Resenha: Heavy Duty – Minha Vida no Judas Priest

Deep Purple, Metallica, Slayer, Iron Maiden, Black Sabbath… Poderia preencher aqui vários parágrafos com nomes de bandas de sucesso que tem ou tiveram problemas entre seus integrantes. O Judas Priest não poderia ficar de fora, embora suas questões internas tenham sido sempre tratadas com tanta discrição que, quando reveladas, pegaram os fãs de surpresa.

Surpresa esta que fica ainda mais evidenciada quando tomamos ciência de que, a mais influente de todas as duplas de guitarra do Heavy Metal, passou por problemas dessa natureza. O impecável entrosamento musical, que gerou fascinação por gerações desde os anos 70, não era compartilhado em nível pessoal.

Mas, felizmente, esse não é o teor predominante do livro. A autobiografia do guitarrista K.K. Downing, “Heavy Duty – Minha Vida no Judas Priest”, lançada no Brasil pela Editora Estética Torta, com tradução de Marcelo Vieira, é obrigatória para os fãs de Judas Priest e do Heavy Metal em geral. Redigida em parceria com o escritor Mark Eglinton, que já assinou obras sobre James Hetfield (Metallica), Rex Brown (Pantera) e Adam Negal (Behemoth), o livro escapa do tom ressentido e, ao final, é um relato da história da banda sob o ponto de vista de um de seus principais e mais antigos integrantes, pois K.K., junto com o baixista Ian Hill, esteve na primeira formação e permaneceu no posto até anunciar sua saída em 2011.

Como já demos a entender acima, o relacionamento com Tipton foi o foco das maiores frustrações de Downing na banda, embora isso não signifique que houve animosidade ou que não se falavam. Os músicos interagiam normalmente, compunham juntos, jogavam golfe, mas alguns posicionamentos de Tipton, em parceria com a equipe empresarial, desagradavam Downing até o momento da ruptura. Não vamos aqui detalhar as motivações finais, você terá que ler o livro para saber, mas em todo o decorrer das páginas fica claro que K.K. era – e é – um grande entusiasta da banda e do estilo que ajudou a criar.

Como leitor e fã, o que posso dizer é que, por toda a narrativa, eu encontrei sinceridade e coerência. Tendo acompanhado a banda desde o começo dos anos 80, não faltaram momentos onde, o que eu estava lendo, coincidia com as palavras proferidas em várias e várias entrevistas antigas que tive acesso ao longo dos anos, com alguns trechos soando quase como que literalmente idênticos. Isso tornou minha experiência ainda melhor, pois fez com que eu reconhecesse que não havia ali um personagem criado para a autobiografia e sim alguém que manteve a pertinência de revelar suas atitudes, seus pensamentos e opiniões em determinados períodos, mesmo que depois se permita admitir que hoje enxerga alguns fatos de forma diferente.  

Embora os ressentimentos não sejam a tônica, estes estão lá, detalhados, mas o músico deixa claro que a separação foi uma decisão sua e explica detalhadamente os porquês. A continuidade da trajetória da banda, sem a sua presença, seria algo encarado com naturalidade. O resto da história nós já sabemos. Seu substituto é um excelente guitarrista, mas a lenda pesa e, no nosso imaginário, sempre estará a imagem icônica do guitarrista louro, empunhando uma Flying V e impulsionando-a em direção ao céu enquanto sustenta a mais aguda e agressiva das notas, um som tão vibrante e verdadeiro quanto a vida que teve.

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