Pearl Jam: 24 anos de “No Code”

Podemos chamar o 27 de agosto de Pearl Jam’s day, uma vez que além de “Ten”, o debut da banda, temos “No Code”, o quarto disco deles, comemorando data de lançamento, Embora seja um dos trabalhos menos inspirados da banda, devido a vários acontecimentos que falaremos deles mais abaixo, este disco marca um novo passo na carreira do quinteto de Seattle.

A banda vivia seu inferno astral: demissão do baterista Dave Abbruzzeze. Segundo a banda, este não estaria sabendo lidar com o sucesso. Seja lá o que esta explicação evasiva signifique, o fato é que a banda estava abrindo mão do melhor baterista que já tiveram em seu lineup, com todo respeito ao competente Matt Cameron, que ocupa atualmente o posto. A demissão de Dave ocorreu ainda durante as gravações do anterior, “Vitalogy”, e em seu lugar, Jack Irons acabou aceitando o convite que lhe era feito desde os primórdios da banda.

Some-se à mudança no lineup as tentativas frustradas da banda em se auto-sabotar: os caras estavam insatisfeitos com todo o sucesso e notoriedade que ganharam desde o disco de estreia. Então, não produziam mais videoclipes, haviam decretado boicote aos órgãos de imprensa especializados e o mais grave: simplesmente decidiram bater de frente com a Ticketmaster, a empresa que comercializava mais de 95% dos ingressos das casas de espetáculos dos Estados Unidos. A banda sobreviveu a isso tudo, sabe-se lá como.

Para completar, havia um clima de animosidade entre eles. Eddie Vedder, principal letrista, queria tomar as rédeas do grupo, o que quase pôs fim à banda, como veio à tona anos mais tarde, no documentário “Twenty”. Jeff Ament se demonstrou muito incomodado e chegou a considerar sair da banda que ele próprio havia fundado. Mas haviam boas notícias também: neste período, o PEARL JAM foi convidado para ser a banda de apoio de Neil Young. A parceria rendeu o ótimo “Mirrorball” e a banda lançou um single, chamado “Merkinball”, gravado durante as sessões com o músico canadense. Isso servia para matar um pouco da ansiedade entre os fãs por um material inédito,

Enquanto excursionavam com Neil Young, eles aproveitavam as pausas para compôr e gravar o aniversariainte de hoje. Foram utilizados três estúdios em cidades extremamente distantes umas das outras: o “Chicago Recording Company”, que como o nome sugere, fica em Chicago; o “Kingsway Studio”, em New Orleans, além do “Studio Litho”, em Seattle, cidade natal da banda. Novamente com a produção do velho parceiro, Brendan O’Brien. As sessões duraram dez meses, entre julho de 1995 e maio de 1996, Vamos destrinchar as treze faixas deste play:

Sometimes” abre o play e é uma breve balada com menos de três minutos de duração em que a voz de Vedder é o grande destaque em uma música com letra bem pessoal. Aqui o guitarrista Mike McCreaddy atua como tecladista. Uma das faixas com a veia mais Punk, “Hail Hail” é um dos destaques do play, muito embora o ouvinte consegue identificar a falta de técnica do baterista Jack Irons. Ele quase pôs tudo a perder, como em quase tudo que ele meteu a mão em sua empreitada pela banda.

Who you Are” é bonitinha, com elementos de World Music, enquanto que “In My Tree” é um dos pontos menos interessantes do álbum, uma faixa extremamente chata. “Smile” fez razoável sucesso nas rádios rock brasileiras e é bastante agradável. O baixista Jeff Ament aqui toca guitarra e Vedder ataca na gaita também, tendo relativo êxito.

Outra balada chega e esta não compromete: “Off he Goes”, onde apenas um violão e uma batida bem simples acompanham a suave voz de Eddie Vedder. Mais pegada Punk na excelente “Habit”, uma música que poderia perfeitamente estar em “Vitalogy”, sobretudo para substituir algumas das chatices que lá estão presentes.

A bela “Red Mosquito” e sua pegada mais sessentista, que seria o esboço da sonoridade mais influenciada no Progressivo que o PEARL JAM adotaria futuramente, é outro destaque do play. Por muito tempo esta figurou entre algumas das minhas favoritas. Outra vez a veia Punk se faz presente, na curta e chata “Lukin”, que é uma referência ao ex-baixista do MUDHONEY e MELVINS, Matt Lukin.

A parte final do álbum é composta por quatro músicas que alternam um álbum extremamente burocrático: “Present Tense” começa como uma balada, mas do meio para o final ela se desenvolve, ganhando um bom clima Rock And Roll. A divertida “Mankind”, ainda que com um Stone Gossard completamente sem a menor intimidade com a arte de cantar, mas a música é um Rock and Roll bastante interessante, engraçada pela entonação do guitarrista e também divertida.

As duas últimas faixas são completamente dispensáveis: “I’m Open” é a repetição de algumas coisas desconexas que o PEARL JAM inseriu em “Vitalogy”, uma faixa chata onde Vedder rercita os versos da letra enquanto um som irritante discorre por trás e “Around the Bend” é uma música em que Brendan O’Brien atua nos pianos, ajudando a banda, mas nem isso a impede de ser pedante.

Em 49 minutos temos um disco com poucos bons momentos, talvez refletido pelo inferno astral que a banda vivia naquela época. Lembro-me comprei no dia do lançamento e foi bastante decepcionante. Precisei ouví-lo repetidas vezes para que eu me acostumasse. Ele tem um pouco do disco anterior, como faixas mais Punks e muito de experimentalismo, numa tentativa de se distanciar cada vez mais do que foi produzido nos dois primeiros álbuns. Era notória a tentativa da banda de se lançar em outros caminhos. O futuro mostrou que a iniciativa, embora equivocada, surtiu resultados: o quinteto tornou-se ainda maior e tocaria cada vez mais em grandes arenas.

Se “No Code” foi o terceiro álbum seguido da banda a alcançar o topo da “Billboard” logo de cara, a insatisfação dos fãs também foi instantânea e logo o disco foi despencando neste chart e foi o primeiro disco da banda a não ser certificado com multi-platina. O álbum também alcançou o topo em países como Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Portugal e Suécia, além de 3º lugar na Áustria, Irlanda, Noruega e Reino Unido. Foi cerrtificado com disco de Ouro no Reino Unido, Platina nos Estados Unidos e Nova Zelândia e duplo Platina no Canadá e Austrália.

Enquanto musicalmente o álbum não agrada muito, ponto para os caras na arte da capa, feita pelo trio Eddie Vedder, Mike McCreaddy e Jeff Ament, em que é formada por um conjunto de 144 fotos Polaroid, que se parecem aleatórias. Dentro de cada cópia foram espalhados algumas destas fotos (N. do R: no meu há 8 Polaroid), contendo letras das músicas no verso, de maneira que, quem quiser ter todos, terá que comprar várias cópias e contar com a sorte. Não é novidade esse tipo de ação, o LED ZEPPELIN já tinha feito algo parecido em “In Through the Out Door”, de 1979 com imagens diferentes de um mesmo bar, espalhadas pelas cópias do álbum.

Como a banda tinha problemas para tocar nos Estados Unidos, a saída foi fazer turnês no restante da América do Norte e também na Europa. Tempos depois, eles reconsiderariam o boicote à Ticketmaster e voltariam a tocar nas casas operadas por esta empresa, para alívio dos fãs que estavam bastante insatisfeitos, Em 17 de outubro de 2014, eles tocaram o aniversariante do dia na íntegra, durante uma apresentação no estado de Illinois, como parte de seu extenso setlist.

Enfim, é um álbum que tem a sua importância mais pelo contexto histórico do que pela parte musical, é bem verdade, mas que vale a pena ser contado aqui. Obviamente que os fãs mais saudosistas como este redator que vos escreve irá torcer o nariz para este play, o PEARL JAM cometeu sim, alguns equívocos ao longo de sua longa carreira, mas é um exemplo de banda que se tornou gigante, mesmo dando murros em ponta de faca em diversos momentos.

No Code – Pearl Jam
Data de lançamento – 27/08/1996
Gravadora – Epic

Tracklisting:
01 – Sometimes
02 – Hail Hail
03 – Who You Are
04 – In My Tree
05 – Smile
06 – Off he Goes
07 – Habit
08 – Red Mosquito
09 – Lukin
10 – Present Tense
11 – Mankind
12 – I’m Open
13 – Around the Bend

Lineup:
Eddie Vedder – Vocal/ Guitarra/ Cítara elétrica/ Gaita e fotos Polaroid da capa
Stone Gossard – Guitarra/ Vocal em “Mankind”/ Piano
Jeff Ament – Baixo/ Guitarra em “Smile”/ Chapnam/ Polaroids em preto e branco
Mike McCreaddy – Guitarra/ Piano em “Sometimes”/ Polaroid
Jack Irons – Bateria

Special Guest:
Brendan O’Brian – Piano

Encontre sua banda favorita