O lendário vocalista Bruce Dickinson em seu vôo solo. O papo de hoje trás a tona este magnífico trabalho,o quarto de sua carreira além das fronteiras de Samson e Iron Maiden,”Accident Of Birth” de 1997,lançado pela gravadora Castle e com produção do renomado Roy Z(conhecido por produzir os trabalhos de artistas como Helloween e Rob Harford,entre tantos outros),o álbum integra uma jornada diferenciada do frontman,seu desejo por desbravar novos horizontes dentro da música,novas possibilidades e sonoridades.No entanto apesar de conter muitos diferenciais acredito que o vírus “Maiden” realmente penetrou Bruce e em suas doze faixas este é um fator altamente reconhecido,talvez por contar com a participação de Adrian Smith na guitarra,ou por estar cansado do marasmo de sua carreira solo após “Balls to Picasso” que nem de longe atraiu os apreciadores ao mesmo nível do Iron Maiden.Resumindo este foi o reencontro com a sonoridade que já o acompanhava,na realidade o experimento foi o resgate do que Bruce já cumpria com perfeição na Donzela.
Então ali estavam os dois responsáveis pela fase mais gloriosa do Maiden prontos para soar tão verdadeiros como a própria banda na época e sem dúvida isto chamou a atenção dos fãs ao redor do mundo, um tiro certeiro.
A temática se manteve bem integra aos parâmetros, eis ai o ocultismo sendo encarado novamente, será?O que para alguns soa como uma referencia a Aleister Crowley na faixa “Freak” que abre o trabalho para outros se trata uma brincadeira com um amigo ou a citação de uma amante, muitos associam a citação na letra de “Mistress”, mas isso somente Bruce poderá esclarecer. No mais se trata de um som que te levará de volta a era oitentista do Iron.
Agora se você planejava uma viagem mental ao ouvir este trabalho seja bem vindo a “Toltec 7 Arrival” e sua quase totalidade de instrumental com pouquíssima letra quase inaudível que te levará a faixa a seguir “Starchildren”, uma história que se completa em “Omega” e “Arc of Space” aonde o conto sobre um futuro apocalíptico com alienígenas chegando a Terra e a preparação e “aceitação” dos humanos para esse fato trás um clima alternativo.
Mas vamos voltar neste ponto a falar da tentativa em soar tão Maiden quanto o Maiden, antes que eu fale da faixa “Taking the Queen” (a balada deste álbum) um detalhe se torna muito intrigante em “Darkside of Aquarius”, eis ai a canção que mais se parece com a Donzela em toda a carreira solo de Bruce, e por ironia quem a compôs não foi Adrian mas sim Roy Z. A música fala dos quatro cavalheiros do Apocalipse que representam os erros que a humanidade cometeu no século XX. O primeiro cavalheiro representa os conflitos do início do século no Leste Europeu, a burguesia contra a classe trabalhadora. Todos sendo manipulados pelos chefes de Estado, com uma postura agressiva e fascista. O segundo cavalheiro representa o Nazismo e o Fascismo que aterrorizaram o mundo na época da Segunda Guerra, com mentiras, racismo e manipulação do povo para conquistar o poder e a supremacia.O terceiro cavalheiro representa a Guerra Fria. E o quarto cavalheiro representa a Guerra do Vietnam, por isso que mencionam o ácido, que representa as drogas usadas para escapar de toda crueldade de uma guerra nesse mundo ácido e também representa as guerras do Golfo Pérsico que assolaram as décadas de 80 e 90.
Em meio a todo esse caos a Roda de Dharma, o Dharmachakra, que segundo Buddha representa o caminho para a própria iluminação, então enquanto vem os cavalheiros essa iluminação vai acabando, porque a roda está parando, então apenas uma pessoa, o Surfista Prateado, veio ajudar a empurrar a roda de Dharma para a iluminação não acabar, então agora que o fim está próximo e praticamente a humanidade está perdida, todos tentam se salvar empurrando desesperadamente a roda de Dharma para buscar a iluminação.
Um pouco de critica a igreja católica também tem seu lugar neste trabalho e na faixa “Road to Hell” encontramos os possíveis pensamentos de Jesus Cristo durante sua crucificação.
Em “Man of Sorrows” retomamos a temática central e Crowley ganha um entorno sobre sua própria doutrina acompanhada por piano e poucas entonações das guitarras. Alias chegamos num ponto que começamos a compreender os diferenciais deste trabalho levando em consideração que se trata da mesma banda de “Balls To Picasso”,ou seja, Roy Z nas guitarras, teclados, mellotrom e produção, Eddie Casillas no baixo e Dave Ingraham na bateria,somados a Adrian que foi convidado para resgatar os famosos duetos do Maiden que na época passava por uma difícil fase com seu novo vocalista Blaze Bayley que vinha sendo massacrado pela mídia e pelos fãs da banda, principalmente pela sua performance ao vivo.
Um pouco de autobiografia em “Accident of Birth” e muito do Iron Maiden em faixas como “The Magician” e “Welcome to the Pit”, e sem muitas diferenças em “Ghost of Cain”, sem dúvida este é um álbum do Maiden sem o Maiden.
Fechando este não surpreendente hoje, mas a época uma retomada no estilo que os fãs realmente gostavam encontramos uma canção totalmente acústica fechando o álbum “Arc of Space”, a última parte do conto sobre o futuro apocalíptico. Aqui Bruce escreve numa perspectiva mais esperançosa. Que todo o Mundo não passa de um sonho que um dia ele deseja escapar dessa realidade e encontrar a resolução de todos os seus problemas, todas as suas esperanças para a salvação dos seres humanos estão depositadas num suposto grupo de extraterrestres que viriam salvar a todos.
Pois é, chegamos ao fim desta viagem, mas com a densa sensação de estarmos falando em mais um trabalho no comando de Steve Harris, seria este o fantasma assombrando Bruce?Possivelmente!
Apesar das comparações este é considerado um dos mais significativos trabalhos de sua carreira solo, sem dúvida uma audição merecida e gratificante.
Tracklist:
- Freak
- Toltec 7 Arrival
- Starchildren
- Taking the Queen
- Darkside of Aquarius
- Road to Hell
- Man of Sorrows
- Accident of Birth
- The Magician
- Welcome to the Pit
- Omega
- Arc of Space
Edição estendida
- “The Ghost of Cain” (Dickinson, Smith)
- “Accident of Birth (Demo)”
- “Starchildren (Demo)”
- “Taking the Queen (Demo)”
- “Man of Sorrows (Radio Edit)”
- “Man of Sorrows (Orchestral Version) part. Janick Gers”
- “Hombre Triste” (Spanish version of “Man of Sorrows”)
- “Darkside of Aquarius (Demo)”
- “Arc of Space (Demo)”
Formação:
Bruce Dickinson – Vocal
Adrian Smith – Guitarra
Roy Z – Guitarra
Eddie Casillas – Baixo
David Ingraham – Bateria