O Metal Voice é um quadro da Roadie Metal criado por cinco redatores, cujo o ponto em comum é o fato de serem, ou já terem sido, vocalistas de banda de Rock/Metal. Nos textos, serão publicadas entrevistas com diversos vocalistas, onde cada um contará a sua história e trajetória até chegar no posto de frontman/frontwoman de uma banda, indo dos detalhes pessoais até os mais técnicos, com tal enfoque na questão vocal.
Hoje conheceremos um pouco sobre a trajetória de Victor Chalegre, vocalista e guitarrista da banda recifense Boa Vista Hard Club, grupo formado em 2016 no bairro da Boa Vista na capital pernambuco, que apresenta em seu som um Hard Rock Experimental pesado e moderno.
Roadie Metal: Quando você começou a cantar?
Victor: Por volta dos 8 anos de idade, talvez? Não lembro muito bem, mas em algum momento nessa época eu comecei a botar meu ouvido nos falantes do som que tinha em casa, meio obcecado, pra ouvir bem alto, e aí começar a cantar foi uma consequência natural dessa obsessão.
Roadie Metal: Como você aprendeu a cantar?
Victor: Um pouquinho mais tarde, já perto da adolescência, tive a oportunidade de estudar no Conservatório Pernambucano de Música. Estudei violão popular lá durante um ano, e tinha aulas de canto coral também. Depois de uns anos, estudando no antigo CEFET (atual IFPE) tive o privilégio de ser instrumentista do coral da escola, o que me ensinou muito sobre canto (apesar de não estar lá como cantor).
Roadie Metal: Como você achou o seu estilo de canto?
Victor: Não dá pra dizer que eu achei. Sempre que me meto numa empreitada musical nova, alguma coisa muda (esperançosamente pra melhor!). O que dá pra dizer é que eu procuro sempre servir a intenção da canção. A voz pra mim é só o instrumento da mensagem.
Roadie Metal: Quais são suas influências?
Victor: De Robert Johnson à Orquestra Popular da Bomba do Hemetério.
Roadie Metal: Fale um pouco do seu trabalho na Boa Vista Hard Club.
Victor: O Boa Vista Hard Club foi fundado com a intenção de fazer surgir um hard rock nativo de Recife. Cheio de caos, cheio de suor, cheio de energia. Uma senhora missão, se me perguntar, mas é bom demais!
Roadie Metal: Como você encaixa a sua voz nas composições da Boa Vista Hard Club?
Victor: Do jeito que mencionei antes. Minha voz serve como instrumento da mensagem. Se a mensagem é de saudade, procuro soar saudoso. Se a mensagem é de raiva, vou procurar fazer sentir exatamente isso.
Roadie Metal: Você utiliza bastantes drives em suas músicas, que é uma das técnicas mais agressivas para a voz, como você trabalha a voz para que os drives não a prejudiquem?
Victor: Às vezes, quando a gente toca cedo, no estúdio pela manhã, por exemplo, cantar as músicas mais agressivas fica bem mais complicado, e aí o aquecimento que eu procuro fazer é mais disciplinado. De forma geral, eu procuro usar minha voz de forma moderada durante o dia, testando ela aqui e ali, e aí na hora de cantar mesmo, gasto a energia toda que tiver pra gastar.
Roadie Metal: Como você aprendeu drives?
Victor: Me fodi muito porque foi sempre do jeito difícil. A instiga que os cantores e as cantoras que cantavam rasgado me davam sempre me levavam a tentar fazer igual, o que já me deu até nódulos na garganta, porque pra completar, sempre tive refluxo. Com o tempo fui pesquisando aqui e ali, sentindo a diferença de algumas formas diferentes de projetar a voz, mas o negócio mesmo é a insistência. Acho que ter começado cedo me ajuda até hoje.
Roadie Metal: Como é a sua rotina de estudos vocais?
Victor: Não tenho rotina. Tô sempre pegando músicas novas, cantando uma coisa diferente aqui e outra ali, me aventurando com um sambinha ou qualquer outra coisa diferente do que faço com a banda, mas rotina mesmo eu não tenho.
Roadie Metal: Como você prepara a sua voz antes de cantar ao vivo?
Victor: Se o show for cedo, eu faço uma série de aquecimentos específicos, se não é certeza que vai dar ruim. Se for me apresentar à noite, por outro lado, o aquecimento é mais tranquilo, porque uso minha voz de forma controlada ao longo do dia e aí quando chega a hora minha voz normalmente tá pronta.
Roadie Metal: Você costuma explorar outras técnicas vocais?
Victor: Sim. Quer dizer, não enquanto técnicas, mas como te disse, eu tô sempre cantando estilos diferentes em casa, aprendendo uma canção diferente. Algumas canções foram essenciais pra aprender sobre diferentes projeções de voz e técnicas tipo vibrato, falsete, etc. Não tenho domínio total sobre nenhuma dessas técnicas, mas não paro de cantar, então vou me sentindo mais seguro pra fazer algumas coisas com o tempo.
Roadie Metal: Você costuma cantar outros estilos fora do Rock?
Victor: Canto qualquer coisa, ou pelo menos tento, né? Mesmo que de tiração, feito Dinho fazia no Mamonas Assassinas.
Roadie Metal: Você já teve outros projetos além da Boa Vista Hard Club? Se sim, fale um pouco a respeito deles.
Victor: Minha primeira banda, ainda adolescente, se chamava 69 Kharbonno. Acho que era assim que escrevia. A gente usava a ideia do papel carbono porque era uma banda que só tirava cover. A gente tocava O Rappa, Cueio Limão, e uma caralhada de coisa mais. Depois de um tempo, fiz uma banda de Rockabilly, chamada Bluebilly. Aí eu tinha uns 18 anos, talvez? Tem até uns vídeos no Youtube ainda. Quando a Bluebilly acabou, decidi que era hora de começar a compor valendo. Daí nasceu o Boa Vista Hard Club.
Roadie Metal: Como você define ser vocalista?
Victor: Ser vocalista é assumir a responsabilidade de entregar uma mensagem. Seja cantando, recitando ou contando uma história. Se você está vocalizando, ou seja, usando sua voz, a responsabilidade é sua de fazer com que se entenda o que se quer dizer.
Roadie Metal: Qual a responsabilidade de ser vocalista de uma banda?
Victor: A mesma de ser vocalista em qualquer outra situação! Numa banda o contexto é específico, né? Você tem outros sons e precisa procurar harmonia. No meu caso, rola o desafio de cantar e tocar ao mesmo tempo, então a responsabilidade maior talvez seja manter a coordenação e não cagar tudo. hahahahah
Roadie Metal: Qual dica você dá pra alguém que quer começar a cantar?
Victor: Comece a cantar! Esqueça a galera que vai ficar no seu pé dizendo que tem que fazer isso ou aquilo. Pra aprender a cantar você precisa começar a cantar. Uma forma boa de sacar se você já veio mais ou menos afinado de fábrica é se gravar cantando alguma coisa e se ouvir depois, por mais assustador que possa parecer. É só fazer pra você mesmo(a). Se sentir a necessidade, procure um coral ou um professor ou uma professora de canto, mas não pare de cantar.
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