Na realidade, por muito tempo, “World Wide Live” foi meu preferido, afinal eu acompanhei o frisson do seu lançamento, enquanto que “Tokyo Tapes”, nas prateleiras das lojas, emanava um certo ar de objeto de desejo inalcançável. Tinha um jeitão de importado e – consequentemente – caro!
Minha escolha de preferência permaneceu inalterável por um período considerável. Como eu comprei “World Wide Live” no lançamento e na esteira da histórica apresentação no primeiro Rock In Rio, dediquei mais horas de audição a este, enquanto que “Tokyo Tapes” foram vezes contadas… até o momento em que senti necessidade de revisitar aquele show.
E que show! Foi como se eu estivesse fazendo aquela audição pela primeira vez! Hoje, é curioso verificar que apenas sete anos – e quatro álbuns de estúdio – separam os dois lives. Minha opinião mudou? Sim e não. Os dois álbuns são absolutamente diferentes entre si, sob mais de um aspecto, mas ambos são absolutamente fantásticos, essenciais e, em razão dos repertórios totalmente distintos, complementares. Não posso mais optar entre um e outro: amo os dois.
“Tokyo Tapes” possui um clima mais “hardão”, fruto de sua época e da presença do guitarrista Uli Jon Roth, um sujeito fanático por Jimi Hendrix, que derramava, sobre as músicas, um tom mais lisérgico, mais ardido, e que também assumia o papel de vocalista principal em algumas músicas, dando uma dinâmica diferenciada à apresentação. Curiosamente, ele não queria viajar para o Japão, para a gravação do show que gerou o disco, pois já estava no processo de afastamento da banda, mas foi convencido por Klaus Meine a fazê-lo, vendendo a ideia de que aquilo seria a oportunidade de realizar o encerramento de uma fase da banda em grande estilo. Roth comprou o argumento e admite, hoje, que Klaus estava coberto de razão.
Além do repertório impecável, “Tokyo Tapes” me soa atrativo por sua sonoridade natural, com o eco e um quê de sujeira suficiente para lhe trazer para o meio da plateia. É dessa forma que os discos ao vivo devem realmente soar! E o repertório possuía algumas surpresas para os ouvintes. A faixa de abertura, “All Night Long”, e “Suspender Love” não fizeram parte do tracklist de nenhum álbum anterior, aparecendo apenas posteriormente em coletâneas ou em forma de bônus nos relançamentos.
Pelo lado mais convencional, tem a dobradinha rock’n’roll de “Hound Dog” e “Long Tall Sally”, além da homenagem ao público japonês com a tradicional canção “Kojo No Tsuki”, onde a emoção da plateia transborda para além das caixas de som. Uma celebração inesquecível, que ampliava seu alcance com a execução de clássicos como “We’ll Burn the Sky”, “Steamrock Fever”, “In Trance” e faixas pesadas como “He’s a Woman, She’s a Man” e “Robot Man”, esta no final, com Roth marcando sua despedida fazendo o acréscimo de um solo diferenciado em sua metade.
Mesmo já conhecendo “Tokyo Tapes”, senti-me redescobrindo-o de uma maneira em que tudo parecia inédito. Há algo especial aqui, afinal quantos discos podem gerar esse tipo de sensação, depois de tantos anos e com um repertório já íntimo do ouvinte? É algo como o prazer de encontrar um amigo antigo e se divertir recordando as mesmas velhas histórias.

Tokyo Tapes – Scorpions
Data de lançamento: agosto/78
Gravadora: RCA Records
Tracklist
01 All Night Long
02 Pictured Life
03 Backstage Queen
04 Polar Nights
05 In Trance
06 We’ll Burn the Sky
07 Suspender Love
08 In Search of the Peace of Mind
09 Fly to the Rainbow
10 He’s a Woman, She’s a Man
11 Speedy’s Coming
12 Top of the Bill
13 Hound Dog
14 Long Tall Sally
15 Steamrock Fever
16 Dark Lady
17 Kōjō no Tsuki
18 Robot Man
Formação
Klaus Meine – vocal
Ulrich Roth – guitarra, vocal em “Polar Nights”, “Fly to the Rainbow”, “Dark Lady” e “Hell Cat”
Rudolf Schenker – guitarra
Francis Buchholz – baixo
Herman Rarebell – bateria