“Metal Além da Música” é um quadro criado pelos redatores Jéssica da Mata e Renan Soares com o objetivo de falar dos principais estilos dentro do Rock/Metal. A proposta é abordar características peculiares, estilo visual, ideais e mais. Como diz o título da coluna: Metal Além da Música!
O Rock e o Metal são dois dos maiores gêneros musicais que surgiram com o propósito de “protesto”, marcando a sociedade através das décadas com seu visual e atitude. Com o passar dos anos, foram aparecendo novos estilos e vestimentas especificas, e com eles, ideais sobre diversos assuntos, como política, sociedade e religião.
Punk, grunge, gótico, emo, são alguns dos estilos que vocês conhecerão por aqui, desde o seu surgimento, características, convicções e curiosidades.
Hoje, falaremos de um dos movimentos musicais mais amados e polêmicos dentro do universo do Metal, principalmente no meio underground, tendo dado o que falar principalmente nos anos 80 e 90, quando começou.
Como muitos sabem, o estilo de Black Metal é um daqueles que ou você ama, ou você odeia, e isso ocorre não apenas por motivos musicais, já que entre todas as vertentes do Metal, esse é a que tem a questão ideológica mais forte e evidente.
Então, para entender um pouco esse universo do movimento do Black Metal, comecemos do início.
O termo “Black Metal” surgiu primeiramente nos anos 80, principalmente por conta da banda inglesa Venom, que em 1982 lançou um álbum com esse nome. Outras bandas pioneiraa também foram a sueca Bathory, e a suíça Hellhammer (que posteriormente virou Celtic Frost).
Nessa primeira onda, o que caracterizou o estilo foi a sonoridade pesada, suja, acelerado, com atmosfera sombria e com guturais mais rasgados, que virou a principal base para as bandas que viriam, isso tudo juntando com letras que falavam de satanismo, anticristianismo e paganismo (principalmente referente a mitologia nórdica).
Apesar dessas bandas ainda não se utilizarem dos famosos corpse paints, ainda assim a parte visual já possuía características bem marcantes, como o uso de pentagramas e a imagem de um bode (sempre fazendo referência a entidade Baphomet) em suas artes, e a utilização de vestimentas pretas, muitas vezes de couros, e braceletes de espinho.
Mas o momento mais marcante do Black Metal veio nos anos 90, mais especificamente na Noruega, com o surgimento do famoso Inner Circle, sendo composto por bandas como Mayhem, Burzum, Darkthrone, Immortal, e algumas outras.
É aqui, na Segunda Onda do Black Metal, onde encontramos as histórias mais “cabulosas” do movimento, principalmente envolvendo as bandas Mayhem, liderada na época por Euronymous, e Burzum, projeto do polêmico Varg Vikernes. Nessa época, foram adicionadas a parte visual os famosos corpse paints (que são maquiagens que tem a intenção de passar a imagem de cadáveres em decomposição), e todos os elementos anticristãos possíveis, como a cruz invertida.
Além da maioria dos integrantes das bandas passarem a se autodenominar através de pseudônimos satânicos, se utilizando de linguagens de tribais antigas para nomeá-los, alguns exemplos são o Cronos (Venom), Quorthon (Bathory), Abbath (Immortal), Shagrath (Dimmu Borgir), e outros. Essa prática é algo que já vinha desde a Primeira Onda do movimento, originária na Inglaterra.
Chegando finalmente na questão ideológica, muitas bandas do Inner Circle não só pregavam, como também praticavam o satanismo e o anticristianismo, inclusive realizando rituais, e principalmente, queimando igrejas, sendo a cena do Black Metal norueguês sido responsável pelo incêndio de diversas Igrejas principalmente na cidade de Oslo, capital da Noruega.
Em outros casos, como o de Varg Vikernes, os integrantes se consideram pagãos (não exatamente satanistas), mas ainda assim defendiam a expulsão do cristianismo da Noruega, argumentando que o país deveria seguir a sua religião original, baseada na mitologia nórdica.
Mas, a queima de igrejas ainda era fichinha para outras coisas que aconteciam no Inner Circle, sendo a história mais bizarra a referente do suicídio do vocalista Dead, do Mayhem, o qual o mesmo tirou a própria vida com um tiro de espingarda, tendo o guitarrista Euronymous tirado uma foto da cena e a colocado na capa do álbum “Dawn of the Blackhearts”, de 1995 (e se você estiver curioso para ver a capa em questão, procure no Google, pois pelo teor gore eu não a colocarei aqui). E como se não bastasse, ainda há boatos de que Euronymous teria feito sopa com os miolos de Dead, e um colar com pedaços do crânio do mesmo.
E para carimbar ainda mais isso tudo, tem o fatídico assassinato de Euronymous ocorrido em 1994, cometido por Varg Vikernes, tenho o músico do Burzum apunhalado o guitarrista do Mayhem com “apenas” 20 facadas, tendo lhe rendido uma pena de 21 anos de prisão, a qual ele recebeu rindo em pleno tribunal.
Atualmente, o Black Metal ainda mantêm bastante o teor satanista, pagão, e principalmente anticristão, em suas temáticas, mas sem chegar ao extremo de queimar igrejas, em alguns casos os integrantes realmente acreditam naquilo que falam em suas letras, e em outros toda essa questão visual é usada apenas como estética. Além disso, boa parte da cena Black Metal é defensora de que a vertente deve sempre permanecer em sua essência no underground, sempre criticando tudo que vier do chamado “mainstream”.
O movimento também criou algumas variáveis, essas as quais são bastante criticadas, cada uma por uma razão especificamente. Uma delas é o Symphonic Black Metal, representado principalmente pela banda Dimmu Borgir, um dos nomes mais conhecidos vindos da cena da Noruega. Como o nome já diz, essa ramificação se diferencia do Black Metal Tradicional por adicionar elementos do Metal Sinfônico, como teclados e elementos de orquestras, sendo em alguns casos um som mais bem trabalhado, o que faz os adeptos mais “raiz” do movimento torcerem bastante o nariz.
Outra ramificação é o chamado Unblack Metal, que é o contra ponto do Black Metal Tradicional, sendo essa a vertente cristã, onde as bandas desse estilo pegaram todas as características sonoras e visuais do movimento original, mas dessa vez falando em favor do cristianismo e contra o satanismo. Não preciso nem dizer o porquê que essa variação do movimento é polêmica, né? (e não entrarei em mais detalhes sobre essa vertente especificamente porque futuramente teremos um ‘Meta Além da Música’ sobre White Metal)
E a mais polêmica de todas é o chamado Black Metal Nacionalista, que é uma vertente cuja suas temáticas flertam com ideologias nazistas. Acho que não preciso falar mais nada dessa aqui, né?
No Brasil, o principal representante do Black Metal até hoje é a banda mineira Sarcófago, que surgiu junto ao Sepultura nos anos 80, tendo como principal disco o “INRI”, de 1987.
E encerramos aqui mais um “Metal Além da Música”, daqui a duas semanas estaremos de volta com a Jéssica da Mata falando sobre mais algum grande movimento existente dentro do universo do Rock/Metal.
Até a próxima!