Resenha: Nervosa – Perpetual Chaos (2021)

Quando uma banda tem a saída de integrantes importantes, dificilmente os remanescentes conseguem substituí-los com outros do mesmo nível, raras exceções acontecem no meio da música. A tarefa de formar um novo time com a mesma pegada, energia e entrosamento é tão difícil que faz muitos desistirem de continuar com o trabalho, mas com a banda que falaremos, isso está fora de questão.

Hoje, estamos aqui falando de uma das bandas que mais representa o Metal nacional nos dias de hoje, a Nervosa. Após uma ruptura drástica no início de 2020, onde Fernanda Lira (baixo e vocal) e Luana Dametto (bateria) deixaram a banda, Prika Amaral, líder e guitarrista, se viu sozinha com a responsabilidade de continuar o legado da banda. Foi aí que a mesma agiu rapidamente e reuniu um time com três meninas que estão em constante crescente na cena: Diva Satanica como vocalista, Mia Wallace no baixo e Eleni Nota na bateria.

Mesmo com os problemas de pandemia atrasando o lado de todo mundo, as meninas se reuniram em agosto de 2020 em Málaga, Espanha, no estúdio de Martin Furia, o Artesonao Studios. Ali começava a produção e gravação de um dos discos mais esperados para 2021: “Perpetual Chaos“.

Agora vamos ao que importa nessa resenha, a música. Logo de cara, uma porrada na sua cara, “Venomous” vem com uma fúria incrível em seus riffs, com Diva fazendo um vocal mais rasgado e agudo do que o que estamos acostumados a ouvir ela cantar no Bloodhunter, onde usa o gutural extremo. Eleni simplesmente destrói seu kit, atacando os bumbos e fazendo viradas espetaculares — aliás, preste atenção nela em todas as faixas.

Guided By Evil” já é conhecida, primeira mostra da nova formação. Seu início tem aquele riff que lembra muito o Black Sabbath que logo se transforma em um Thrash violento. Uma música que representa bem a proposta do álbum. A faixa-título digamos que é cadenciada, com uma intro de bateria forte que lidera a faixa acompanhada dos riffs certeiros de Prika.

Temos duas participações de grandes nomes do Thrash. Primeiramente, Schmier, vocalista do Destruction, dá sua graça em “Genocidal Command“, em um dueto espetacular com Diva, cada um em seu estilo único que casou perfeitamente com a agressividade e obscuridade da faixa. Em “Rebel Soul“, Eric A.K. (Flotsam & Jetsam) empresta seus agudos limpos para mais uma parceria perfeita. A faixa parece até um tributo ao Motorhead por sua semelhança instrumental, se não for, passa a ser em minha concepção. Além dos vocalistas, Guilherme Miranda, guitarrista do Entombed AD e Krow, faz parceira com Prika em “Until the Very End“.

Mesmo mais voltado ao Thrash, o álbum ainda conta com influências de outros estilos, como o Punk em “Time To Fight“, o que transforma a faixa em um baita Crossover. O Death Metal está bastante presente e diversas passagens nas faixas, mas em “People Of The Abyss” é predominante, com Diva sendo mais incisiva nos guturais e Eleni abusando dos Blast beats e pedais duplos. Ainda o Doom Metal aparece em alguns riffs, como na própria intro de “Guided By Evil” e também na incrível faixa “Godless Prisioner“, que alterna levemente o andamento do tempo em sua execução, o que achei bastante interessante. A afinação mais baixa das guitarras e baixo também ajuda a ter esse timbre mais pesado e sujo do estilo.

Blood Eagle” é uma que lembra bastante o que a banda fazia no primeiro álbum, “Victim Of Yourself“, com alguns coros no refrão e os riffs abafados em certas partes. “Pursued by Judgemente” é outra nesse estilo que remete mais ao “Agony” pela sua estrutura. Como destaque final, “Under Ruins“, que fecha o álbum com uma agressividade incrível, volta com aquela pegada Death Metal e deixa a sensação de que deveria ter mais uma faixa.

Com um time desses era impossível sair algo ruim, e a Nervosa realmente surpreendeu positivamente criando o melhor trabalho da banda, uma álbum firme e bem estruturado, com tudo bem encaixado e com todas as meninas dando o máximo em suas performances. Diva mostrou uma versatilidade tremenda nos vocais, que se adaptaram bem ao Thrash. Eleni me conquistou de uma forma mágica, ela toca como um monstro, com uma pitada de Lombardo e um temperinho de Joey Jordison, realmente merece destaque a moça. Mia Wallace sabemos que uma baita baixista, mas aqui pareceu fazer apenas o básico, talvez a mixagem tenha deixado o baixo menos potente, você o percebe na audição, mas ainda assim não fez a italiana brilhar como as companheiras. Talvez esse seja o único ponto fraco do álbum.

Prika dispensa comentários, sua competência e garra são acima da média. Seu timbre agora mais do que nunca se tornou uma marca, essa afinação baixa deixa tudo mais pesado e com uma identidade tremenda. Sua força de vontade e determinação de remontar a banda e lançar um material com essa qualidade em tão pouco tempo é digna de aplausos.

Agora a Nervosa definitivamente deixou o seu passado para trás e trilha um caminho para um futuro mais do que brilhante. Ouça “Perpetual Chaos” com volume no talo, um álbum direto, rápido e com performances esmagadoras. Ainda há uma faixa cantada em português cantada pela Diva na versão brasileira do CD e Vinil, então, espere por mais.

Perpetual Chaos — Nervosa
Data de lançamento: 22/01/2021
Gravadora: Napalm Records

Tracklist:
01. Venomous (03:46)
02. Guided by Evil (03:30)
03. People of the Abyss (03:27)
04. Perpetual Chaos (03:39)
05. Until the Very End (feat. Guilherme Miranda) (03:18)
06. Genocidal Command (feat. Schmier) (02:56)
07. Kings of Domination (03:41)
08. Time to Fight (02:32)
09. Godless Prisoner (03:19)
10. Blood Eagle (03:41)
11. Rebel Soul (feat. Erik Ak) (03:17)
12. Pursued by Judgement (03:27)
13. Under Ruins (03:57)

Formação:
Prika Amaral (guitarras);
Diva Satanaica (vocais);
Mia Wallace (baixo);
Eleni Nota (bateria).

NOTA 9,5
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