Art Against Agony: Instrumental Virtuoso e Experimental da Alemanha

Diretamente de Sttutgart, sul da Alemanha, o ART AGAINST AGONY vem causando estardalhaço na Europa entre os admiradores da música pesada instrumental. O grupo (que não se define como banda, mas sim como “coletivo artístico internacional”) vem chamando atenção pela admirável virtuose técnica de seus integrantes e pela capacidade de unir gêneros aparentemente antagônicos: o prog metal daqueles repletos de andamentos inusitados se une ao jazz, fusion, à música clássica e até mesmo a elementos industriais – tudo isso com surpreendente harmonia.

Aproveitando a vinda do grupo ao Brasil em Agosto para shows em São Paulo e Rio de Janeiro, entrevistamos um de seus membros, que atende pelo pseudônimo de “the_sorcerer” (já que todos optam por manter-se anônimos, mascarados e encarnam personagens), em uma conversa que abrange música, filosofia, e até mesmo (pasmem!) preservativos. Confira abaixo.

Mais do que uma banda, o Art Against Agony se autointitula um coletivo artístico internacional. Você poderia falar um pouco mais sobre como suas atividades em geral se diferem daquelas de uma banda comum? Você poderia resumir como o Art Against Agony foi criado e as conquistas do grupo até o momento?

the_sorcerer: O Art Against Agony foi inicialmente criado em 2012 como um quarteto instrumental. Desde então a banda lançou dois álbums (“Three Short Stories”, de 2014, e “The Difference Between a Duck and a Lobster” de 2016). E um EP (“The Forgotten Story“, de 2017) e evoluiu para um coletivo mais amplo de artistas que abrange não somente a música, mas também fotografia, videografia e performances artísticas. Participamos de exposições no passado, mas em maior parte são os fotógrafos que publicam seu trabalho em nosso site (www.artagainstagony.com). Também temos uma série em vídeo no nosso canal do Youtube, que é atualizada regularmente. Os membros atuais do projeto vêm da Alemanha, Turquia, Russia, Índia e Japão. Entretanto, optamos por nos manter anônimos porque pensamos que nossos corpos, nomes, nacionalidades e rostos são irrelevantes em relação ao que se escuta em nossos discos ou até mesmo o que é visto é nossos shows e vídeos. Nos irrita profundamente pensar sobre cena artística atual, porque fomos treinados para reconhecer artistas por suas faces, peitos e bundas, os anúncios dos quais participam ou pelos ‘escândalos’ que produziram. As faces e nomes dos artistas são vendidos como marcas, a significação da arte em si tem sido marginalizada e tido como um fator meramente econômico. Se você vê uma banda em um poster, você enxerga principalmente pessoas e não música. Por sinal, cometemos o mesmo erro em nossos pôsters de turnês, mas é assim que o mercado funciona. Mas achamos que isso tudo é um enorme erro e é por isso que escolhemos máscaras para cobrir nossos rostos, fantasias para cobrir nossos corpos e pseudônimos para despistar nossos nomes. A única coisa que importa são nossas ações. Transformamos ideias em música, pois ideias vieram para ficar. As ideias são a única coisa que permanecerá quando nossos corpos – e os corpos daquelas que viram e ouviram nossos nomes e faces – forem devolvidos à natureza. Desta forma, nossas ideias não pertencem a ninguém, nem a nenhum corpo.

https://www.youtube.com/watch?v=CHJFPApEl_g

O Art Against Agony é uma das bandas mais ecléticas das que tomei conhecimento, pois o ouvinte pode encontrar estilos bastante diferentes nos seus álbuns. Vocês possuem músicas bem pesadas como ‘Abysmal Gale‘ e ‘BBQ‘ (fãs de Dream Theater devem adorar essa!), coisas mais leves e voltadas ao jazz como ‘la_mer‘ e até mesmo pitadas de música eletrônica e algo como Nine Inch Nails. São composições muito distintas, mas todas têm como ponto comum a virtuose técnica que caracteriza a banda. Vocês pretenderam propositadamente alcançar diferentes públicos? Ou, por outro lado, não temem acabar sendo rejeitados (ou talvez não completamente compreendidos) por esses mesmos públicos específicos por conta dessas suas experimentações?

the_sorcerer: Não estamos atrás de técnica pela técnica. Não acreditamos que a música se torna automaticamente mais bela se for mais técnica. A técnica é tão somente uma ferramente útil para passar uma mensagem, e a passar mensagens é nosso único objetivo. Contudo, já que se pode encontrar virtuose técnica em todos os gêneros musicais, desde música clássica ao Death Metal, então posso dizer que sim, queremos alcançar esses públicos! Entendemos que o ser humano naturalmente tenta categorizar tudo e também que as pessoas gostam de se identificar com certas categorias. Caras do metal não gostam de jazz, os caras do jazz não gostam de techno, que por sua vez não curtem música clássica e por aí vai. Porém, rejeitamos a ideia de categorização no conceito da arte. Nos valemos de várias ferramentas para passar a mensagem de nossa filosofia. Assim, estar reduzido a uma mistura de gêneros musicais sequer chega perto do que pretendemos.

Vocês se inspiram em outros grupos que também mantêm essa aura de mistério sobre suas identidades pessoais, como Ghost, Batushka ou até mesmo Gorillaz? Como você entende que essa decisão impacta sua arte?

the_sorcerer: Na verdade, não. Obviamente conhecemos esses projetos, mas não somos influenciados por eles. Nos consideramos anônimos, não misteriosos. Ainda, nosso conceito filosófico não é misterioso, mas sim bastante direto. Para quem quiser conhecê-los, publicamos alguns ensaios filosóficos em nosso site www.artagainstagony.com. Devo admitir que aqueles que se deparam com nosso projeto pela primeira vez podem achar nossas obras “misteriosas”. Mas isso acontece provavelmente não porque somos misteriosos, mas mais porque soa incomum e estranha a nossa ideia de que somente suas ações – e não seu corpo, rosto e nome – são relevantes para a existência da humanidade. A educação padrão na maioria das sociedades desse planeta foca em uma identidade definida pela mente e o corpo, o que é obviamente contrário ao que pregamos.

Qual é o seu background na música? Vocês tiveram educação formal nesse sentido?

the_sorcerer: Os membros atuais do Art Against Agony são filósofos, cientistas, engenheiros, consultores ou jornalistas e não necessariamente se sustentam da arte. Alguns possuem formação musical, outros não. Este que vos fala, particularmente, possui. Mas, insisto, uma educação formal é apenas uma outra ferramenta que se presta a divulgar uma mensagem.

Vocês vêm ao Brasil pela primeira vez em agosto. O que esperam desta tour?

the_sorcerer: Não esperamos nada. Se esperarmos muito, poderemos nos desapontar. Por outro lado, se não esperarmos nada, a tour vai ser incrível.

Quais são os planos do Art Againt Agony para o futuro.

the_sorcerer: Acabamos de lançar um trailer para nosso primeiro vídeo “Coffee for the Queen” e lançaremos um novo EP chamado “Russian Tales” em Julho. Esse trabalho tem a particularidade de ter sido composto na estrada durante nossa primeira tour na Russia.

Em agosto, visitaremos a Russia e o Brasil e no fim do ano começaremos a produção de outro EP com nosso novo membro, the_maximalist, um percussionista que domina um antigo instrumento indiano chamado Mridangam.

Muito obrigado pela entrevista! Sintam-se livres para deixar uma mensagem aos seus leitores do Brasil.

the_sorcerer: Sempre use preservativo. Esconder-se atrás de uma máscara para despistar sua identidade é legal, mas não há jeito melhor de esconder sua identidade a longo prazo do que sempre usar o preservativo.

Site oficial: artagainstagony.de
Facebook: https://www.facebook.com/artagainstagony

 

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