Roadie Metal Cronologia: The Rolling Stones – Blue & Lonesome (2016)

Após o sucesso estrondoso da “A Bigger Bang Tour”, e sua conclusão em 2007, os The Rolling Stones tiveram o maior hiato desde os anos 80. Alguns ocorridos contribuíram para o “burburinho” geral que realmente a lenda tivesse encerrado atividades: as supostas sequelas que acometiam Keith Richards após a cirurgia cerebral (queda de um coqueiro em Fiji, Nova Zelândia), e a bombástica biografia “Vida”, onde Keith (ele mais uma vez!) polemizava assustadoramente sua relação com Mick Jagger ao longo da larga trajetória. Para muitos era O FIM, mas havia um detalhe importantíssimo: em 2012, eles fariam cinquenta anos de formação da banda. Iriam se reunir para pelo menos rememorar esse acontecimento?

CLARO que eles não deixaram o feito passar em branco. Arestas foram aparadas e cinco apresentações iniciais em Londres foram agendadas, com participação dos ex integrantes Bill Wyman e Mick Taylor, além de convidados diversos (Mary J. Blige, Lady Gaga, Gary Clark JR, The Black Keys). Logo depois em 2013, novamente saíam como de praxe em turnê pelo mundo (“50 and Counting Tour”), mostrando a costumeira forma que tanto impressiona as novas gerações, e SIM, “as pedras continuariam rolando”! A compilação “Grrr!” (com três músicas inéditas) foi lançada como parte desse processo celebratório, os shows eram incríveis, o sucesso era maior que nunca (esgotados em todas as datas pelo planeta), mas a pergunta que não queria calar: outro disco seria concebido nesse “retorno”?

Logo após o histórico show para um milhão e duzentos mil espectadores em Cuba (que gerou o fantástico DVD, “Havana Moon”), vazou na imprensa mundial que os caras haviam estrado em estúdio pra gravação de novo material. E a fonte estava exata, era isso mesmo, teríamos mais um álbum dos The Rolling Stones! A surpresa estava no repertório… Não seria um registro de canções inéditas, mas em uma espécie de “retorno as origens”, o repertório traria o BLUES, gênero gerador do AMOR responsável pela criação do bardo que se tornou uma das maiores instituições da música, e encabeçou versões da maior parte do repertório nos primeiros shows e discos.

“Blue & Lonesome” (vigésimo-terceiro na cronologia britânica e vigésimo-quinto na cronologia americana), onze anos (a maior lacuna entre os álbuns dos Stones) após o último registro “A Bigger Bang”, passa BEM longe de ser apenas um disco de covers. A emotividade e o vigor “transpirados” ao revisitar canções que formularam a identidade musical dos integrantes na pós-adolescência (o início dos anos sessenta), chega a ser comovente. A familiaridade com a vibe “bluezera” que sempre esteve incorporada e o repertório escolhido foi tão imensa, que as gravações duraram apenas três dias, no British Grove Studios, em Londres.

“Este álbum é uma demonstração clara da pureza de seu amor pela música, e o BLUES é para os Stones, a fonte de tudo o que fazem”, confidenciou o co-produtor Don Was. O resultado fez o disco entrar no hall dos favoritos, principalmente entre os fãs da nova geração! Por provavelmente não terem tido aceso a discografia inicial, a degustação teve sabor de repertório inédito. Foi um grande impacto, com muitas canções sendo pedidas para estar no set-list da turnê subsequente. O “toque de classe” foi a participação de Eric Clapton em duas músicas, mas enfim, VAMOS AS FAIXAS:

“Just your fool”, lançada em 1953 por Buddy Johnson, que também fez a abertura da maravilhosa incursão BLUES de Cindy Lauper (“Memphis Blues” em 2008), chega com a gaita atacando ferozmente em conjunto com o instrumental eficiente. Curta e pesada a experiência inicial! Em “Commit A Crime” (Howlin’ Wolf), que passou a ser uma das favoritas nos shows, a banda harmonicamente arrasa, com os vocais poderosos de Jagger destilando feeling. Mais um solo de gaita abrilhanta o resultado fenomenal deste registro! A terceira faixa é QUASE o nome do álbum. “Blues and Lonesome” (Litlle Walter) tem uma introdução incrível, para depois descambar em uma viagem repleta de lirismo. Mick (soberbo) e as guitarras “endiabradas”, ainda se deparam com mais um belo solo de gaita: “eu só queria fazer o solo de gaita corretamente, eu devo ter aprendido isso com Brian Jones“, denota humildemente.

Pareço estar sendo repetitivo, mas não tem como falarmos de “All Of Your Love” sem acentuar os fantásticos vocais. Jagger dilacera a alma neste relato emocional de perda amorosa lançado por Magic Sam, em 1957, com a banda destruindo em ritmo de jam-session. Primoroso! “I Gotta Go” (novamente Litlle Walter) tem uma empolgante levada rythm and blues que faz a transição para o primórdio rock’n’roll, na letra que denota uma despedida. Mesmo com o instrumental energético em coesão “mandando ver”, percebemos o excelente trabalho de Darryl Jones frente ao seu instrumento.

A sexta faixa “Everybody Knows About My Good Thing” (Little Johnny Taylor) tem a participação especial do lendário Eric ‘God’ Clapton, que arranha um slide guitar irrepreensível. Aliás, os solos de guitarra predominam lindamente, com o piano de Chuck Leavell liberando uma singela harmonia. Vale frisar a excepcional linha de bateria arrastada, onde Charlie Watts está impecável. Um dos singles de divulgação, “Ride ‘Em On Down” (Eddie Taylor), tem um excelente vídeo- clipe (carros, velocidade e transgressão, é o pano de fundo desse vigoroso rythm and blues) que realça a letra muito bem sacada na relação de dominação e negociação, em um instrumental que transborda adrenalina. Não a toa, foi alçada a condição de grande HIT desse disco!

“Hate To See You Go” (outro single de divulgação) mantém a vibe “r&b” com a base vigorosa, nessa releitura (a terceira no disco) de Litlle Walter, onde a gaita promove um “verdadeiro inferno” em sua resolução! Já em “Hoo Doo Blues” (Lightnin “Slim), a cadência dá uma baixada no andamento e se enche de groove, com a dupla de guitarras mais entrosadas do universo de Keith e Ronnie, em “duelo” com a harmônica de Mick, só falta “fazer chover” em seus instrumentos. Nesta próxima linha poética que divaga sobre a chuva, os Stones mostram porque se tornaram uma das maiores instituições do universo graças ao BLUES. Impressionante como a faixa “Litlle Rain” (Jimmy Reed) parece uma canção concebida de forma autoral, vemos fortes ecos característicos, que os levaram ao brilhantismo de seus momentos mais inspirados na longeva carreira.

O petardo fecha com duas canções do mago Willie Dixon. “Just Like I Treat You” tem uma irresistível levada rockabilly, é o momento mais “let’s dance” do disco, e onde o rock’n’roll que os levou ao estrelato se faz mais presentes. Excelente versão! E o encerramento é com uma “responsa” das grandes: “I Can’t Quit You Baby”, virou clássico no repertório do Led Zeppelin (um dos grandes hinos da banda!). Mas com o auxílio luxuoso novamente de Eric Clapton, “o bicho pega” literalmente, com as guitarras beirando as raias do SUBLIME e Mick parecendo estar “possuído”! Estupendo encerramento, a versão é de uma beleza que pode levar os mais sensíveis as lágrimas… Os músicos vibrando após o último acorde, só reforçam como essa energia emanou diretamente até nós!

“Blue & Lonesome” chegou “quebrando tudo”! O álbum estreou em 1º lugar no Reino Unido e em 4° lugar nos Estados Unidos. Posteriormente, venceu o GRAMMY de Melhor Álbum de Blues Tradicional (além de premiações das mais diversas). Não poderia ter sido diferente com os Stones simplesmente se divertindo e impondo toda a sua genialidade em revisitar canções que mudaram as suas vidas. Só não darei Nota 10, porque o ouvido menos familiarizado ou identificado a sonoridade BLUES e seus derivados, pode achar a experiência de doze canções um pouco cansativa.

The Rolling Stones – Blue & Lonesome
Data de Lançamento: 02 de Dezembro de 2016
Gravadora: Polydor Records

Tracklist:
1. Just Your Fool
2. Commit a Crime
3. Blue and Lonesome
4. All of Your Love
5. I Gotta Go
6. Everybody Knows About My Good Thing
7. Ride ‘Em On Down
8. Hate to See You Go
9. Hoo Doo Blues
10. Little Rain
11. Just Like I Treat You
12. I Can’t Quit You Baby

Formação:
Mick Jagger – Vocal
Keith Richards – Guitarra e Vocal
Ronnie Wood: Guitarra
Charlie Watts: Bateria

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