Ozzy Osbourne: 40 anos de “Blizzard of Ozz”

Independente do que qualquer um possa pensar sobre predestinação ou coisas do tipo, vamos, apenas por um momento, fazer um exercício de imaginação. Mesmo que a ideia possa parecer absurda, vamos contextualizar que o conceito de que a morte é um evento pré-definido, cujo dia e hora de acontecer esteja de alguma maneira “escrito”, seja algo fático. Se assim fosse, então todos os eventos que levaram Ozzy Osbourne a sair do Black Sabbath e iniciar uma carreira solo foram manipulados pelo destino. E tinham que ocorrer o mais rápido possível, porque Randy Rhoads teria pouco tempo na Terra e seu talento precisava ser escancarado para o mundo.

O que poderia ser mais expositivo, para o guitarrista em começo de carreira, do que ser o parceiro de um artista que já era uma lenda? Não obstante o Quiet Riot ser uma banda promissora, eles não eram uma vitrine ampla o suficiente para Randy. A mão do destino foi hábil e fez com que Ozzy não apenas encontrasse Randy, mas também se unisse ao talento do baixista Bob Daisley para juntos comporem as canções de um disco que – levando em conta que iria colidir de frente com a estreia do Sabbath com seu novo vocalista – não poderia ser menos que espetacular.

Licks de guitarra, arpejos e quetais são conceitos que importam, mas que jamais poderão sobrepor-se a emoção de qualquer garoto que teve oportunidade de escutar o disco na época de seu lançamento. Hoje, passados 40 anos, continuam exercendo o mesmo poder emotivo, seja sobre aquele garoto de outrora ou sobre os novos ouvintes. Aquele som monstruoso de guitarra, aquele riff de “Crazy Train”, semelhante ao som de uma locomotiva que começa a se mover. Randy já surgiu no cenário ocupando um assento junto aos maiorais da época, gente do quilate de Glenn Tipton e Michael Schenker.

Mas se o assunto é riff monstruoso, esses já se fazem presentes logo aos primeiros segundos do disco, em “I Don´t Know”. Também nessa abertura já dá para perceber que Ozzy estava em ótima fase, sem qualquer resquício de abalo por conta da mudança na carreira, muito pelo contrário. Todo o disco denota a sua personalidade já bem conhecida, emoldurada pelo aproach oitentista que caracterizaria o seu modo de fazer música daí em diante. Tão oitentista que, por exemplo, a melancólica balada “Goodbye to Romance” não caberia em nenhum disco do Black Sabbath, mas soa perfeitamente bem inserida aqui. Esse momento de breve calmaria é seguido por outro riff forte, quando “Suicide Solution” começa e, logo após, dá passagem para mais um grande clássico atemporal do disco – junto com “Crazy Train” – que é “Mr. Crowley”. É impressionante como o solo dessa faixa soa tão coeso com a canção, tão uno com a melodia. Depois da ótima “No Bone Moves” vem uma das minhas preferidas, “Revelation (Mother Earth)”, com sua excelente sequência final instrumental.

As demais músicas seguem esse equilíbrio. Ozzy não é, e nunca foi, um grande cantor, mas tem um timbre de voz peculiar e, de certa forma, criou uma escola. No entanto, o que ele tem de sobra é um carisma incomparável, capaz de causar inveja a muitos frontmen. Ozzy tem um controle tão grande sobre a plateia que ele não precisa fazer muito. Se ele levantar um braço, instantaneamente a multidão responde com o mesmo movimento. O mesmo destino que fez com que Randy tivesse o seu momento de brilhar antes de partir para a imortalidade, foi o que fez de Ozzy, um sujeito sem muitas perspectivas de vida, se tornasse o artista que é. A união dos dois não poderia jamais ter sido obra do acaso.

Blizzard of Ozz – Ozzy Osbourne
Data de Lançamento: 20/09/1980
Gravadora: Jet

Tracklist:
1 I Don’t Know
2 Crazy Train
3 Goodbye to Romance
4 Dee
5 Suicide Solution
6 Mr. Crowley
7 No Bone Movies
8 Revelation (Mother Earth)
9 Steal Away (The Night)

Formação:
Ozzy Osbourne – vocal
Randy Rhoads – guitarra
Bob Daisley – baixo
Lee Kerslake – bateria
Don Airey – teclado

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