Gostaria de abordar o outro lado da moeda de forma fria e sem a paixão pelo ídolo envolvida.
Em vários segmentos artísticos como pintura, escultura, TV, Cinema, teatro… a musica também está inclusa. Uma exposição de quadros e esculturas tem que obedecer a padrões de qualidade para ser disponibilizada ao público. Uma mini série de TV tem que obedecer a padrões de qualidade antes de ser liberada para a veiculação, assim como um filme para o cinema. Uma peça de teatro tem que apresentar excelência em execução de texto e interpretação de forma perfeita. E no caso da música, um concerto de rock, por exemplo, não necessariamente tem que ser idêntico ao registro de estúdio, no entanto, a performance em termos de interpretação e desempenho técnico, tem que entregar muita, mas muita qualidade por parte de todos os integrantes da banda.
Num festival em que fui, estava ansioso para assistir pela primeira vez o Black Sabbath com Tony Martin nos vocais, pois, nessa época, seus registros vocais nos álbuns “The Eternal Idol” e “Headless Cross” se mostraram absolutamente fantásticos. Quando a banda entrou ao vivo, para mim, foi uma decepção absoluta. Tony fugia das notas altas e praticamente falava em todas as músicas ao invés de cantar. Eu como vocalista e admirador de Tony Martin, fui para assistir não só o Sabbath, mas, a majestade de sua voz. Porém, como espectador, não tive isso. Ao contrário quando o Manowar entrou em seguida. E ai, foi um “lavar de alma”, pois, Eric Adams ao vivo e com perdão do trocadilho, entrega integridade vocal total. Sim, é impressionante como Eric Adams entrega força e extensão vocal e jamais desafina ou semi-tona. É um monstro ao vivo. A mesma avaliação cabe a Bruce Dikinson, quero dizer, já assisti cinco vezes o Maiden ao vivo e em todas, Bruce, entrega qualidade vocal extrema.
Sem falar de Michael Kiske que com sua técnica espetacular, sempre conseguiu cantar notas altíssimas sem forçar e hoje, suas cordas vocais continuam saudáveis e intactas.
Não faz muito tempo que tive o privilégio de assistir Glenn Hughes e foi uma experiência sensacional. Vejam, estamos falando de um sujeito de sessenta e seis anos e que, em grande parte de sua vida, foi “muito doido”, porém, há mais de vinte anos está sóbrio e completamente limpo, bem como, sempre continuou com seu aprimoramento técnico. Digo sem pestanejar que, Glenn ao vivo é um padrão de qualidade quase que inatingível e com sessenta e seis anos, SOTERRA vocalistas de renome de vinte, trinta, quarenta, cinqüenta anos.
Assisti quatro vezes Ronnie James Dio e tal, era um expert em entrega de qualidade ao vivo. Mesmo nos shows após o diagnóstico e tratamento do câncer que infelizmente, o levou a óbito.
Steven Tyler é mais um exemplo de um vocalista que, após grandes períodos de “loucuras” conseguiu ficar limpo e desenvolveu técnicas de acordo com a idade de suas cordas vocais. Resultado, nessa última edição do Rock in Rio, foi o único vocalista de heavy rock que entregou qualidade vocal em todos os quesitos de exigência vocal existentes.
Sinceramente, nesses últimos dias, não consegui engolir as apresentações do Guns com Axl quase morrendo, de Bon Jovi desafinando horrores e lutando fervorosamente para chegar às notas que não chegava nunca. O mesmo de Coverdale atualmente. Mas, o que mais me impressiona é que esses se recusam fazer os ajustes necessários para diminuírem suas dificuldades ao vivo. Quero dizer.. se for preciso baixar vários tons, que se faça. Porém, insistem em cantar em tom normal/original da música e a coisa toda, fica meio constrangedora.
Enfim…
Quero terminar com uma frase de Zico, onde muitos acharam que ele encerrou sua carreira precocemente como jogador no Japão para ser técnico. Ou seja, o torcedor japonês achava que, se Zico quisesse, poderia ir além como jogador.
Zico disse:
– “quero que o público lembre de mim no auge… e não ofegante ao tentar dar um pique de vinte metros…”