Pelo menos esse é o ponto de vista da escritora alemã Brigitte Schön. Em seu livro “Bruce Dickinson Insights”, a autora traz interpretações sobre as músicas da carreira solo do vocalista.

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De acordo com Brigitte, Bruce Dickinson conseguiu passar todo o sentimento e as razões que o levaram a deixar o Iron Maiden, bem como seus futuros medos e incertezas. Acompanhem abaixo as linhas escritas pela escritora:

“Tears of the Dragon é a única música deste álbum que Bruce escreveu e compôs totalmente sozinho. Mesmo que você não deva simplesmente associar o autor com o personagem do poema, provavelmente nesta canção nós precisamos admitir um grande grau de identificação. Baseado neste pré-requisito, Bruce expressa o conflito interior que ele sentia naquele momento.

Nas duas primeiras estrofes, Bruce descreve sua situação naqueles dias. Haviam coisas que ele não se atrevia a revelar, porque, em sua opinião, os outros não entenderiam realmente. Dando uma olhada na vida de Bruce naquele momento, ele realmente tinha tudo o que poderia sonhar. Mas, aparentemente, muitas pessoas não mais o consideravam como a pessoa Bruce Dickinson; invés disso, ele era apenas visto como o vocalista do Iron Maiden. Parece que ele não estava mais disposto a aceitar suas excelentes performances vocais como sua única fonte de respeito. Mesmo suas contribuições com letras e composições para os álbuns do Iron Maiden pareciam ser insuficientes aos seus olhos. Talvez, a razão disto era que as outras pessoas que estavam em contato com ele não tinham isso em mente. Bruce queria provar do que era capaz, para conseguir merecer respeito.

Mas como ele poderia saber se seu primeiro álbum solo, seus dois livros, suas aparições em documentários da BBC ou sua apresentação como convidado na MTV eram apreciadas por que eram boas por si só? Ou era seu trabalho apenas respeitado porque o nome do vocalista do Iron Maiden estava na capa? Talvez foi isso que Bruce pensou, entre outras coisas, quando ele mencionou: “Eu não gosto de ser famoso (…), isso apenas desvaloriza tudo.” Você consegue tudo o que quer – merecendo ou não. Pilotar e esgrima pouco tinham a ver com seu trabalho como músico, então há uma boa chance de que ele teria sido aceito como um anônimo nesses meios. Mas isso ainda não era o bastante. Teria que haver muitas outras oportunidades para se aproveitar, uma vez que ele estivesse fora da rotina da banda. Bruce tinha que deixar o Iron Maiden se ele quisesse alcançar realização pessoal. Em Tears of the Dragon, nós temos a sensação de que ele achou esta decisão uma muito difícil.

A metáfora que Bruce emprega nas linhas 5 e 6 expressam que ele buscava uma saída, primeiramente, sem saber exatamente qual direção seguir. Ele estava sofrendo mais e mais, então uma solução tinha que ser encontrada. Mas qual motivo ele deveria apresentar para sua decisão iminente quando ela era baseada em um sentimento que ele tinha? Quando e onde ele anunciaria sua partida? A porta simboliza uma abertura cheia de esperança para uma nova vida, um recomeço. Ele esperava pela chegada do “winter sun” (sol do inverno), bem como pela “cold light of day” (fria luz do dia) – ambas metáforas para seu desejo forte de colocar de lado suas emoções tão fortes e agir de modo mais lógico. Naquele momento, ele ainda estava passivo, esperando por uma solução. Ainda mais, a preocupação com a reação de seus colegas é perceptível. Eles não acharam a hora e lugar conveniente, no fim; estavam no meio da turnê Fear of the Dark. Nesta música, ele expressa o aumento de estresse; Bruce desejava ter saído imediatamente, mas ele não podia; por razões de justiça, ele terminou a segunda parte da turnê. Os membros do Maiden (exceto Janick) o criticaram, depois, dizendo que suas performances apenas foram boas nas apresentações mais prestigiosas e com grande atenção da mídia, e decaindo para incoerentes e sem sentimento, no restante do tempo. Nesta música, Bruce declara que havia um tipo de medo, literalmente o paralisando às vezes. Talvez ele tenha falado sobre isso com Steve Harris brevemente sobre isso, antes da reunião em 1999. É bem provável, no entanto, que ele não tenha falado sobre isso com ninguém durante a turnê de 1992. O resultado foi que seus colegas de banda obviamente se sentiram traídos, enquanto Bruce se sentia, talvez, incompreendido, consequentemente criando atos de rebeldia, como se distanciar do Maiden e tentar menosprezar seu passado após sair da banda – um círculo vicioso.

No refrão, Bruce descreve o sentimento que tinha quando sua partida foi definida. Ele mergulharia no desconhecido (“the sea” [o mar] como uma metáfora para vida e futuro) – um passo que ele tinha medo de dar. Para superar esse medo, ele teve que se deixar cair, deixar que a onda o levasse. A personificação do dragão ilustra que a separação e o modo como tudo aconteceu significaram algo profundamente triste para Bruce. É bem sabido que animais, e entre eles o dragão (mesmo sendo um animal imaginário), são incapazes de chorar. O fato de que um poderoso animal feroz como este derrame lágrimas enfatiza o conflito interior de Bruce. Ainda mais, o dragão é um símbolo da natureza indomável, caos e sabedoria oculta – o inconsciente. Com as lágrimas, o inconsciente se torna manifesto. Para todos os intentos e propósitos, e a seus colegas de banda (e talvez os fãs, também), e a si mesmo que ele dirige quando o personagem da música afirma que o dragão chora por ambos.

No terceiro e quarto versos, Bruce dá as razões para sua decisão. Ele metaforicamente descreve o personagem como tendo asas, porém incapaz de voar pelos céus. Ele estava impedido de se desenvolver como havia desejado. Bruce sentia seu potencial, mas não podia explorá-lo. Ele tinha sentimentos amargos mas não era capaz de demonstrá-los. Então, ele congelou suas emoções para conseguir controla-las. Mas elas se tornaram muito poderosas, e explodiram. Bruce perdeu o controle delas, o que lhe dava medo. Essencialmente, a metáfora das paredes se desintegrando significava o mesmo que “icy lake” (lago congelado). Bruce não queria, ou não era capaz, de admitir seus reais sentimentos. Por conseguinte, ele os trancou por trás de paredes grossas. Mas então suas defesas entraram em colapso conforme suas emoções ganhavam força. Então, conforme o gelo derretia, a água começou a subir e sua vida continuava, o levando junto. Do ponto de vista de Bruce, isso expressa a incerteza de seu futuro naquele momento, expondo seus medos com o objetivo de superá-los.

Após o segundo refrão, há uma sessão instrumental. A música até então calma e lenta muda para um ritmo mais rápido, pesado, enfatizando o turbilhão interno de Bruce. No alto do riff de guitarra, a música se transforma abruptamente em um tipo de reggae, fácil e relaxante. Todas as peças entraram em seus lugares, a decisão foi tomada e Bruce parecia se sentir como que livre. No entanto, na estrofe seguinte, ele acentua, através de uma anáfora (a repetição do advérbio slowly [lentamente]), que a decisão não foi uma tomada repentinamente. O personagem acorda gradualmente e ascende à condição de sua armadilha, o que a considerava. As barreiras não entram em colapso, mas esfarelam-se. Quando a água começa a subir lentamente, seu escape é iminente. Significa que, neste contexto, ele ainda estava passivo até o momento em que ele se deixou flutuar. Então, novamente, o refrão é repetido, e agora o personagem se torna ativo e mergulha na correnteza. Bruce finalmente enfrentou seus medos e deixou o Iron Maiden. Nesta música, bem como deixando aquela situação incômoda para trás, Bruce também parece se esforçar em explicar seus motivos para seus colegas de banda e fãs, que se sentiam abandonados.”