Resenha: Heretic – The Pessimist (2015)

O Heretic, de Goiás, não demorou muito tempo para lançar o sucessor de Λειτουργία. “The Pessimist”, porém, mesmo vindo na cola do trabalho anterior, consegue soar bastante diferenciado, apresentando uma dose maior de peso e ataque.

A proposta da banda, completamente instrumental, mistura elementos de Death e Black Metal com música étnica, de regiões como Índia, Egito e países do Mediterrâneo. Tudo é perfeitamente integrado, de uma forma que você não faz distinções do tipo “agora é o momento pesado” ou “agora é o momento oriental”. É uma leitura fluida e coesa da musicalidade daqueles locais, como se ela tivesse sido concebida naturalmente para ser executada com instrumentos elétricos.

O guitarrista Guilherme Aguiar continua encabeçando esse projeto e, além de ter cuidado da produção, gravou as faixas com a participação de convidados, conforme pode ser acompanhado pelos créditos registrados na capa. Essa, por sinal, é tão minimalista quanto a do primeiro disco, e tão bela e intrigante quanto, como se fosse a capa de um livro que, ao ser aberto, fizesse ressoar as escalas musicais exóticas de países que parecem ter toda sua cultura ditada pelo próprio sol.

Os segundo inicias de “Nameless Magick” são rapidamente invadidos pelo instrumental pesado, que conta com solos de Luis Maldonalle, mas cujo destaque são as linhas de baixo absurdas que permeiam seu andamento, o que será uma constante em todo o disco, como percebe-se logo em “Arak”, onde o baixista Fifas Rules faz progressões e solos no braço de um fretless. “Sitar Bomb!”, como já se anuncia, é uma faixa calcada em uma melodia feita na cítara, com uma levada mais acústica e com uma percussão rápida e onipresente.

A faixa-título “The Pessimist” impõe o peso novamente e prepara o terreno para “Act V”, vinda diretamente do primeiro trabalho da banda, “Opus Heretika”, de 2011. Gravada com o baterista Diogo Sertão e com o baixista Laysson Mesquita, também debulhando um fretless, essa música inicia numa sequência de peso cadenciado, que vai evoluindo gradativamente até explodir no mais puro momento Slayer, antes de retornar para uma condução de melodia densa. No decorrer da faixa, surgem sons que soam como coros, deixando-a com um clima mais sombrio, como se fossem o uivo de djinns assombrando os desertos. Esses sons se fazem presentes em outros momentos do disco, como em “Ouzakia”, faixa que também se destaca pela pegada mais agressiva.

“Interlude” e “Ras Divine Light”, são momentos mais calmos, de contemplação, destacando-se essa última pelo clima onírico que nos permite a capacidade de deixar a mente flutuar, guiados pelo solo de Moyz Henrique. A última música autoral do disco, “Dead Language”, está voltada para permear o solo de Luis Maldonalle e não se obsta de traçar um rápido flerte com o Jazz em sua parte intermediária.

Tal qual o fez no álbum anterior, o Heretic inseriu covers em seu disco, sendo dois nesse caso, visitando primeiro a Suécia, com a versão de “Genesis”, do álbum de estreia do Ghost, até retornar para o seu porto seguro, em “Caravans To Ur”, do álbum “Sphinx”, de 2003, dos israelitas do Melechesh, uma de suas principais influências. Mas a influência primordial do Heretic é a riqueza cultural de toda uma parte do mundo, cuja trajetória temporal supera sobremaneira a breve temporada ocidental nos ditames desse mundo. Deve ser por isso que o Heretic trabalha tão rápido. A matéria prima de sua arte é extensa e oferece ainda muito para ser explorado. Ouvir os trabalhos dessa banda lhe dará, certamente, a interpretação literal para a expressão “viajar na música”.

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