Colaboraram: Fábio Miloch (Epicus Doomicus Metallicus) e Ioca Tapioca

Confira a parte III desta coluna aqui.

E a Roadie Metal volta com mais uma edição da coluna sobre o Funeral Doom Metal, uma das formas mais extremas de música. O que deveria ser somente uma matéria sobre a história, o desenvolvimento e as características do estilo, acabou se tornando uma coluna periódica, com a colaboração externa de pessoas abalizadas sobre o assunto, trazendo dicas de nomes que vêm fazendo a diferença no gênero caracterizado pelo ritmo ultralento e angustiante.

Uma destas bandas que vem chamando a atenção nos últimos tempos é a banda norte-americana Loss. Fundada em 2004, o grupo lançou seu debut somente em 2011, de título Despond. No dia 19 de maio de 2017, o Loss lançou seu segundo full-length, o fenomenal Horizonless. Seu Funeral Doom é melódico, e tem algumas pitadas de Atmospheric e até de Stoner, devido aos timbres cheios das cordas. Ouvir a música do Loss faz o ouvinte se sentir enclausurado em uma casa no meio do nada, sozinho, sob uma forte chuva, cedo da manhã. Destaque também para os vocais altamente cavernosos de Mike Meachan, que também lança mão de vocais limpos quando estes se fazem necessários para realçar a musicalidade do grupo.

Loss

Em meio a esta “guerra fria”, saiamos dos Estados Unidos e vamos para a Rússia, uma das terras férteis para Doom Metal, conhecer uma banda de sonoridade misteriosa e instigante, o Goatpsalm. Esta banda foi fundada em 2009 com a proposta de praticar um som ambiente, com elementos de Industrial e de Drone, que foi posta em prática em seu debut, Sonic Desterilization of Light (2009). Com o avançar dos trabalhos, o Goatpsalm se transformou numa banda de Funeral Doom bastante diferenciada, pois o grupo reteve em seu som as atmosferas ambientais do primeiro disco, juntamente com guitarras bem presentes e pesadas, tomando a frente das conduções. Seu mais recente full-length se chama Downstream, lançado em fevereiro de 2016.

Indo para a Dinamarca, nas fronteiras setentrionais do mundo, travamos contato com a banda Nortt, o mesmo nome de seu mentor, único integrante. Funeral Doom “casca grossa”, denso e lentíssimo, mas com o diferencial de agregar elementos de Black Metal em seus arranjos, de modo que as composições do Nortt carregam uma certa aura negra. Os vocais de Nortt também remetem à similares que seus vizinhos noruegueses lançam mão no famoso Black Metal daquele país. Fundada em 1995, o Nortt já lançou três álbuns de estúdio, além de várias demos e de alguns outros formatos.

https://www.youtube.com/watch?v=D4OD4AAF_ic

Descendo rumo a Itália, país cujos músicos tem um jeito único de fazer Heavy Metal, encontramos o Fuoco Fatuo. Estes italianos fazem um Funeral Doom sinistro e denso, com tudo que o gênero exige, mas fortemente dinâmico e cavernoso, com vários detalhes e arranjos que enriquecem o corpo final das músicas, incluindo passagens Death Metal que nos remetem ao Morbid Angel. Já lançou dois álbuns de estúdio, sendo o mais recente deles o intitulado Backwater, de 2016.

Fuoco Fatuo

Seguindo a escola do Shape Of Despair, temos a banda armênia Sadael, que também é uma “one-man-band” a exemplo do Nortt, e cujo integrante-solo carrega também o mesmo nome. O ritmo arrastado e os arranjos de guitarras quase minimalistas andam lado a lado com orquestrações feitas em teclados e passagens góticas que lembram os portugueses do Moonspell, o que confere um clima ao mesmo tempo soturno e etéreo à atmosfera criada pelo Sadael. Ainda, a banda armênia incorpora elementos de outros gêneros, como melodias típicas do Death melódico e levadas Black Metal, velozes mesmo, tornando a audição de um trabalho do Samael dinâmico e empolgante, nada cansativo. A discografia do Sadael ostenta vários trabalhos dentre full-lengths, demos e EP’s.

Como já foi explicado em partes anteriores desta coluna, o Funeral Doom Metal se faz bem mais presente na Europa e nos Estados Unidos, já que, durante os anos 90, as bandas que existiam se concentravam praticamente na Finlândia, Noruega e Estados Unidos, a menos de Mournful Congregation, por exemplo, que na distante Austrália já praticava a mesma ideia sonora. A poderosa internet fez o favor de espalhar o Funeral Doom pelo mundo, e em diversos lugares brotaram bandas dispostas a praticar a forma extrema de Doom Metal.

Vamos até o Japão para averiguar isso. Aquele arquipélago é prato cheio para os fãs do Gênero Maldito, tendo em vista que ali existem bandas de todos os estilos de Doom Metal. Dentre os mais conhecidos, temos o Church Of Misery com seu Stoner/Doom e os gigantes do Boris. Já que estamos tratando de Funeral Doom, por lá temos o Aeternum Sacris. Mas uma “one-man-band”, cujo integrante atende pelo nome de Sacris. Com uma discografia construída somente com demos e EP’s, a banda nipônica trata de visões apocalípticas em suas letras, além de abordar também temas sentimentais (como no caso da música chamda Doom Metal Girl, a cara do Type O’ Negative…). Musicalmente falando, o Aeternum Sacris também consegue praticar um Funeral Doom com personalidade, com melodias que cativam e surpreendem quem encara o desafio de ouvir o estilo. Traços de Shoegaze e de Dreampop ecoam em cima dos arranjos pesados e mórbidos da banda, combinando como uma luva bem encaixada e reforçando a identidade sonora. Certamente, este é um dos grupos mais criativos da cena ultralenta.

Cruzando o Oceano Pacífico, chegamos ao Chile, outro país que tem uma forte cena Doom Metal, em que alguns de seus nomes são principais representantes do estilo na atualidade. Uma das várias representantes do Funeral Doom Metal no magrelo país atende pelo nome de Aura Hiemis. Fundada em 2004, o grupo chileno já acumula em seus registros três álbuns de estúdio e um EP. O Aura Hiemis transita bem entre o Funeral Doom e Gothic/Doom ensinado pelo Paradise Lost e pelo Theatre Of Tragedy, por causa do instrumental beirando o Death/Doom tradicional e os duelos vocais entre feminino lírico e masculino gutural. E o melhor: com a cara do Doom Metal chileno, que sofre da mesma patologia do Metal italiano de fazer um som bem característico, geograficamente falando. O clipe abaixo, da música In Noctem, mostra o lado gótico “paradiselostiano” do Aura Hiemis.

Por aqui, encerramos o quarto estágio de nosso cortejo fúnebre. Mais uma vez, não custa lembrar: Funeral Doom não é um estilo para ser ouvido “só por cima”. Ele requer concentração para enxergar cada detalhe dos arranjos e introspecção para se absorver corretamente o sentimento que a música transmite. Até a parte V, com mais dicas e comentários sobre o aspecto mais extremo do Doom Metal, o Gênero Maldito.