Resenha: Immortal – Pure Holocaust (1993)

Uma das maiores hecatombes em forma de música e uma das performances mais avassaladoras feitas por qualquer banda atende pelo nome de Pure Holocaust, segundo álbum dos noruegueses do Immortal. Deixando de lado valores semânticos de ordem histórica, este álbum é um verdadeiro holocausto sonoro, sem margens frágeis ou buracos.

Antes, cabe lembrar (se é que ainda precisa falar mais algo sobre a cena norueguesa) que o começo dos anos 90 viu a Noruega eferverscer em novas bandas que deram uma identidade única à sonoridade extrema começada por Venom e Bathory e pavimentada por Sarcófago e Blasphemy. Lideradas pelo Mayhem do guitarrista Euronymous, várias bandas da cena norueguesa cravaram seus nomes na história não só pela música rápida, agressiva e gélida, mas também pela heresia e pela blasfêmia, que, aliadas a natural rebeldia juvenil, transpassaram os limites líricos e da sensatez e tornaram a calma e pacata Noruega em um pandemônio com incêndios de igrejas históricas e assassinatos.

O Immortal sempre esteve a parte destas polêmicas e foi uma das poucas bandas da cena que conseguiram se consolidar tão-somente pela qualidade musical. Após ser membro de bandas de Death Metal no fim dos anos 80 como Amputation e Old Funeral (que já teve em suas fileiras Varg Vikernes), o músico Olve Eikemo foi convertido ao Black Metal através de Euronymous. Eikemo, por sua vez, converteu Varg Vikernes ao estilo enquanto ambos ainda tocavam no Old Funeral. Varg seguiu seu caminho com o Burzum e Olve Eikemo, juntamente com seu parceiro de Amputation, Harald Nævdal, fundou o Immortal. Agora na “vibe” do Black Metal, ambos adotaram os vulgos de Abbath Doom Occulta e Demonaz Doom Occulta, respectivamente.

Detalhe: a bem da curiosidade, Abbath e Demonaz nunca foram parentes de sangue, mas cunhados. Abbath foi casado com a irmã de Demonaz.

Com a entrada do baterista Gerhard “Armagedda” Herfindal na banda, estava fechado o trio que gravaria o debut do Immortal, Diabolical Fullmoon Mysticism (1991), com Abbath nos vocais e contrabaixo e Demonaz nas guitarras. Este trabalho mostra um Immortal já sedento por sonoridades frias e angustiantes, mas com uma produção que carecia de uma melhor capacitação. Esta veio no segundo álbum, Pure Holocaust, e junto dela, uma agressividade poderosa, do começo ao fim.

Em pouco mais de 33 minutos o Immortal sacramentou sua sonoridade que ficaria conhecida como “Holocaust Metal”: A performance assoladora de Demonaz e Abbath encarnou em forma de música a fúria das tempestades nórdicas, uma avalanche de blast-beats carregava riffs cortantes e gélidos, como uma navalha feita de gelo. Este álbum é um exemplo cabal de algo que deve ser ouvido e absorvido do começo ao fim, pois todas as oito faixas juntas criam uma homogeneidade fabulosa. Algo comparável a unidade primorosa e fluente de Reign In Blood, do Slayer.

Apesar de Erik “Grim” Brødreskift ter sido creditado como baterista e de ter aparecido na capa do álbum como membro da banda, quem gravou todas as linhas de bateria de Pure Holocaust foi o próprio Abbath, numa das performances mais arrasadoras do Metal Extremo em se tratando de bateria. Além disso, Abbath gravou os baixos e os vocais com sua característica voz rasgada. Demonaz, além de registrar as guitarras, também foi o responsável pelas letras, que fogem bastante da temática mais que batida de satanismo, preferindo enaltecer o frio, o inverno, as montanhas e o Norte.

Outro detalhe que chama a atenção é a ambiência que Pure Holocaust cria. Ouvindo este disco com a devida concentração, ele inevitavelmente te levará para as montanhas da Noruega, à noite, em meio a uma forte tempestade de neve. Os tons das músicas e os timbres de guitarra de Demonaz ajudam a criar esta sensação.

Produzido pelo lendário produtor Eirik “Pytten” Hundvin no não menos lendário Grieghallen Studio, Pure Holocaust sacramentou-se como uma das obras-primas do Black Metal norueguês. Pytten, por sinal, é um dos maiores responsáveis pela sonoridade única e fria do Black Metal norueguês, devido a sua paixão por “reverbs”, que ele usava e abusava nos seus trabalhos com Mayhem, Burzum e Emperor. A faixa Unsilent Storms in the North Abyss ganhou clipe, que, como manda a tradição do Immortal, mostra todo o lado zoeiro e irreverente de Abbath, que nunca se preocupou em se levar tão a sério e em quebrar os dogmas “tr00” do Black Metal. Por isso que o próprio conquistou o Brasil em sua passagem por nosso país em 2017 com todo o seu bom-humor, suas danças e, mais que tudo, pelo grande músico que é.

E a dupla Abbath/Demonaz ainda tinha muita munição armazenada, que foi aproveitada no álbum seguinte, o não menos avassalador Battles In The North (1995). Mas foi Pure Holocaust que firmou o Immortal como o nome mais agressivo, pesado e respeitado do Black Metal norueguês. Talvez porque Abbath e Demonaz estivessem mais preocupados com o Heavy Metal do que em sair pela Noruega incendiando igrejas.

 

Pure Holocaust – Immortal (Osmose Productions, 1993)

Tracklist:
01. Unsilent Storms In The North Abyss
02. A Sign For The Norse Hordes To Ride
03. The Sun No Longer Rises
04. Frozen By Icewinds
05. Storming Through Red Clouds And Holocaustwinds
06. Eternal Years On The Path To The Cemetary Gates
07. As The Eternity Opens
08. Pure Holocaust

Line-up:
Abbath Doom Occulta – vocais, contrabaixo, bateria
Demonaz Doom Occulta – guitarras

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