Não tenho lembrança precisa de qual o primeiro disco que comprei. Kiss, Queen, Scorpions… Não sei ao certo. A única certeza que tenho é que, lá no princípio, no começo da paixão, o Slade estava presente. Quantas vezes não escutei o disco “Alive II”, sem saber ainda direito como era esse negócio de Rock? O tempo em que cada acorde, cada frase cantada, cada bobagem falada ou arroto proferido, entre as músicas, era algo excitantemente novo e diferente. Não fosse pelo Slade, provavelmente eu não estaria aqui, escrevendo resenhas desse tipo e tampouco teria a amizade da maioria das pessoas que conheci nos últimos trinta e tantos anos…
O Slade fazia o básico do básico do básico do que deveria ser um bom Rock. Era a mais autêntica banda da classe operária! Antes que alguém grite “Black Sabbath”, devo dizer que eu sei que eles também eram operários, mas, pelo menos, na formação do Sabbath tinha um sujeito que era um pouco mais letrado: Geezer Butler, enquanto que o Slade era formado por quatro turrões, que sequer escreviam direito os nomes das músicas. O som que a banda fazia era adequado para uma celebração do tipo “fim de expediente”. Nenhuma filosofia, nenhum contexto mais profundo ou poético, nenhuma reflexão sobre o sentido da vida. Era apenas farra! Músicas para hooligans cheios de cerveja, no pub, abraçados, erguendo as canecas para o alto e entoando em coro canções como “How Does It Feel?”, “Summer Son” ou “Far Far Away”, liderados pelo vocal rouco/beberrão de Noddy Holder, que junto com o baixista Jim Lea, compunha o catálogo da banda. Não é a toa que eles emendavam um hit atrás do outro nas rádios rock e influenciaram bandas como Kiss, Cheap Trick, Twisted Sister, Def Leppard, Ramones, Oasis e inúmeras outras formações que entendem que rock, em primeiro lugar, é diversão e descompromisso. O dom de composição dos caras fazia com que tanto as músicas mais pesadas, como as baladas, soassem como hinos. Embora “In Flame” seja o disco aqui em perspectiva, ele não difere muito do restante da discografia da época. Eu poderia estar falando sobre “Slayed?” ou sobre “Old New Borrowed and Blue” e as impressões seriam exatamente as mesmas.
Tendo sido feito para servir de trilha sonora de um filme, “In Flame” ainda trazia outras músicas cativantes como “So Far So Good”, “Ok Yesterday Was Yesterday” e “Them Kinda Monkeys Can´t Swing”. Todas antológicas, mostrando que as coletâneas do grupo nunca fazem jus à sua história, porque sempre vai ficar muita coisa boa de fora.
Por infortúnio, porém, uma sequência de equívocos empresariais, aliados à má vontade da crítica, que teima em prestar reconhecimento fora de época, fez com que a banda mergulhasse em um imerecido ostracismo. Caso tivessem tido melhor sorte e tivessem tomado decisões corretas, teriam terminado sua carreira com status equiparado ao de seus seguidores. Hoje são uma espécie de banda lendária, que necessita ser redescoberta por novas gerações, mas que sempre permaneceu viva e empolgante na mente de pessoas que, como eu, devem tanto a eles.
Formação
Noddy Holder – vocal, guitarra
Dave Hill – guitarra
Jim Lea – baixo
Don Powell – bateria
Músicas
- How Does It Feel
- Them Kinda Monkeys Can’t Swing
- So Far So Good
- Summer Song (Wishing You Were Here)
- O.K. Yesterday Was Yesterday
- Far Far Away
- This Girl
- Lay It Down
- Heaven Knows
- Standin’ On the Corner