O que engrandece o Heavy Metal é sua capacidade de ser tão forte quanto posturas e ideologias variadas. Muito se perdeu hoje em dia em relação a “atitude” visceral das bandas, vivemos numa época onde alguns problemas, que apesar de continuarem, como religião, imperialismo e preconceitos, já não são mais onipotentes como antes. A propagação cultural passou a ser uma arma usada pela música pesada para levar até seus ouvintes fatos e questionamentos que por fim acabam enforcando a ignorância de seu público.
Uma banda que sempre fez de suas músicas verdadeiras aulas de história é a Dorsal Atlântica. Capitaneada com mão contestadoras por “Carlos Lopes”, o grupo é um dos mais importantes do estilo no Brasil, que funde pioneiramente Hardcore, Punk e Metal. As letras são compostas sobre o verniz da crítica, religiosidade e política, destrinchadas usando uma camada cavalar de Riffs e cantos envolto em ira e poesia.
Falar da Dorsal Atlântica é sempre um privilégio pra mim, seus discos ajudaram a formaram minha consciência política e critica. Lembro-me com orgulho de assistir Carlos Lopes cantando a pleno pulmões clássicos como “Guerrilha” e “Tortura” no saudoso Monster of Rock de 1998 ao lado de nomes como Megadeth, Slayer, Manowar e Saxon.
Saiba mais sobre o evento:http://52.67.137.196/monsters-of-rock-o-saudoso-evento-de-1998/
Com seu lugar garantido no olimpo do Heavy Metal nacional, em meados dos anos 2000 a banda decide encerrar suas atividades, voltando a ativa somente em 2012 com a ajuda de seus eternos fãs (assim como eu), através de um financiamento coletivo (Crowdfunding), lançando assim o ótimo álbum “2012”.
A boa repercussão e principalmente a resposta dos fãs que contribuíram massivamente para a realização do trabalho incentivou a Dorsal Atlântica para mais uma empreitada, desta vez chamada “Imperium”, que trata sobre a monarquia no Brasil traçando um paralelo entre essa época e o período atual.
Semelhante a seu disco anterior, onde vários acontecimentos da História do Brasil foram usados como temas nas canções, em “Imperium” de forma conceitual, a banda narra a transição do Brasil Império para o Brasil República, usando como “base” uma história fictícia envolvendo o imperador (Victor II), um republicano (Thomas Echt) e sua esposa (Rose), num triangulo amoroso.
https://www.youtube.com/watch?v=2co8wZ7PjHY
O que chama a atenção de imediato nas letras do álbum é a forma didática expressada por Carlos Lopes, que foge do usual, dando ao enredo um ar mais pragmático. Musicalmente temos um Dorsal “digno da coroa”, por conseguir uma amalgama linda entre o som atual e sua “pegada” característica tradicional, enriquecidos com detalhes criativos que nos transportam de imediato para o conceito do disco.
Não posso deixar de citar a gravadora “Heavy Records” que caprichou na arte da capa compondo a mesma num formato dos antigos Compactos Simples de vinil, os saudosos singles de 7 polegadas. O encarte também é bem criativo, imitando o design de um jornal do Brasil Imperial. Um show de bom gosto e capricho.
Mais uma vez a Dorsal Atlântica nos presenteia com uma obra criativa, critica e cultural, provando que o Heavy Metal é sim uma fonte de conhecimento e que através de acordes e riffs podemos educar ao mesmo tempo que “chacoalhamos nossas cabeças”.
Indispensável.
Faixas:
Ave Imperium (Intro)
Imperium
Amaldiçoados
Mestres (Ficam Cegos, Surdos São os Servos)
Crise (Anunciada Antes da Verdade Revelada)
Grotesca Essa Terra É
Centro, Direita, Esquerda
Deus Que Dança
Perfídia
Exilium
Vos Perdôo Me Perdoem
Ave Imperium (Grand Finale)
Integrantes:
Carlos “Vândalo” Lopes — vocal, guitarra
Claudio “Cro-Magnon” Lopes — baixo
Toninho “Hardcore” — bateria