqueiros. Existe mercado para isso? Claro! Shows de Rock e Heavy Metal continuam a lotar casas de show e arenas em todo o Brasil, camisas de banda estampam as ruas; cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza reúnem enormes mananciais de fãs e de bandas covers, como um grito desesperado pelo acesso ao direito de consumir este tipo de música e transformar de vez o mercado musical brasileiro; e finalmente músicos de Rock e Metal terem acesso aos grandes cenários, sustentarem suas famílias, gerarem os frutos de seus esforços e trabalhos e finalmente integrar um mercado de trabalho que favoreceu poucos até hoje, e de ícones do Rock, termos o verdadeiro MERCADO DO ROCK e assim, receber o devido respeito e consideração que esta arte merece. Por onde será que temos que começar?

Que festival é esse?

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