Entrevista: Ana Ostapenko [Batalha da Bandas MS]

Se você já viu filmes americanos como “As Aventuras de Bill & Ted”, ou até mesmo “Escola do Rock”, então já deve conhecer a ideia do que é uma batalha de bandas. E quem nunca sonhou em poder participar de algo assim? Quem nunca quis fazer parte daqueles filmes, só para poder participar dos famigerados festivais competitivos voltados apenas para bandas de rock, e com premiações gloriosas capazes de ajudar a dar um “starting point” para sua banda? Acho que todo mundo do meio musical já deve ter respondido mentalmente “eu já”, certo?

Pois foi justamente pensando nessa ideia, que a Who? Music criou o Batalha da Bandas que teve sua primeira edição em 2014 e atualmente está indo para sua 4° este ano. A Who? Music foi fundada por Caio Dutra e Ana Ostapenko, ambos engajados no cenário cultural e musical de Campo Grande. Caio é guitarrista e membro fundador da banda de Hard Rock chamada Hollywood Cowboys, e também é dono de uma hamburgueria chamada Burger Rocks, que contém a temática do ambiente e dos lanches voltados para o rock n’ roll. Ana além de já ter sido manager de bandas locais, como Codinome Winchester, também é envolvida em diversas frentes. Alguns dos trabalhos mais recentes e prolíficos que podem ser citados são: a Semana da Música em colaboração com o Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul, onde ela (e o Caio) leva diversos convidados para darem testemunho de suas experiências profissionais no meio underground, concomitantes com exibição de filmes e documentários ligados aos temas dos palestrantes convidados. E a produção da série Natasha, que logo mais estará por aí.

Caio Dutra e Ana Ostapenko, organizadores e idealizadores do Batalha de Bandas MS

Caio infelizmente não pôde responder à nossa entrevista, por causa dos diversos compromissos profissionais do seu restaurante aos quais precisa constantemente se atentar. Mas felizmente, consegui uma fração da atenção da – igualmente solicitada, disputada e ocupada – Ana Ostapenko, que gentilmente encontrou tempo hábil para responder as questões.

Em primeiro lugar gostaria de dizer que é uma satisfação e privilégio que tenha me concedido essa entrevista, especialmente por ser alguém que faz tanto pela cultura e tenta de todas as formas ajudar como pode o underground e os artistas independentes que muitas vezes tem dificuldades em conseguir oportunidades dignas. Para começar, gostaria que contasse um pouco da origem da produtora Who? Music, quais eram os objetivos almejados com a criação dela, e que cite alguns dos projetos encabeçados por ela que consideram melhores ou mais recompensadores.

ANA: Eu que agradeço. A Who? Music nasceu de uma ideia minha e do Caio em profissionalizar bandas, produzíamos o Bando do Velho Jack e vimos potencial tanto na gente, quanto na cidade, nas bandas, para produzi-las e assim começamos. Os nossos objetivos sempre foram trabalhar com bandas novas, dando gás e profissionalizando-as. Um dos nossos primeiros projetos foi a Banda codinome Winchester, que profissionalizamos e colocamos no mercado local. Nosso maior projeto é sem dúvida o Batalha de Bandas, festival de música autoral que terá sua quarta edição esse ano, começamos com inscrição de apenas 10 bandas e no ano passado mais de 40 bandas foram inscritas, esse ano queremos atingir a marca de 50 bandas inscritas, de todo o Estado.

Como foi que surgiu exatamente a ideia de promover a Batalha de Bandas? Quando começou isso tudo, e o que mudou da primeira edição para esta de 2017?

ANA: O Batalha surgiu de uma ideia do Caio no meio do trânsito, ele me ligou falou mais ou menos o que seria e eu topei, começamos a produzir, fomos atrás dos parceiros e aconteceu a primeira edição, naquele ano foram apenas 10 bandas inscritas e 75 pagantes, em 2016 foram 42 bandas inscritas e mais de 200 pagantes, esse ano queremos mais e produziremos mais, para que o Batalha entre de vez no calendário de eventos das bandas do Estado.

Quais são os critérios de participação para o Batalha de Banda?

ANA: A banda precisa ser autoral e tocar alguma vertente do rock. Apenas.

Acha que alguns aspectos do underground, especialmente quando se trata de artistas e bandas de rock/metal, as vezes atrapalham de alguma forma?

ANA: Acredito que o medo de “virar comercial” as vezes atrapalha um pouco, as bandas muitas vezes preferem viver em guetos do que mostrar sua música para todo mundo em qualquer lugar que seja, isso torna o som dessa banda para poucos, as bandas não precisam ter esse medo, mas sim buscar isso, porque, enquanto nos escondemos damos margem para outros estilos brilharem. Eu quero que o rock/metal seja modinha sim, que toque no rádio, que esteja em programas de TV, só assim perpetuaremos o estilo.

O Batalha de Bandas tem algum posicionamento específico, como proibição de bandas “polêmicas demais”, ou religiosas no casting?

ANA: Não, a única restrição são bandas cujo as letras têm discurso de ódio.

Como é decidido o corpo de jurados do Batalha de Bandas? É preciso ser um especialista credenciado de alguma forma em música?

ANA: Sim. O corpo de jurados é formado por especialistas da música de Campo Grande, são produtores musicais, músicos e empreendedores no ramo da música. Para a edição de 5 anos (2018) pretendemos trazer um produtor de fora para ser jurado.

 

Qual foi a maior contribuição que o Batalha da Bandas proporcionou para as bandas de Campo Grande, na sua opinião?

ANA: Dar um espaço de qualidade e voz a essas bandas, unir os públicos em torno de um bem comum: a música autoral.

O Batalha de Bandas aceita inscrições de bandas e artistas que não sejam de Mato Grosso do Sul, ou que não morem necessariamente em Campo Grande?

ANA: Aceitamos inscrições de bandas de todo Estado de MS, ainda não nos tornamos de cunho nacional, esse ainda é um sonho.

Quem são os principais parceiros e apoiadores do Batalha de Bandas, desde o início até hoje?

ANA: Nossos maiores apoiadores são o 21 Music Bar, a casa que acolhe o Batalha desde a segunda edição e a Terror Shop Wear, que desde a primeira edição premia a banda vencedora com 10 camisetas merchan.

De onde saem os recursos para a produção de um festival como o Batalha de Bandas? Vocês possuem algum patrocinador ou recebem algum fundo de incentivo do governo?

ANA: Desde o início o Batalha de Bandas é feito com R$ 0,00, a Who? Music ainda não possui um capital para investir no evento, então vamos em busca de parceiros para doação ou preço de custo dos prêmios, a casa parceira cede o local e pagamos os custos com a bilheteria. Em 2016 tivemos o projeto do festival habilitado pelo FIC – Fundo de Incentivo à Cultura do Governo do Estado, mas não passamos na etapa final.

O Batalha da Bandas é aberto a críticas e sugestões do público? Já receberam algum feedback alguma vez, o qual você realmente achou que somou com a causa e de alguma forma melhorou o desempenho do Batalha de Bandas?

ANA: Sim somos superabertos a críticas, todos os anos recebemos feedback da edição do evento e procuramos melhorar cada vez mais os processos.

Há alguma perspectiva de o Batalha de Bandas alçar mão de um porte mais nacional? O que acha que é preciso para algo assim acontecer?

ANA: Sim, nosso objetivo é tornar o evento nacional, o que precisamos para isso é investimento, procurar patrocinadores nacionais, gente que acredite no projeto e invista nele para que se torne nacional, estamos em busca desses parceiros.

O Batalha de Bandas é um festival com um foco mais voltado para o rock n’ roll e suas diversas vertentes, ou artistas de outros gêneros como sertanejo, pop ou funk também poderiam participar?

ANA: O Batalha é um festival mais voltado para o rock, é de nicho mesmo.

Qual parte considera mais difícil na produção e realização de um evento como Batalha de Bandas?

ANA: Conseguir os prêmios, com a crise econômico-financeira que o país passa, investir em entretenimento fica cada vez mais difícil, e os empresários da nossa cidade ainda não veem o rock com bons olhos, afinal estamos no berçário nacional de duplas sertanejas.

Como acha que tem sido a resposta do público em relação ao Batalha de Bandas desde seu início até hoje?

ANA: Fantástica, no primeiro ano tivemos 75 pagantes, ano passado passamos de 200, parece pouco, mas para um evento com 10 bandas autorais isso é um grande avanço, esse ano queremos mais.

Cite um dos melhores momentos do Batalha de Bandas, na sua opinião.

ANA: Foram vários: Ano passado quando a banda D.E.C foi anunciada como vencedora, ver o baixista chorando, foi emocionante sabe, ver que um projeto seu modifica vidas, isso foi mais que gratificante. Outra coisa muito legal é a Banda Jelly Rogers, eles participaram dois anos seguidos e levam toda a família, que forma uma espécie de torcida organizada, é lindo demais ver isso.

De todos os artistas que já participaram das edições do Batalha de Bandas, quais você acha que tiveram melhores feedback do público na sua opinião? E quais vocês da produção recomendariam ou se sentem mais orgulhosos de poderem ter ajudado de alguma forma?

ANA: A Banda Codinome Winchester, vencedora da primeira edição, a banda The Black Coma, a Banda Hellmotz, a Banda Horse Society, dentre tantas utras bandas que passaram pelo palco do Batalha, todas nós temos um certo orgulho e a torcida para que eles façam sucesso.

Deixe uma mensagem a todos os leitores da Roadie Metal que possam estar lendo essa entrevista, ou que possivelmente estejam lendo esta entrevista com intuito de poder saber mais do Batalha de Banda e futuramente participar ou assistir uma de suas edições.

ANA: Participem, não desistam do rock, não desistam da sua música o Batalha está de portas abertas, sempre!

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